Erros, quem os não tem?
Vontades de que alguém nos ame, intensamente, para sempre, e que nos dê o que
os outros não nos dão, quem não as tem?
Têm-me chegado histórias
de amor, interrompidas, por sustos a valer, ou por descuidos, que algumas
resultam na reunião de duas pessoas com as situações mais fortes e intensas que
antes, mas outras chegam com histórias de afastamento, ruptura, e separação,
por isso, quero hoje reflectir sobre estes mecanismos que nos fazem por em
risco os para-sempre, e que nem sempre assim deveria ser…
Estas situações
acontecem, na minha experiência em ambos os sexos, provavelmente com o mesmo
risco, não sendo mais de um lado do que do outro. Acontecem muitas vezes é por
razões distintas em determinados aspectos, mas muito iguais noutros…
Quer a mulher, quer o
homem, não suportam sentir que o respectivo companheiro, não lhes dê a atenção,
dedicação, mimo, amor, carinho, companheirismo, a que se habituaram ao longo
dos tempos partilhados, e o nosso amor-próprio numa relação amorosa, está
entrelaçado, neste processo de dádiva do outro para nós, se esta balança
desequilibra, o nosso “eu” sente-se murcho, sequioso, frágil…e facilmente os “predadores” sentem este efeito, e pode investir, mais do que devia, e nós podemos
reagir mais do que queríamos, ou pensamos, e uma coisa começa a alimentar a
outra, e muitas vezes estes devaneios param, sem qualquer erro ou má decisão,
outras vezes perduram e seguem, pelas mais variadas razões: é só sexo, ela respeita-me, é alguém
que me ouve, é alguém me acha bonita, é alguém que tem tempo para mim e me
entende, é alguém que me acha capaz, senti-me perdido, etc…, poderia escrever
muitas das justificações que aparecem, mas em resumo, a situação deve-se a um
amor-próprio que quebrou, uma monotonia ou não-investimento na relação actual, e
uma procura do que não se tem.
Se procurarmos métodos
preventivos, uso então o exemplo de que, qualquer relação amorosa não é como ter um animal
de estimação, ou um passatempo ao qual me dedico, quando tenho tempo livre. É ter e cuidar de uma planta, que não é independente dos meus cuidados, que não sabe mover-se
para outro lado, para se proteger da luz em excesso, ou em falta; que não sabe
definir quanta água é necessária, tem de ir doseado aos poucos, e para com a qual
temos de estar sempre com atenção, para ver os sinais que nos podem indicar se está
a mais, ou a menos; o que precisa, e criar um ambiente propicio ao seu
desenvolvimento, não esquecendo que a sua sobrevivência depende dos meus cuidados.
Quando alguém ama e se
sente amado, brilha no escuro, tem vida, sente-se dono do mundo, a Vida corre
bem ou melhor, queremos estar ao pé do outro…quando nos sentimos não-amados ou
mal-amados, perdemos a luz, deixamos-nos ir, sentimos que nada está bem…e
nestas fragilidades, crescem inseguranças e incertezas, que mal encaminhadas
nos podem levar a ter investimentos fora da relação, pode começar por ser no
desporto, nos amigos, no trabalho, mas com o tempo, se nada se fizer, vai
surgir um alguém, que começa a substituir o outro na nossa cabeça, e com o
tempo no coração, criando mais dúvidas…
Aos primeiros sinais,
será que não devíamos investir na relação do para-sempre? Sim, mas a exaustão a
que se chega, a saturação que se carrega, e a indisponibilidade mútua, por
vezes não nos activa a energia para investir para dentro, e leva-nos em busca
da novidade…estejamos atentos a tudo isto, pois um investimento constante
renova; conversas banais ou importantes dão-nos conhecimento, discussões e desagrados,
também aproximam, o que importa é que se invista, que não se perca o respeito
pelo outro e pelo próprio…que não se permita a instalação de estranheza entre
os dois, que não se permita a entrada de ninguém que substitua…e se algo não
está bem, vamos por no aberto, em cima da mesa, e ver o que se passa.
Precisamos de investir,
aceitar, dar e pedir, para que não tenhamos de perdoar, esquecer, e remediar.
Precisamos de entender que qualquer situação, em que a relação se sinta traída,
demora a cicatrizar, e pode não ter solução, dependendo da forma como nós
sentimos o acto de trair, como conseguimos o acto de perdoar…pois a única coisa
que permite começar de novo é perdoar para esquecer, pois não o fazendo estas
situações são invasoras e corrompem a relação, podem para todo o sempre estar
no meio de nós, sendo relembradas, jogadas em cara, e isso corrói, e se já não
se estava bem, nunca mais se fica…e não se esqueçam, nenhuma relação está mal,
porque um de nós falha, a relação é a dois, e dos dois depende para se
equilibrar.
Se a situação se ultrapassa,
e o casal investe em si, temos às vezes situações que de um grande susto, um
grande abanão renascem, recarregadas de forças, e vontade de não permitir novas
perdas, novas intromissões, e há uma nova paixão, muito mais valorizada e
madura, que permite a ambos, um cuidado, uma preocupação, de não deixar
acontecer, pois já aprenderam, já viveram esse erro e sabem o que é arriscar
não ter o outro, perder o outro.
A paixão, é um fenómeno,
que podemos constantemente recriar, que aparece e desaparece, e que pode nos
permitir ir reencontrando novos companheiros no companheiro de sempre, ir
encontrando novidades na tradição, desenhando caminhos de desejo, nas certezas
e no conhecido, pois embora estas relações sejam “antigas”, nos encontros de
cada dia, podemos tentar, relembrar o que nos faz estar lá, e se deixamos esses
sentimentos virem à superfície, não é só amor, carinho ou companheirismo, é
saudade, desejo e vontade de ter o outro, pensem nisto!
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