segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amores doentes...

O meu texto de hoje é dedicado aquelas pessoas que gostam dos seus companheiros, que os amam, mas que se sentem sugados e presos na relação, e não sabem como resolver a situação...é quase que como que uma situação de abuso não planeado de uma das pessoas, por insegurança do outro, e numa dança, que a certa altura entontece, a relação permanece e adoece, e sofrem os dois. A estes, eu chamo amores doentes...


O amor não é só coisas boas...
O amor pode ser aquilo que de mais maravilhosos existe entre duas pessoas ou uma multidão, é um sentimento nobre e muitas vezes puro, mas quando mal gerido, acondicionado, arrumado, etc..., pode tornar-se num elemento doente ou que causa doença...

O amor na sua proximidade, pode fazer-nos esquecer que podemos ser nós mesmos, e que não precisamos de deixar de existir para sermos amados...mas às vezes nas nossas histórias, o outro, que nos ama, vai fazendo com que o meu eu, se possa perder, esconder algures, e depois embora lá no fundo o meu eu saiba que estou certa(o), e por muito que grite bem alto, fica preso na garganta, e no coração, e faz com que eu não consiga lutar para manter esse amor, mas mostrar ao outro onde eu estou, e o que me faz sofrer, se para amar eu não puder ser.

O sofrimento, às vezes vem dos dois lados, um lado porque não sabe ter, sem sufocar, o outro porque não sabe estar, sem se anular...os labirintos mentais que criamos e que nos justificam muitas das vezes atitudes menos saudáveis ou de entrega, fazem-nos perder dentro de nós mesmos, faz-nos desejar a liberdade, mas amar ao mesmo tempo, faz-nos desejar deixar, e ser incapaz de partir...o outro enraizou-se em mim, e mesmo nesta relação doente ou fusional, enciumada, eu não consigo ver claro, não consigo nadar para terra, pois é como que se dentro de mim crescessem algas que me prendem os pés, me tornam infeliz, mas não me permitem ou a liberdade, ou a sabedoria, para fazer o outro ver o que me faz.

Nos nossos comportamentos, criam-se rotinas, na nossa entrega criam-se confianças e inseguranças, e tudo isto entra em jogo, quando na relação eu me sinto menos, mas não quero sair, quero lutar, pois não quero falhar de novo...e nesta luta o outro, inseguro também, aproxima-se cerca-me, exige a minha dedicação total, e eu gritando em sons mudos, permito e sigo-o, pois não quero falhar, pois quero dar, pois gosto, mas...sofro intensamente...criamos entre nós um equilíbrio precário, sobre o qual não falamos, só discutimos, e depois em pazes mal-feitas, nada se resolve, tu dás-me umas flores, ou um vestido, eu dou-me a ti, prometemos não voltar a fazer, mas como não nos entendemos de um todo, os erros voltam, pois não houve discurso que apaziguasse as nossas almas, não houve entendimento dos erros que fazemos e repetimos vezes sem conta.

Carregamos esta relação como um peso na alma, e só de vez em quando, quando tudo está bem, somos felizes, e isso, nesse momento, é uma cola que nos une e explica o porquê de aguentar tudo o que é negativo, esses momentos, são a nossa borracha emocional, ai, eu e tu, sabemos porque gostamos, mas esses momentos às vezes são curtos ou começam a existir pouco, pois zangamos-nos, às vezes sem saber porquê...e não havendo esses momentos, mais inseguranças surgem, e deixa de haver espaço para os outros na nossa relação, só estamos bem, quando estamos sozinhos, e isso não é a a realidade, isso pesa-nos no coração, mas nós vamos em frente...

Para que alerto eu, alerto para um diálogo próximo, verdadeiro, onde ambos falem de vós, das vossas inseguranças, do que trazem do passado na vossa história, e que neste momento envenena ou adoece a vossa relação. Renovem os vossos compromissos. Digam um ao outro o que precisam da relação, e confiem, renovem essa confiança, com provas de afecto e entrega, não com superficialismos, que não valem uma palavra, quanto mais sentimentos. Partilhem o que sentem, e o que o outro vos faz sentir quando vos sufoca, quando vos anula...expliquem o que precisam do outro e o que estão capazes de dar.

Relembrem os bons momentos, e vejam porque é que conseguiram que fossem bons momentos.

Relembrem como a relação começou, e vejam o que mudou, e descubram o porquê ou o para quê, para discutirem como se protegerem dessas armadilhas.
Ajudem o outro a saber quem vocês são, a saberem o que sentem e o que querem, valorizem o outro, mas obriguem o outro a reconhecer o que valoriza em vocês.

Não permitam a "não conversa" ou a "não discussão", pois isso é um fosso numa relação que já está doente. Se realmente existir afecto e amor, a relação aguenta umas discussões profundas de mudança, a estagnação e a aceitação cega é que não vos leva à resolução dos problemas.

Com o tempo a angústia sobe, o descontentamento existe, a sensação de perda é tão grande que eu me vou sentindo cada vez mais só, ainda que em companhia, sinto que a relação é uma prisão, e em vez de perceber que com alguma determinação e vontade, mostrando respeito e auto-respeito, eu poderia levar o outro a ver comigo...

Eu vou pensando que não há escapatória e que a única solução é desistir, ou porque fico e já não espero nada, ou porque vou, de coração nas mãos, num vazio profundo pela falha que levo. Chegar a esta etapa, é por vezes não ter tentado, é por vezes ter permitido à relação seguir um rumo sem sentido, na esperança que se encontrasse, por si, e isso não acontece, a responsabilidade é dos dois, seja qual for o que está doente de amores...a responsabilidade é dos dois, no dia-a-dia, de tentar resolver na hora o que surge, não acumulando assuntos, roupa suja, que se empilha e não nos permite chegar ao outro sem mágoa.

Falem...discutam, muito. Partilhem o que sentem, e peçam o que precisam, isso é amar, não fazer isso, é estar indiferente e desistir, ainda antes de se ter perdido.

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