É caminho de etapas, de degraus e provações, mas com apoio de mãos e gestos visíveis e invisíveis...com cada um transportando a sua bagagem, pedra a pedra, no chão ou no sapato. Um faz e faz-se. Um carrega e descarrega...um põe em causa e segue, pede ou implora...mas, caminha.
A Vida, os filhos, os pais, as mães, os doentes, os sofridos, os presentes ou, os ausentes...tudo é motivo para que numa entrega pessoal, muito própria e íntima, cada um, no seu percurso, se dedique em fé à concretização de um troço, de um pedido, de processos de alma em entrega total, em plena consciência e dedicação.
Parte-se.
De cabeça fita na chegada, e no que se vai dar e pedir de viagem.
Amor transborda e gotas de apoio chegam, pelas mãos de quem se envolve, de quem, por um aceno, um sumo, uma maçã - cuida. Ouvem-se tilintares de chegadas...notas das novas tecnologias, que através de sons disfarçados de sorrisos, põem em contacto quem de longe envia força, desejos de coragem, de bravura e espírito de entrega.
De cabeça erguida, passos dão-se...vivem-se, e num calcorrear dedicado, às vezes frenético, vitorioso, outras vezes cansado e penoso, metros se conquistam e em silêncios que se encontram, escondidos entre as costelas do respirar, solidões rebuscadas no meio de tanta companhia, ajudam a que pensamentos se vão formando, pensares que nos acompanham, nos dedicam à missão e, a fé renova-se, e, com ganas de amor ou paixão, metros se passam, quilómetros de dedicação se somam, nas solas dos sapatos que não reconhecendo o caminho, o traçam em destino.
Seja pelo que for...em grupo, mas no entanto no respeito de se estar só, cada um trabalha as consequências das suas decisões, e de olhar colocado num alguém, numa imagem de força e exemplo, numa história que quero saber, caminho eu, caminham todos...em partilha próxima, extremada, mas em gritos de individualidade.
A cada momento, bem de dentro, vão passando, em pensamentos, em sentimentos, em pedidos, as razões do caminho...é impossível não pensar, não dedicar cada batida à pessoa que se materializa na retina escondida, na cortina que se abre e nos revela, a pessoa por quem de repente queremos bem, tanto bem.
E todos, muitos...aqueles que amamos, alimentam a fogueira, com paus, troncos ou brasas...o fogo que faz estas gentes caminharem de fito na alma, e amor imenso no coração.
A água é divina, apalada-se, aproveita-se...a comida saboreia-se de água na boca, em paladares requintados, e por nenhum ser humano alguma vez experimentado...as paisagens não são belas, são obscenas, invadem-nos numa explosão de sentidos...onde cheiros e cores se intensificam, as histórias, não se contam, fazem-se e vivem-se...a chuva agradece-se...as pessoas acenam-se e numa realidade surreal, afasta-mo-nos de uma vida comum banal, para um contacto com o humano, com os seus limites, com as suas provações, agradecendo o chão que nos acolhe, onde nos deitamos e "esteiramos" o corpo cansado...acabam-se as esquisitices da cidade, da rotina, do garantido...e passa-se a a ser agradecido.
A dependência nutre-se pela independência, o eu tem espaço e no entanto, pode tão facilmente ser esmagado pelo bem maior...não chego, nem caminho só...vou só, e caminho com...
Somos irmãos, unidos pelos pés de fé...caminhando até...
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