Estamos juntos, juntos há tanto tempo, vivemos a relação de conjunto e de família num tempo sem fim. Partilhamos filhos, uma casa, um carro, uma conta bancária, partilhamos uma vida vivida, num relógio na posse de alguém. É nossa tendência, e por mim falo, que sou mulher, esperar e planear a vida, nos seus momentos, tentar iludir ou criar a ilusão que temos tudo sobre controlo, e com estes truques em mente planeamos a todo o momento, exemplo…:
...estou no banho a pensar se ainda tenho amaciador na despensa, pois este está quase no fim, fazendo a nota mental de mais tarde ir verificar, se tenho o fiambre e o pão que preciso para as sandes dos lanches das crianças, penso a que horas vou entrar e o que quero fazer hoje, enquanto me visto penso no que preciso de levar para as modalidades desportivas dos miúdos e o que preciso comprar para conseguir fazer o jantar de logo. Lembro o pai de qualquer coisa que combinámos, ponho os meninos a comer, mando lavar dentes, pentear e vestir casacos, e lá vamos nós, pai e mãe, nesta dança articulada para realizar a Vida...
Este exemplo está muito aquém do que realmente se passou nestes minutos, pois de certeza que um maior número de elementos participaram nesta elaboração quase insana, de esquemas mentais de supostas organizações e planeamentos. Neste vício caímos e sem querer alargamos a muitas outras coisas que não precisam nada da nossa organização ou planeamento, e sim da nossa espontaneidade. Por exemplo:
...quero fazer jantar surpresa para o companheiro, arranjo quem fique com os meninos, planeio os pratos favoritos, planeio a roupa, os cheiros, as velas, a luz, a música, realmente um filme com um orçamento de realização para lá de um milhão de euros, tais são as vezes que tive de repetir as cenas até estar tudo perfeito e controlado. E quando o verdadeiro momento chega, porque assim tende a ser a vida, um dos muitos pormenores bem organizado e planeado pode falhar. E o momento que tinha tudo para dar certo, ocorre um erro no nosso computador, causando um "crash" no sistema, na maior parte das vezes azedando todos os sabores e aromas que se seguem, independentemente das tentativas do companheiro para ainda fazer funcionar o momento.
No meu trabalho, eu tento muitas vezes, à conta de ilustrações como estas, mostrar como muitas vezes momentos de encontro, tão cruciais para a relação de casal e de família, se tornam em momentos de desencontro e incompreensão. Nos nossos planos e agendamentos, temos de pensar que encontros dependem de disponibilidades muitas vezes surgidas do nada, e nós com o medo da imperfeição, adiamos momentos, para depois os vivermos de forma soberba e intensa, de uma forma perfeita e planeada. E este, é um erro crasso...deixemos que os momentos de encontro sejam quando são, que se multipliquem para que nos aproximemos, que nos façam viver o momento de forma intensa e com a alegria do não esperado, e, se sobrar tempo, e a Vida decidir colaborar, então, de vez em quando sonhemos com planos elaborados para encontros especiais, com a ressalva de que um ou dois percalços, por norma, não anulam um momento. Encontros, que nos reanimam, e que por momentos nos devolvem o relógio da Vida, da nossa Vida, e que nos permitem por momentos respirar fundo, sentir um abraço profundo e gostarmos...de mim, dele, deles, da Vida. Encontros que se repetem e reforçam laços invisíveis, que nos protegem. Encontros só nossos, que perduram no jogo da memória, em fotografias de álbuns fantasiados, que nos fazem sonhar e relembrar, saboreando momentos e afetos.
Olá
ResponderEliminarAdorei, também é para mim (nós) ?
beijinho
Obrigada
Rosario
Claro! É para todos. O lançamento à equipa é dia 16 de Março. Obrigada.
ResponderEliminar