Reflexões...pensamentos que nos surgem ou invadem, pela e na, partilha de momentos com os outros e as suas riquezas interiores, as suas histórias e caminhadas.
Hoje vi-me confrontada uma vez mais com a ideia de que num casal, às vezes não conseguimos ver com os olhos do outro, não nos conseguimos recolocar, ganhar distância...e o que a mim me parece óbvio, ao outro pode estar escondido numa catacumba.
Falavam-me de um relacionamento, em que o homem, sempre que podia e não estava acompanhado dos filhos, ou a trabalhar, tentava falar com a actual companheira, quando ia ao lixo, quando os putos dormiam, quando ia às compras, e de repente, a mulher, a nova namorada, partilha comigo como se sentia excluída, como sentia que apenas era contactada nesses momentos, como se existisse a vergonha (ao ir ao lixo!!!!!), ou a não permissão para que não existissem caminhos paralelos, e sim um único.
O meu foco e a aprendizagem partilhada aqui, não é tanto o tópico em si, porque num casal poderíam ser mil ao infinito, mas sim a tentativa de ilustrar a importância da nossa visão, ou olhar sobre...
Bastou-me proporcionar uma diferente visão, não interpretativa e ajudar a pensar por outros caminhos, abrir a possibilidade de que provavelmente o homem ligava, em entusiasmo, sempre que podia, ou que estava só, para ter um momento intimo e para talvez até não ser interrompido, e talvez pudessemos pensar que NUNCA lhe tenha passado pela cabeça que o fazia por VERGONHA ou EXCLUSÃO, sentires muito fortes vivenciados por quem não conseguiu imaginar esta versão.
Poderia estar uma manifestação de respeito por detrás desta acção (independentemente de ser a caminho do lixo), e não falta dele. Poderia haver carinho, mimo (namoro escondido, privado) e não VERGONHA...aquilo que a um poderia parecer pouco e ainda por acréscimo fazer pensar em sentimentos de exclusão e vergonha, ao outro poderiam ser manifestações de carinho, desejo de em todas as oportunidades mais sós estar presente, marcar presença num namoro mais intimo.
Mais, não só nos carregamos destas possíveis interpretações, como depois não falamos sobre elas, não as esmiuçamos, não as levamos à paz...ficamos presos nelas, preenchemos os vazios com imaginação, por vezes não só fértil, como cruel, e na presença do outro já levamos um muro de mágoa, de defesa, de tantas sensações antigas e presentes, e nesta falta de diálogo muros e fossos crescem...ou, são atirados à cabeça do outro, que "morre" executado às mãos do carrasco, sem defesa anterior.
O nosso olhar carrega-nos com toda a nossa bagagem e inseguranças e pinta, tolda, enfeita, interpreta, julga. Por isso mesmo, é tão importante, olhar em 360º, olhar de cima e de baixo, olhar de dentro e de fora e, depois de tanto olhar, ir pedir que nos mostrem os outros olhares, aqueles que não são meus, porque nem sempre, na maior parte das vezes, "o outro" não faz mal de propósito, tem razões, justificações e olhares que vêem mais, mais além, mais de mim.
Deixar para trás o medo de pedir, de querer saber, de me mostrar vulnerável ou insegura...esclarecer.
Construir no diálogo e, olhem...
- Vamos sempre ligar, mesmo que ao ir ao lixo...se essa for a prova de amor.
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