segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Encontros...

Estamos juntos, juntos há tanto tempo, vivemos a relação de conjunto e de família num tempo sem fim. Partilhamos filhos, uma casa, um carro, uma conta bancária, partilhamos uma vida vivida, num relógio na posse de alguém. É nossa tendência, e por mim falo, que sou mulher, esperar e planear a vida, nos seus momentos, tentar iludir ou criar a ilusão que temos tudo sobre controlo, e com estes truques em mente planeamos a todo o momento, exemplo…:

...estou no banho a pensar se ainda tenho amaciador na despensa, pois este está quase no fim, fazendo a nota mental de mais tarde ir verificar, se tenho o fiambre e o pão que preciso para as sandes dos lanches das crianças, penso a que horas vou entrar e o que quero fazer hoje, enquanto me visto penso no que preciso de levar para as modalidades desportivas dos miúdos e o que preciso comprar para conseguir fazer o jantar de logo. Lembro o pai de qualquer coisa que combinámos, ponho os meninos a comer, mando lavar dentes, pentear e vestir casacos, e lá vamos nós, pai e mãe, nesta dança articulada para realizar a Vida...

Este exemplo está muito aquém do que realmente se passou nestes minutos, pois de certeza que um maior número de elementos participaram nesta elaboração quase insana, de esquemas mentais de supostas organizações e planeamentos. Neste vício caímos e sem querer alargamos a muitas outras coisas que não precisam nada da nossa organização ou planeamento, e sim da nossa espontaneidade. Por exemplo:

...quero fazer jantar surpresa para o companheiro, arranjo quem fique com os meninos, planeio os pratos favoritos, planeio a roupa, os cheiros, as velas, a luz, a música, realmente um filme com um orçamento de realização para lá de um milhão de euros, tais são as vezes que tive de repetir as cenas até estar tudo perfeito e controlado. E quando o verdadeiro momento chega, porque assim tende a ser a vida, um dos muitos pormenores bem organizado e planeado pode falhar. E o momento que tinha tudo para dar certo, ocorre um erro no nosso computador, causando um "crash" no sistema, na maior parte das vezes azedando todos os sabores e aromas que se seguem, independentemente das tentativas do companheiro para ainda fazer funcionar o momento.

No meu trabalho, eu tento muitas vezes, à conta de ilustrações como estas, mostrar como muitas vezes momentos de encontro, tão cruciais para a relação de casal e de família, se tornam em momentos de desencontro e incompreensão. Nos nossos planos e agendamentos, temos de pensar que encontros dependem de disponibilidades muitas vezes surgidas do nada, e nós com o medo da imperfeição, adiamos momentos, para depois os vivermos de forma soberba e intensa, de uma forma perfeita e planeada. E este, é um erro crasso...deixemos que os momentos de encontro sejam quando são, que se multipliquem para que nos aproximemos, que nos façam viver o momento de forma intensa e com a alegria do não esperado, e, se sobrar tempo, e a Vida decidir colaborar, então, de vez em quando sonhemos com planos elaborados para encontros especiais, com a ressalva de que um ou dois percalços, por norma, não anulam um momento. Encontros, que nos reanimam, e que por momentos nos devolvem o relógio da Vida, da nossa Vida, e que nos permitem por momentos respirar fundo, sentir um abraço profundo e gostarmos...de mim, dele, deles, da Vida. Encontros que se repetem e reforçam laços invisíveis, que nos protegem. Encontros só nossos, que perduram no jogo da memória, em fotografias de álbuns fantasiados, que nos fazem sonhar e relembrar, saboreando momentos e afetos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

VAZIOS...

Entregamos tudo de nós, entregamos o nosso melhor, muitas das vezes levamos a nossa Vida a querer ser um alguém melhor do que somos, ou a querer agradar tanto aos e os outros, que nesses esforços imensos, desgastamos energias que não conseguimos repor sem muita dificuldade.
No meu trabalho, criei duas histórias, que ilustram dois tipos de entrega, uma que emite cheques sem cobertura, que muitas das vezes não voltamos a repor, de um banco que às vezes até desconhecemos, já para não falar da própria conta. Outra história fala da entrega desmedida de nós mesmos, sem cuidados nenhuns, sem proteção, e em que rebentamos uma bolha invisível que nos protege e rodeia, com múltiplas funções das quais também falo muitas vezes nos meus trabalhos, mas para a segunda história de hoje, só me interessa abordar o fenómeno que nos faz perder a cabeça e neste processo de entrega desmedida, desrespeitando a "bolha", me gasto e me anulo para preencher um espaço imenso.
As duas histórias de hoje, chegam sempre aos mesmos locais, pois os resultados de ambas são iguais...VAZIOS.
Nenhuma delas é simples, mas a última talvez seja a mais indomável, e muitas vezes demasiado enraizada, dificultando o processo de libertação.
Talvez a maior parte das pessoas que se entregam a uma relação, que queiram que funcione, se entreguem de corpo e alma. E se se entregam a várias? Se são companheiros, mas também são filhos, se são pais, mas também trabalham, se são amantes, mas também são amigos...querermos que todas estas relações, e as redes que se formam, funcionem "às mil maravilhas" e nos apresentem na nossa melhor forma, como naquela fotografia em que conseguimos ficar bem e gostar de nos ver, é sem dúvida colocar sobre nós um gasto energético imenso. Daí, eu dizer que começamos a emitir cheques sem cobertura, começamos a achar que "temos de", "não há outra maneira", "é o que esperam de mim", "não os quero desiludir", "eu consigo", e começamos a rodopiar à volta destes raciocínios de conquista para dar tudo aos outros, para que nós estejamos bem, e este rodopio é tal, que não nos apercebemos das dívidas e do desespero a que nos levamos. Pior, muitas destas reviravoltas fazemos porque queremos sentir que ao fazer tudo pelos outros também eles são capazes de fazer por nós, ainda que em moeda ou quantidade diferente, queremos sentir que ficamos preenchidos, repletos de satisfação e carinho de retribuição, mas quando isto tudo ou pouco disto acontece, e o gasto energético foi muito superior, isto deixa-nos não só de rastos, mas também com um vazio ainda maior, à sensação de que nos falta sempre algo, junta-se a sensação de não ter algo que chegue, e agora estou sem energia para nada. Esgotei a conta. Entrei no vermelho, mas não me hipotequei. Nesta história, se atentos, temos de (re)começar poupanças, e devagar, retomar ganhos, encontrar aqueles momentos só meus, em que reponho a energia, momentos que podem assumir um café à beira-mar, um beijo no rosto de uma criança, um banho sem tempo, tanta coisa, mas para mim, é assim, e assim equilibro a balança, e reponho de onde tiro.
Na segunda história sem querer deixamos que a barreira da lucidez que nos impede de nos hipotecarmos, não se apresente, e com esta ausente, o sistema de defesa entra em falha.
As histórias tocam-se, a diferença é que na segunda eu quero tanto não ter vazios, que além de me entregar na totalidade, sendo mais do que eu mesma, não tomo quaisquer defesas contra possíveis respostas, que mesmo não sendo ataques se forem desprovidos de entrega de algum tipo de sentimento que me preencha, e digo já que tal tarefa pode ser difícil, serão sempre recepcionados como feridas ao meu ser, desnudado naquele momento de qualquer proteção. Sonhador deixou-se ir à procura...dando tudo para encontrar, para preencher, não se defendendo, pois assim pode impedir qualquer entrega por mínima que seja, a bolha rebentou, e mesmo que o outro me dê algo, já não sinto, já não vejo, pois quase que me perdi no processo, e neste momento o Vazio é mais do que eu. Para o preencher preciso de me reencontrar e reconstruir uma barreira que me defende de mim e dos outros, tenho de gostar do que sou e do que vejo, e aceitando-me, receber o que me dão.
Este tema vai fazer com que eu vos fale em várias etapas e momentos...este será o primeiro.



Às vezes apetece-me desistir...

Na relação, temos todos os nossos momentos. Momentos de prazer em que nos olhamos nos olhos, e sentimos que o outro nos conquista, no dia-a-dia, nos seus gestos de prazer que até já podem ser gestos conhecidos de cor...Momentos em que sabemos de certeza absoluta que gostamos dos nossos companheiros, muito mesmo, mas se num improviso nos questionam, porquê? Vamos levar o nosso tempo a filtar toda uma série de informações, mal-arrumadas e confusas, que tendemos a organizar de forma que nem nós percebemos porquê, mas que no fundo nos asseguram a certeza de sentimentos que muitas vezes nem questionamos.
Na vivência da rotina, do quotidiano, das pequenas coisas da Vida, esses cantos já não muito organizados ou até arrumados, podem ficar esquecidos ou pelo menos arrefecidos, mas no meio de um processo de procura, de encontro, ou de reencontro, vão ganhando forma se deixarmos, e vão dando força para lutar em acreditar que todas as relações podem ficar melhores. Começou-se um caminho de reconstrução pelo qual vale a pena caminhar, pois todas as conquistas, ainda que pequenas são vossas, são suas...e daí, ainda que com alguns recuos, a caminhada pode continuar e com mais sentido, sem nada adormecido ou arrefecido. Eu sei, dá trabalho, mas pense num exemplo, exemplo de algo que saboreado nos preencha, nos encante, nos dê sentido à Vida e a quem somos, e que não nos dê trabalho. Não acredito que o consiga fazer.
A cada passo para trás, ou pausa, ou caminhada para o lado, pense na conquista, no fim, e pense em tudo o que já ganhou só porque tentou e não desisitiu. Pense que ao dar tudo por tudo, não desiste, e transforma o que não era bom, em possibilidades. Melhora o parceiro e melhora-se a si no processo.
Às vezes apetece-me desisitir, mas não deixo, acordo, e penso que foi um sonho mau, encontro o desafio de atingir o que quero, junto daquele que, mesmo que às vezes eu não saiba porquê, eu tenho a certeza de que quero e amo.