Nas relações humanas, tenho visto de tudo, tenho ouvido de tudo e vou-me confrontando com aprendizagens sobre os seres humanos a toda a hora.
Por mim, o mundo não era assim, com pessoas assim...era um mundo com pessoas inteiras, donas de si, que na sua existência e essência soubessem respeitar o outro na sua inteirice e não cá por metades ou apenas partes.
Isto das pessoas assim, não aceitarem que cada um é em si mesmo uma peça única, com todas as estranhezas ou riquezas que a definem, rouba a vida do seu bem maior e passa a entregar-nos o outro numa interpretação constante de quem eu acho que o outro é, com expectativas a serem goradas e desilusões a baterem à porta.
Desde quando é que no conhecer do outro, devemos nós partir do pressuposto de que o outro se mede por medidas semelhantes às minhas?
Que real interesse isso teria...?
Talvez tivesse contida em si a resposta de quem é que eu sou, isso sim. A resposta que eu busco no reflexo de mim nos outros ou do que idealizo ver de mim nos outros. Talvez seja a reflexão de que me procuro eu no outro e vou assim tentando obter respostas no "desenhar" das pessoas com quem me vou cruzando.
A verdade é que até podemos ter afinidades, sem dúvida. Até podemos ter valores morais semelhantes, padrões de cultura ou de comportamento idênticos mas, na realidade, na vida vivida no seu dia-a-dia, somos diferentes até à última célula (e talvez quase iguais em todas elas) e diferenciados desde o pensar, ao sentir, ao agir.
E, se conseguíssemos ver as pessoas assim talvez se tornasse uma tarefa mais fácil aprender a aceitar o outro por quem é, no que dá, no que não dá, no que o define, no que o inquieta, no que o apaixona ou torna curioso. Talvez conseguíssemos andar todos mais felizes, com menos desilusões, com mais amor verdadeiro dentro do peito, porque entendemos que o outro é assim e tem o seu espaço próprio, que não é definido por mim e pelos meus desejos ou vontades.
Talvez vivêssemos a magia de conhecer realmente o Outro, entidade completa e distinta de mim e das minhas projecções.
Há pessoas assim, que desiludimos ao sermos, porque apenas não somos quem eles julgavam que fossemos. Há pessoas assim, desejosas de nos aceitar, não sabendo como, querendo descobrir porque fascina, mas desertas também de realizar o sonho de nos transformar na pessoa que acham que somos, porque é dessa que talvez gostem mais. Ou, é essa que julgam gostar mais...
E se as pessoas fossem todas assim, a achar que as outras são...à medida dos seus sonhos e fantasias, então não havia pessoas, nem assim, nem de maneira nenhuma, porque as que havia nunca eram...
Ser amigo é uma trabalheira, ser companheiro mais ainda, porque o gostar e o amar tudo intensifica. Ser pai ou mãe, filho ou filha é um labirinto. Ter papéis e representações de nós mesmos uma tese de mil páginas...Ser Pessoa é complexo, lição inacabada. E ser eu, já é trabalho que chegue, ou não? Vamos lá ser quem somos e reconhecer os outros por quem são. Porque há pessoas sim, todas elas como são.