quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Basta de quanto baste...

Quem define o quanto baste???
No tempero, o sal q.b. define-se na hora, pelo próprio...na tentativa de se agradar a si mesmo e na tentativa de agradar aos outros, se estiver a cozinhar para oferecer, partilhar.

E na Vida? O que define o quanto baste, ou o que nos basta a nós?
Quanto queremos para nós, para os nossos, para o que nos resta?
O que toleramos? Quanto deixamos nós que nos carreguem, nos desiludam, nos abandonem, nos magoem, nos ignorem, não nos oiçam?

Será que somos gentes de acatar um quanto baste renovável, de tal forma que...vamos tolerando tudo e mais alguma coisa, com pouca memória ou exigência, do que queremos ou, sentimos acima de tudo merecer?

Será que às vezes somos capazes de dizer um BASTA de quanto baste? Será que damos voz à liberdade de sermos completos e pedimos o espaço, que é nosso, para podermos SER.

O que nos move? O que nos trava? Por onde andamos?
Temos em nós a energia e a dedicação, de nos irmos medindo, na nossa felicidade, naquilo que somos capazes de suportar, ou às vezes deixamos-nos ir até ao ponto de já não termos nada em nós?

Qual é o seu tempero? Qual é aquele nível que o define e o faz vibrar, querer mais, ter gula da Vida, pecar porque não se satisfaz e não consegue parar de viver mais e mais, com o tempero todo.

Somos silenciados e silenciosos...mas, não podemos deixar que o que é nosso seja gerido por forças exógenas, sem qualquer controlo, já basta o que basta, já basta o que não pode ter a nossa mão...mas, no tempero, não deixem por mão alheia, batam pé, digam já chega, virem o rosto para o sol, sintam o vento na face, respirem a vida, a maresia, o ar do campo, o bulício das cidades, o calor humano e, partam para o amanhã, no luxo de quem vive de barriga cheia...quantos de nós nos queixamos de barriga cheia, e refilamos por panelas e tachos alheios, não tomando conta do nosso próprio guisado....


Bora lá "malta da minha terra", vamos viver, vamos saborear e desejar que nos lambuzemos com tudo o que a Vida nos dá, sem guardanapo, e na dose nunca certa...

Bora lá querer mais...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O meu mundo cá dentro...

...dizeres de um mundo de achados...

Que mundo temos nós dentro de nós? O ideal? O refúgio? O idealizado? O desejado? A mistura de todos? A fuga ao de fora? Um encontro com os de dentro?

Eu, adoro conhecer os mundo de dentro, aqueles onde somos o que somos, despidos sem pudor, numa alma verdadeira, na essência do eu, sem mentiras sociais ou sem medos por não aceitação, julgamento ou desconhecimento das verdadeiras essências humanas. Lá dentro tudo é movido a amor...é a única energia que conhecemos na realidade, nas suas diferentes dosagens e tipos...é o nosso combustível, às vezes somos é desleixados e levamos a carripana até aos limites do depósito, entramos na reserva...e se não formos mesmo atentos, ficamos apeados no caminho, porque o calhambeque parou.

As pessoas são entidades maravilhosas, quanto mais as conheço, mais me apaixono por elas, mais adoro tentar entende-las, mais os seus sentires me tocam e mais eu sinto. A idade talvez ajude, porque cada vez mais me sinto a sentir, sinto tudo e se não tivermos medo de sentir, de nos deixarmos ir, no prazer, na caminhada lânguida do relógio, até na dor, na que rasga e corrói, ou que queima lenta às escondidas, então ai sim, aprendemos a luz que temos em nós. Luz, neste caso, é a palavra que decidi usar para descrever a nossa essência própria, com todas as peças e engrenagens que nos definem.

Não falo de cores, não sinto que faça sentido à metáfora...mas todas as pessoas que tenho conhecido na minha vida, que me deram o privilégio de as tocar e de as deixar tocarem-me, têm a sua luz própria, um brilho, um carisma tão único como as impressões digitais. Uma marca que muitos levam a vida a aprender a esconder, para se protegerem dos outros, ou até de si mesmos. Mas, aqueles, cavaleiros Quixotianos, que se arriscam a tentar encontrá-la e mais ainda, a expô-la, são realmente pessoas dignas de se ter no nosso percurso. E se lhes podermos chamar amigos, família, companheiros, melhor ainda...porque aí, eles não são mais nossos, nem nós deles, são eternos, e nós somos mais ricos, mais plenos...e talvez eles assim também o fiquem.



Se todos também temos escuridões, sem dúvida, se as usamos, executamos ou evidenciamos, escolha nossa! Mas, que todos nós temos essa luz e a capacidade que a move, sim temos, porque não, então...ver e trazer a nu o que de belo há?!


É tão bonito, olhar além da superfície, e ver, acreditar, sentir, que por detrás dessa imagem esculpida com anos de afinadelas, há algo mais bruto, mais honesto, mais verdadeiro, mais essencial, no amor próprio do outro, da sua visão de mundo, das suas crenças, das suas marcas de água, das linhas de definição, dos valores que o demarcam.


...E nesse mundo interior, nessa magia da vida, descobrir, a energia que os move, que nos move, que resolve e une, que eterniza a passagem por estes caminhos de desconhecimento...o AMOR.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

É proibido morrer, não me envelheças nas mãos...


O envelhecer, a morte dos nossos, a perda de capacidades, a entrada numa estrada que nos assusta...

Este tema não nos é fácil, mas é um tema que me aparece tanta vez em conversas...como nos zangamos com a Vida e com os que nos envelhecem na mão, como nos culpabilizamos a toda a hora, de na volta do minuto, nos arrependermos do que acabámos de dizer...que revolta é esta que a nossa voz transporta, contra os que amamos, mas envelhecem ao nosso olhar...

"Chego, convicta de que vos vou abraçar com palavras, gestos de ternura e carinho, e que vos vou compreender, talvez até aceitar todas as vossas peculiaridades, sonho com o colo que tive, ou com o que quero, com o vosso gesto de total admiração por mim vossa filha, entidade que vem de vós...quero essa sensação, durmo com alguma culpa no colo, por estar longe, porque me vejo sempre confrontada em ser convosco a pessoa que não sou nestes meus sonhos em que vos vejo eternos, presentes, à mão de semear e prontos para me darem uma debandada se assim fosse necessário, mesmo sendo eu agora mulher adulta.

Mas, quando ai chego, quando estendo o rosto para o beijo habitual, ou para que de um abraço surja o meu grito alto de amo-vos...começo logo a ser quem sou, talvez criança assustada por vos ver a envelhecer, a partir de mim todos os dias um pouco...apareço refilona, a contrariar a vossa essência, a ditar regras, a manter-me firme nos meus pressupostos de adulta, talvez com muito tempo e cheia de medo dele e do que me sobra."

Ultimamente tenho-me confrontado com os desabafos de filhos, que ao verem os seus pais envelhecerem, adoecerem ou, porque sentem as perdas das suas capacidades, surgem numa angústia terrível. 

Consigo vestir o fato, porque também eu sou filha...sei que nos sentimos em desconforto porque se está longe, estando perto, ou porque não se pode estar perto, porque se quer dar e não se sabe bem o quê...porque se quer escolher por eles, porque se quer poupar a sua vida e prolongá-la até mais não...e por vezes nessa batalha própria e contra a vida que os leva, não os ouvimos, ou, esquecemos-nos num egoísmo muito próprio, que somos nós que às vezes porque os queremos tanto, que não conseguimos ver que eles se estão a acabar, ou a desgastar...e que não é agora que vamos batalhar diferenças, maneiras, estados de alma ou de acção...a partir de agora estamos cá para ser...para dar aquele abraço, ouvir o que têm a dizer e às vezes, pouco mais.

Oiço a história da filha que ao ter um pai de 80 anos diabético, luta para que ele não coma doces, para que faça exercício, para que cumpra ditaduras médicas (completamente justificáveis), mas que do ponto de vista humano, questiono eu, é com essa idade que a pessoa se vai privar? É ético exigir isso, porque como pagamos a saúde uns dos outros, não queremos as consequências de um comportamento não preventivo, ou, é nosso dever de filhos, substituir a capacidade de decisão própria e o seu livre arbítrio, porque a consequência dessa atitude, um, nos pode privar mais cedo da sua companhia, ou, dois, nos pode envolver nas consequências não ponderadas pela perpetuação de comportamentos de conforto (paliativos) para com os nossos familiares envelhecidos?

Somos nós que decidimos onde eles vão ficar? Ou, somos nós que temos de os deixar decidir? E como articular qualquer uma dessas decisões...?

Como viver, com estes novos "eles", que amamos e às vezes, no nosso passado comum, enfrentávamos e tentávamos que nos vissem como crescidos, mas que no agora, precisam que nós (talvez) sejamos mais do que tudo, uma vez mais, receptores das suas vontades, conversas, desabafos, traquinices...sem perda da sua autoridade, hierarquia, estatuto?

Como posso eu, querer ser a adulta que sou, gerir a minha vida, ter família e toda uma série de responsabilidades, e mesmo assim, entender que a minha mãe ou pai, se me perguntam se eu levo casaco, ou se volto cedo para casa, ou se sei basicamente tomar conta de mim, me estão a dizer que me amam, que ainda querem ter essa autoridade, ou sentir que ainda zelam por mim...como posso eu zelar por, então?


Nesta altura, vejo que todas as pequenas coisas que sempre caracterizaram a relação de pais e filhos ao longo de uma vida, de repente, se tornam incómodas, levam a discussões minúsculas, que nos afastam dos medos reais...onde estão vocês amanhã? E, que faço eu, sem vocês?



Levam a angústias de nos julgarmos constantemente, porque se disse ou se fez, algo que não se queria, ou porque não se fez como se queria. Questionamos-nos por tudo, numa culpa vazia, que nos prepara para o segundo, terceiro, quarto round...em repetição, porque não fazemos nada de novo...


Paremos com culpas, usemos o tempo de forma útil e não deixemos que se misturem as coisas, é o melhor que podemos fazer para lidar com tudo...eles são eles e, sempre foram. Nós somos nós e sempre o fomos, encontrar o equilíbrio é respeitar que nada mudou, só o tempo, e o peso que ele nos deposita nas costas...é apenas um desabafo, em própria pele e em pele de outros, normalmente acabamos por conseguir equilíbrios, é só continuar a olhar na direcção certa, baseados no amor que nos une...

Não partam, não queremos que partam, é só isso, não é?!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pelos caminhos aprende-se...por favor vai ao lixo e telefona-me...

Reflexões...pensamentos que nos surgem ou invadem, pela e na, partilha de momentos com os outros e as suas riquezas interiores, as suas histórias e caminhadas.

Hoje vi-me confrontada uma vez mais com a ideia de que num casal, às vezes não conseguimos ver com os olhos do outro, não nos conseguimos recolocar, ganhar distância...e o que a mim me parece óbvio, ao outro pode estar escondido numa catacumba.

Falavam-me de um relacionamento, em que o homem, sempre que podia e não estava acompanhado dos filhos, ou a trabalhar, tentava falar com a actual companheira, quando ia ao lixo, quando os putos dormiam, quando ia às compras, e de repente, a mulher, a nova namorada, partilha comigo como se sentia excluída, como sentia que apenas era contactada nesses momentos, como se existisse a vergonha (ao ir ao lixo!!!!!), ou a não permissão para que não existissem caminhos paralelos, e sim um único.

O meu foco e a aprendizagem partilhada aqui, não é tanto o tópico em si, porque num casal poderíam ser mil ao infinito, mas sim a tentativa de ilustrar a importância da nossa visão, ou olhar sobre...

Bastou-me proporcionar uma diferente visão, não interpretativa e ajudar a pensar por outros caminhos, abrir a possibilidade de que provavelmente o homem ligava, em entusiasmo, sempre que podia, ou que estava só, para ter um momento intimo e para talvez até não ser interrompido, e talvez pudessemos pensar que NUNCA lhe tenha passado pela cabeça que o fazia por VERGONHA ou EXCLUSÃO, sentires muito fortes vivenciados por quem não conseguiu imaginar esta versão.

Poderia estar uma manifestação de respeito por detrás desta acção (independentemente de ser a caminho do lixo), e não falta dele. Poderia haver carinho, mimo (namoro escondido, privado) e não VERGONHA...aquilo que a um poderia parecer pouco e ainda por acréscimo fazer pensar em sentimentos de exclusão e vergonha, ao outro poderiam ser manifestações de carinho, desejo de em todas as oportunidades mais sós estar presente, marcar presença num namoro mais intimo.

Mais, não só nos carregamos destas possíveis interpretações, como depois não falamos sobre elas, não as esmiuçamos, não as levamos à paz...ficamos presos nelas, preenchemos os vazios com imaginação, por vezes não só fértil, como cruel, e na presença do outro já levamos um muro de mágoa, de defesa, de tantas sensações antigas e presentes, e nesta falta de diálogo muros e fossos crescem...ou, são atirados à cabeça do outro, que "morre" executado às mãos do carrasco, sem defesa anterior.

O nosso olhar carrega-nos com toda a nossa bagagem e inseguranças e pinta, tolda, enfeita, interpreta, julga. Por isso mesmo, é tão importante, olhar em 360º, olhar de cima e de baixo, olhar de dentro e de fora e, depois de tanto olhar, ir pedir que nos mostrem os outros olhares, aqueles que não são meus, porque nem sempre, na maior parte das vezes, "o outro" não faz mal de propósito, tem razões, justificações e olhares que vêem mais, mais além, mais de mim.

Deixar para trás o medo de pedir, de querer saber, de me mostrar vulnerável ou insegura...esclarecer.

Construir no diálogo e, olhem...

- Vamos sempre ligar, mesmo que ao ir ao lixo...se essa for a prova de amor.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

E eu aqui sem respirar...

Desabafos...hoje são desabafos, das reflexões de quem se senta na minha frente e se queixa da Vida...do caminho.

Às vezes sentimos a vontade de deitar a toalha ao chão, de parar com optimismos excessivos e enfrentar que a dita cuja, muitas das vezes nos pespega com coisas muito pouco simpáticas e desgastantes, e que por vezes nos sentimos pequenas formigas obreiras em toda a sua força e fragilidade num mundo, do tamanho de um universo. 

Sem que ninguém se ofenda, eu acho que isto se manifesta porque por vezes nos sentimos tratados como os burros a quem oferecem a cenoura, mas, burros...não porque gostamos das cenouras, mas porque quem a tem, a vai afastando progressivamente de nós, mostrando-a, seduzindo-nos, mas, fazendo com que eu me vá dando cada vez mais e mais, e nunca a chegue nem sequer a cheirar. Verdade. Neste momento conheço muitos adultos que se sentem assim a nível profissional e às vezes a nível emocional.

Sabemos o que queremos, sonhamos com o que queremos, lutamos para ter ou ser o que queremos, mas, no dia-a-dia a "cenoura" afasta-se de nós e passa a ser um jogo de apanhada, em que na realidade corremos atrás da nossa própria cauda, tornando a corrida numa impossibilidade.

Porque nos fazem isto? Porque nos fazemos isto? Porque ambicionamos reconhecimento, recompensa, concretização, porque se formos feitos de boa massa, queremos continuar fieis à nossa pessoa, e não queremos desistir, mas sem dúvida algo tem de mudar neste paradigma, para que possamos pelo caminho, talvez não parar de correr pela cenoura, não nos deixarmos morrer na praia, mas não nos destruirmos à beira de conseguirmos as cenouras.

Difícil o desafio, porque às vezes quando nos apercebemos que já andamos nisto há muito tempo, e que não há meio de alcançar a cenoura, já estamos esgotados, às vezes desiludidos connosco, com o sistema, com o mundo...e quando por ai se está é difícil manter o tal optimismo, que se diz ser necessário para continuar a caminhada, como se de água se tratasse num passeio pelo deserto.

Às vezes, nestes momentos. talvez funcione melhor não ser um optimista, que beire o irrealista, não sermos uns caçadores de felicidade, mas sim deixarmos assentar a poeĩra desta realidade de nadar em constante movimento, contra uma ou várias marés, que não dependem de nós. Às vezes é bom saber que isto é difícil e que realmente temos sido uns lutadores, uns guerreiros, uns persistentes e que face a tudo o que vivemos, muitos teriam desistido. Podemos por segundos, dar umas palmadinhas nos nossos ombros e perceber que temos sido por vezes uns fantoches nas mãos de uma vida de bulício, numa rodinha de hamster, que temos feito rodar sem parar para ir atrás dos sonhos, das vontades, de ambições pessoais, tentando sempre manter a vontade, a perseverança, o optimismo de ver o copo meio cheio, mas facto é, que durante esses segundo podemos perceber que por vezes ele esteve meio vazio, não chegou de um todo.

Este reconhecimento de que não podemos ser sempre optimistas porque o desgaste também é muito grande, pode trazer um balão de oxigénio no reconhecimento de tudo o que temos passado. Dar a paz que precisamos para continuar o caminho, deixando que a cenoura às vezes vá para mais longe, sem que a minha resposta tenha de ser sempre o máximo, ou mais do que o que posso dar...sentir a minha humanidade em mim. Perceber os meus limites e limitações, redefinir o caminho, e talvez saborear algumas azedas pelo caminho, amoras, e perceber que a cenoura poderá estar sempre a fugir de mim, se eu não equacionar mudanças de estratégia, pausas, caminhos alternativos, ou até desvios...

Não respirar, faz mal, muito mal mesmo...não respirar fundo arrasa-nos, não olhar o infinito, desfocando o presente (a cenoura), também nos arrasa. Não parar, não dormir, levar o peso do mundo e da responsabilidade nos ombros, somado ao desejo de alcançar mais e mais, e de sorriso no rosto, também faz mal.

Sejamos honestos, humildes e saibamos a todo o momento, onde estamos e para onde vamos. Mesmo que andemos perdidos.

Deixemos que a mudança se instale, e nos desconfortos de por vezes não conseguirmos sorrir perante a adversidade, não façamos uma fuga à dor, num optimismo disfarçado, mas sim, façamos um convívio intimo com esse desconforto, e num relacionamento intenso, de parceria, então, consigamos olhar o horizonte, e em vez de ver os barcos e o mar, consigamos contar as nuvens e perceber que se consegue tocar o céu, com os pés na terra.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Filhos do e no coração...

Há momentos da vida, do desenvolvimento, do caminho que são tão difíceis, quase desesperantes...
Ver um filho crescer e querer ser ele próprio é a viagem mais bela para um pai, é ver uma obra que tem o nosso cunho, seguir caminho, vingar na vida, como uma árvore que cresce ao vento, moldando-se através das experiências que tem...

É ver um ser, uma pessoa, fazer-se, por si mesmo, ás vezes revelando o que tentámos ensinar, o que passamos pelos nossos próprios comportamentos, vendo neles trejeitos tão próprios e às vezes tão reflexos de um espelho nosso.

É aprender a ver de longe, a deixar ir, a acudir de perto, a querer impedir o sofrer, deles, e o nosso tantas vezes. É sorrir pelos sorrisos, é chorar pelas suas mágoas, é querer ser mais do que nós próprios para os trazermos pela vida ao colo, ao nosso colo, no nosso afago.

É querer saber o amanhã, para os ensinar hoje o que precisam, é ser posto à distância, ouvir o que não se quer, é dar espaço à revolta, dizer disparates na zanga, e logo de seguida sentir que tudo é nada, e nada é tudo.

Eles não nos chegam, fazem-nos falta e fazem-nos questionar todos os métodos de orientação que temos.

Fazem-nos saber que o norte não está sempre lá, fazem-nos saber que temos limites finitos e infinitos, que temos forças que desconhecemos , fazem-nos saber o que é resiliência e resistência.

No fim de cada troço, aventura, pedaço de caminho, respiramos fundo, e mesmo que o susto tenha sido grande, a certeza de um amor infinito está lá, mais do que escrita em pedra, escrita na pele, nas células que nos compõem, no sangue que nos corre na vida, tão certo, que independentemente do que façam, há espaço para perdoar, esquecer, tolerar, amar...amar muito.

Mas, bolas, é difícil saber, às vezes, tantas vezes, por onde ir, o que dizer, medir a liberdade, medir o castigo, ensinar e escolher as lições, dar e tirar, exigir ou receber...às vezes não se sabe, somos tão crianças imberbes quanto eles e, perdidos no estado adulto, onde devemos, temos de, saber o que fazer...lá de cima da experiência, sentimos-nos vulneráveis, sós na batalha, desorientados, porque andamos que nem loucos a correr na frente das suas passadas a aprender caminho, para podermos fazer com eles o deles.

Cada vez mais repito, nascemos pais quando nos nascem os filhos, experiência nula até então, teoria, talvez, até muita...modelos, alguns sem dúvida, mas andar nestas aventuras é como aprender seja o que for muiiiiiittttooooooooo complicado, só na prática é que se aprende. E a cada erro, aprende-se mais, e a cada técnica falhada, mais um pouco e mais um pouco.

Se chega? A mim não. Sou mãe de quatro, e renovo os erros a cada um...aprendo e reaprendo, mas não sinto a viagem tornar-se mais fácil.
Perguntam-me se é belo? Se repetia? Se tinha de novo?
Sim, sim e sim...

Mas, cada fase tem os seus desafios, e a adolescência é realmente, montanha russa. Como podemos num mundo em constante mudança, ajudar um ser que amamos desmesuradamente, a encontrar-se, ser feliz, amar-se e amar-nos, com um Norte certo, o seu, de modo a que não sinta que no processo de educar e não ser "amigo" (pois esse não vejo como sendo o meu/nosso papel) eu, enquanto mãe, ou pai, não os queremos asfixiar no nosso modelo, à nossa imagem, com os nossos valores.

Só queremos que num espaço, definido como família, casa, ninho...o amor vença, o carinho e a ternura superem tudo. Que saibam que os aceitaremos em pleno, como são, ainda que seja apenas um caminho de rebeldia para que se distanciem de nós, num movimento, talvez inato, de separação, de encontro com eles mesmos...mas, ao querermos que eles saibam isto, mas em simultâneo não querendo que sintam que não estamos lá, para educar, para moldar, passar testemunho, encontramos a resistência cega do querer crescer, do querer ser diferente de nós, do querer igualdade, os mesmos direitos que o adulto...e, talvez, não seja fácil, ser-se criança adulta ou um adulto criança...não há conforto em nenhum dos mundos, porque já não pertencem a um, mas também não pertencem ao outro, nos seus direitos plenos.

Têm de sentir que acatam as nossas regras, a nossa forma de estar, as nossas injustiças ao educar, os nossos erros, numa exigência da nossa parte, de muitas vezes se calarem ou não argumentarem contra nós.

Se lhes damos razão, perderemos autoridade? Não, mas podemos não conseguir chegar a. Se lhes pedimos desculpa, erramos? Não, mostramos-nos humildes na aprendizagem que temos de fazer com eles, e mostramos que somos capazes de ver onde erramos, mas, isso não nos aproxima deles...pode às vezes até fomentar mais rebeldia, zanga, revolta...

Como é possível um processo tão belo, ser tão complexo e difícil...tão culpabilizante, emotivo, desesperante às vezes.

Um processo que se recheia de amor, com o objectivo de dar amor, com o caminho traçado nas linhas do amor, e por vezes tão carregado de um extremo negativo de desapego e revolta.

Ser crescido não é fácil, e crescer também não.

Talvez funcione melhor, se conseguirmos juntar esforços e nos tornemos alunos do aluno, e eles, professores do professor.

Talvez seja ainda melhor, ou mais reconfortante, saber que todos os dias temos hipóteses de continuar, melhorar, reformular, pedir, dar, ensinar, mostrar...que todos os dias lhes podemos renovar os nossos votos de amor, de entrega e de vontade superior de os tornar em pessoas capazes de serem felizes.

Bem hajam os meus filhos, que me fazem estar em constante processo de reflexão, de querer ser melhor e me superar nos meus limites e defeitos. De poder ensinar o que não sei, aprender o que não tive, histórias todos os dias por escrever, em páginas brancas que se multiplicam.

Caminhemos, seguros que por amor, o caminho se faz.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Final feliz...

Uiiii
Que coisa é essa? Fenómeno educativo, realidade possível, sonho encantado, história antiga???
É possível haver um final feliz?
Depende...porque se houver um final, como pode ser feliz, se ser feliz é continuidade, é crescimento, é caminho a desbravar, é algo a usufruir, a não terminar, certo?

Podemos ter capítulos felizes, troços felizes, mas, se colocamos a palavra que lhes dá término, teremos então finais felizes?
Feliz é a conquista, o momento, o ar que nos beija o rosto, ao levantar da cama, é sabermos-nos vivos, por dentro, em chama dorida ou contente.
Feliz é amor, é ser, é estar, é ter com quem dividir, com quem achar que não se quer ter um final, mas sim um para sempre, um eterno, um amanhã depois de tantos outros.

Ser feliz é saber que se é.
É não duvidar que se pode, ser feliz é viver a respirar fundo, sem ranger o dente ou franzir o sobrolho.
Ser feliz é rir sem razão, é ter harmonia e melodia com as canções do caminho.
É viver-se desconfortável com quem somos, porque sabemos que podemos ser melhores.

Ser feliz é tão básico como comer uma bola de Berlim, fazer barulho a chupar uma palhinha, quase cair mas escapar no último momento, é encontrar o último número dos sapatos que amamos, comprar uma pechincha, receber um beijo mal dado talvez quasi roubado...
Ser feliz é sermos em nós o desconhecido, numa aventura em 80 dias, é conseguir achar que 31536000 segundos é pouco tempo para tudo o que quero...

Ser feliz é sentir cheiros, tocar a pele, sentir calor, agasalhar o frio, arrepiar a pele, sonhar acordado, beijar o ar, saber truques de magia, acreditar nas fadas e nos unicórnios, termos coragem de tatuar a pele ou o coração...
Ser feliz é ouvir, a música, o choro alheio, o riso de uma criança, o chilrear dos pássaros...

Levar com chuva na cara e sorrir, ver o pôr e o nascer do sol, sentir a plenitude do que temos em nós...é ser capaz de viver extremos, suportar dores, aguentar caminhos e desafios, é sermos donos de obras de arte nas nossas mãos, e uma orquestra a trabalhar para nós.

Ser feliz, é viver sem finais, é viver em continuum, em perpétuo movimento, crescendo até onde a nossa alma for.
Ser feliz é ser eu e amar o eu que sou.

É ser eu e sentir-me em construção, mas ter garra de leão.

Ser feliz é ser eu nos outros, sentir-me vivo no outro, sentir que a minha história fica cá, em partículas, em pedacinhos de mim, que fazem com que ser feliz não acabe aqui e agora, só porque sim.

Um final feliz, é saber que nada acaba e tudo é...
Vamos ser felizes???
Bora lá...