Vivemos, relacionamo-nos, conversamos, pensamos e queremos acima de muita coisa sentir que nos amam e que temos um espaço nosso, que se encontra cheio de significado e que nos mostra para onde vamos...levamos parte da nossa vida a decidir o que fazer e para onde ir, já para não falar de com quem queremos partilhar esta jornada. Apanhamos um comboio, de início num fenómeno de "pára-em-todas", e vamos vendo paisagens que nos marcam, que nos entram pela retina e imprimem a ferro escaldante, mas que nos asseguram sermos quem somos.
Viagem esta que decorre com o seu ritmo próprio, com paragens e saídas, umas planeadas outras forçadas, mas que sem dúvida nenhuma, a partir de determinado momento, ganha tal velocidade que só muito raramente nos permite parar e comandar de novo o comboio. Chamo a estes momentos os momentos de encontro e desafio. Estou onde queria? Estou onde sonhei? Como cá cheguei? O que fiz? De que me arrependo? Será que deveria ter saido antes?
Estes momentos permitem-nos avaliar o Norte que seguimos e decidir se permanecemos onde estamos e se asseguramos o resto da jornada.
Sigam o meu exemplo...
Sou jovem, sonho um dia casar, estabelecer uma relação, talvez para a Vida, com o companheiro que considero ideal, com uma casa, com filhos, carro, férias algures, etc...acrescentem os sonhos que vos façam sentido.Quando sonho com tudo isto embarco num comboio só meu, depois partilhado com um alguém de minha escolha, e tomo rumo a um Norte que me guia, mas numa velocidade que deixa de estar ao meu controlo, a Vida é que começa a reger estes movimentos, os sonhos vão acontecendo, independentemente, de eu ainda os querer, é quase como que se estes tomassem vida própria e fossem acontecendo.
Quando dou conta, estou casada(o), e a viver onde fazia sentido (às vezes sem saber a quem fazia sentido). A casa compra-se, os filhos vão nascendo, e com a realização destes sonhos, surgem, pesos que nos forçam a seguir com o comboio, e talvez com muito poucas paragens. Às vezes a Vida ganha tal controlo, que me esqueço de ir vendo as paisagens ou de ir assegurando que o destino programado, que o Norte que me guia, é realmente aquele que me faz feliz agora, que me realiza agora...o comboio segue, a seu ritmo próprio, e apenas em momentos, às vezes escassos, é que me questiono. Mas tudo isto assusta, pois eu penso: e se me atrevo a pensar que quero diferente, que quero outro rumo, ou outro Norte?
Não tenham receio, façam estas paragens, e afinem a bússula...estes momentos de pausa, de questionamento, fazem com que eu assegure que continuo numa viagem que me faz sentido, num caminho de encontro comigo e com os outros...a viver os momentos de felicidade que a Vida me vai dando, e que eu vou conquistando.
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