Ver um filho crescer e querer ser ele próprio é a viagem mais bela para um pai, é ver uma obra que tem o nosso cunho, seguir caminho, vingar na vida, como uma árvore que cresce ao vento, moldando-se através das experiências que tem...
É ver um ser, uma pessoa, fazer-se, por si mesmo, ás vezes revelando o que tentámos ensinar, o que passamos pelos nossos próprios comportamentos, vendo neles trejeitos tão próprios e às vezes tão reflexos de um espelho nosso.
É aprender a ver de longe, a deixar ir, a acudir de perto, a querer impedir o sofrer, deles, e o nosso tantas vezes. É sorrir pelos sorrisos, é chorar pelas suas mágoas, é querer ser mais do que nós próprios para os trazermos pela vida ao colo, ao nosso colo, no nosso afago.
É querer saber o amanhã, para os ensinar hoje o que precisam, é ser posto à distância, ouvir o que não se quer, é dar espaço à revolta, dizer disparates na zanga, e logo de seguida sentir que tudo é nada, e nada é tudo.
Eles não nos chegam, fazem-nos falta e fazem-nos questionar todos os métodos de orientação que temos.
Fazem-nos saber que o norte não está sempre lá, fazem-nos saber que temos limites finitos e infinitos, que temos forças que desconhecemos , fazem-nos saber o que é resiliência e resistência.
No fim de cada troço, aventura, pedaço de caminho, respiramos fundo, e mesmo que o susto tenha sido grande, a certeza de um amor infinito está lá, mais do que escrita em pedra, escrita na pele, nas células que nos compõem, no sangue que nos corre na vida, tão certo, que independentemente do que façam, há espaço para perdoar, esquecer, tolerar, amar...amar muito.
Mas, bolas, é difícil saber, às vezes, tantas vezes, por onde ir, o que dizer, medir a liberdade, medir o castigo, ensinar e escolher as lições, dar e tirar, exigir ou receber...às vezes não se sabe, somos tão crianças imberbes quanto eles e, perdidos no estado adulto, onde devemos, temos de, saber o que fazer...lá de cima da experiência, sentimos-nos vulneráveis, sós na batalha, desorientados, porque andamos que nem loucos a correr na frente das suas passadas a aprender caminho, para podermos fazer com eles o deles.
Cada vez mais repito, nascemos pais quando nos nascem os filhos, experiência nula até então, teoria, talvez, até muita...modelos, alguns sem dúvida, mas andar nestas aventuras é como aprender seja o que for muiiiiiittttooooooooo complicado, só na prática é que se aprende. E a cada erro, aprende-se mais, e a cada técnica falhada, mais um pouco e mais um pouco.
Se chega? A mim não. Sou mãe de quatro, e renovo os erros a cada um...aprendo e reaprendo, mas não sinto a viagem tornar-se mais fácil.
Perguntam-me se é belo? Se repetia? Se tinha de novo?
Sim, sim e sim...
Mas, cada fase tem os seus desafios, e a adolescência é realmente, montanha russa. Como podemos num mundo em constante mudança, ajudar um ser que amamos desmesuradamente, a encontrar-se, ser feliz, amar-se e amar-nos, com um Norte certo, o seu, de modo a que não sinta que no processo de educar e não ser "amigo" (pois esse não vejo como sendo o meu/nosso papel) eu, enquanto mãe, ou pai, não os queremos asfixiar no nosso modelo, à nossa imagem, com os nossos valores.
Só queremos que num espaço, definido como família, casa, ninho...o amor vença, o carinho e a ternura superem tudo. Que saibam que os aceitaremos em pleno, como são, ainda que seja apenas um caminho de rebeldia para que se distanciem de nós, num movimento, talvez inato, de separação, de encontro com eles mesmos...mas, ao querermos que eles saibam isto, mas em simultâneo não querendo que sintam que não estamos lá, para educar, para moldar, passar testemunho, encontramos a resistência cega do querer crescer, do querer ser diferente de nós, do querer igualdade, os mesmos direitos que o adulto...e, talvez, não seja fácil, ser-se criança adulta ou um adulto criança...não há conforto em nenhum dos mundos, porque já não pertencem a um, mas também não pertencem ao outro, nos seus direitos plenos.
Têm de sentir que acatam as nossas regras, a nossa forma de estar, as nossas injustiças ao educar, os nossos erros, numa exigência da nossa parte, de muitas vezes se calarem ou não argumentarem contra nós.
Se lhes damos razão, perderemos autoridade? Não, mas podemos não conseguir chegar a. Se lhes pedimos desculpa, erramos? Não, mostramos-nos humildes na aprendizagem que temos de fazer com eles, e mostramos que somos capazes de ver onde erramos, mas, isso não nos aproxima deles...pode às vezes até fomentar mais rebeldia, zanga, revolta...
Como é possível um processo tão belo, ser tão complexo e difícil...tão culpabilizante, emotivo, desesperante às vezes.
Um processo que se recheia de amor, com o objectivo de dar amor, com o caminho traçado nas linhas do amor, e por vezes tão carregado de um extremo negativo de desapego e revolta.
Ser crescido não é fácil, e crescer também não.
Talvez funcione melhor, se conseguirmos juntar esforços e nos tornemos alunos do aluno, e eles, professores do professor.
Talvez seja ainda melhor, ou mais reconfortante, saber que todos os dias temos hipóteses de continuar, melhorar, reformular, pedir, dar, ensinar, mostrar...que todos os dias lhes podemos renovar os nossos votos de amor, de entrega e de vontade superior de os tornar em pessoas capazes de serem felizes.
Bem hajam os meus filhos, que me fazem estar em constante processo de reflexão, de querer ser melhor e me superar nos meus limites e defeitos. De poder ensinar o que não sei, aprender o que não tive, histórias todos os dias por escrever, em páginas brancas que se multiplicam.
Caminhemos, seguros que por amor, o caminho se faz.
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