terça-feira, 3 de julho de 2012

Dores de alma de ser mulher...desta ou daquelas gerações...

Texto de uma mulher para as mulheres, embora não possa fazer mal nenhum, se algum homem ler...

Vou começar por deixar tópicos, ou frases soltas que retratam momentos da vida de uma mulher, ou de algumas das suas realidades, sendo que algumas dessas para vocês serão as peças que vos/nos fazem dores de alma...não quero apresentar receitas, quero reflectir, e partilhar...dizem que um fardo partilhado fica mais leve, que então assim seja, partilhemos algumas das nossas dores de alma e assim, encontremos conforto por saber que as partilhamos e para algumas há soluções...mais quero desinfectar algumas das nossas ideologias ou crenças, e para isso farei provocações, que espero que aceitem e que vos ajudem a reflectir e mudar se for caso disso.

No nosso dia-a-dia, muitas vezes sentimos que nos desfazemos, nas entregas que nos exigem nos papéis que nos pedem ou, ao sentir que não chegamos...Esta sensação de não chegar tem muito a ver com a nossa exigência de querer fazer tudo, ou muito. Pior, às vezes queremos fazer tudo e bem, na perfeição, numa exigência interna que realmente nos corrói. Pensem nisso.


Às vezes somos forçadas a papéis que pareciam exclusivamente masculinos, que nos tornam independentes, que nos obrigam a caminhar num caminho que não é nosso em troca de uma igualdade desigual, de uma não entrada para o compadrio, por muito que se trabalhe ou se faça do mesmo modo...que faz isso ao nosso lado feminino, que faz isto, se ao assumirmos papéis tradicionalmente masculinos acumulamos também os tradicionalmente femininos, pois os seres masculinos nem sempre os adoptam, ou nem sempre  os adoptam na totalidade?


Que carregamos nós nas nossas costas, o peso do mundo, do que não foi feito, das nossas imperfeições, de querermos ser melhor, querermos estar à altura das nossas mães, dos modelos de educação que recebemos, em que o ser feminino, não descurava a casa, nem as crianças...então e agora, como carregamos tudo isto, estando fora de casa tanto tempo? Sensações que nos esmagam e nos fazem sentir infelizes, ou sem capacidade para mais. Muitas das vezes esgotadas ao limite, com a sensação ao deitar, de que tanta coisa ficou para fazer, e tanta dor me magoa o corpo todo, a alma...
 
O que nos preocupa? Dinheiro, trabalho, filhos, marido, compras, casa, corpo, dietas?

Que dores de cabeça nos causam estas exigências, que dores e preocupações nos enrolam em redes de problemas aparentemente sem solução...

Que sentimentos vamos vivendo que às vezes nos fazem sentir no fim da linha, perto da desistência, são as dores de crescimento nesta nossa sociedade - nova, exigente, nada tolerante, que nos empurra e exacerba, sentimentos que já existem dentro de nós, deixemos correr, libertemos-nos destas grilhós, choremos, batemos com o pé, mas encontremos os nossos equilíbrios.

Vamos assumir que ao assumir duas funções, três ou quatro, assumimos também aquilo de que se queixa o sexo masculino, que é: a nossa independência, a nossa desfaçatez para mandar,  a forma como não hesitamos em ordenar, e tudo o que organizamos; não deixam estas de ser as características que nos fazem gestoras natas, equilibristas das nossas dores e das dos outros, essa é a nossa função, e essa muitas das vezes é a nossa alegria, e aquilo pelo qual vocês se apaixonam...a nossa diferença, será que os tempos mudaram assim tanto? Ou será que esta independência assusta, pois parece fazer de nós seres que não necessitam de ninguém...

Será que a expectativa da SOCIEDADE, dos HOMENS (em geral), e a NOSSA, não é a de que no fundo, no fundo, nós continuemos a ter de ser as donas-de-casa, pois mesmo que partilhemos tarefas, existem factores que são mais do que geneticamente associados às nossas capacidades, e somos, ou temos de ser, nós a assumir?

Exemplos, lavámos a roupa, estendemos, apanhamos, temos 2 filhos, de quem são as coisas? Quem sabe? O vosso companheiro sabe de quem são as roupas? O vosso companheiro sabe o que cada um de vocês levou vestido hoje de manhã à saída?
Quantos pacotes de esparguete há na despensa, onde estão? Eles sabem? Não se ofendam, mas na sua maioria os homens não sabem estes pormenores. Defeito? Não, diferença, até porque no fundo, no fundo, até nós não sabemos porque sabemos isto, o facto é que sabemos.

Que mais diferenças temos, e que causam as nossas dores de alma, quem jura neste momento, que durante o seu dia de trabalho, não pensa nos filhos? Quantas vezes? Com que grau de saudade? Culpa? Desejo de mudar de vida ou de carreira? Quantas de nós podendo sair mais cedo, não corremos ao seu encontro para ganhar tempo ao tempo, e  estar com eles? Porquê, talvez porque células deles sejam nossas, talvez porque células nossas tenham passado a ser deles...

A sensação de equilíbrio, precário ou bem assegurado oscila, ao longo dos nossos dias, entre a perfeição e o caos, dependendo do grau de estamina ou sanidade, com que nos encontremos, mas sem dúvida nenhuma, este feito desgasta, e leva-nos a sermos às vezes (para não dizer muitas vezes), criaturas irritantes, pois o nível de desgaste faz com que os nossos níveis de paciência não sejam os ideais...

Custos e riscos da profissão, mas de facto, para que estas dores de alma se aliviem, temos de ter controlo nisto, o circo não pode estar sempre a actuar.

E para mais, dado o grau de exigência que colocamos, é que não pode ser qualquer coisa, o desafio tem de ser sempre aumentado, até níveis superiores, para que a medalha seja a de ouro, pois não me quero contentar com menos...somos capazes de fazer parte disto e queremos ser ainda "boazonas" para os nossos maridos, para que eles não olhem para mais ninguém, queremos que a barriga das gravidezes continue tonificada, tal e qual como quando tínhamos 18 anos, queremos estar a fazer sardinhas mas a cheirar a perfume e com o ar de quem tem tudo controlado, com a boca a dizer "deixa estar, não preciso de nada, senta-te, descansa!", e o coração a latejar porque é que eu faço isto a mim mesma, porque não grito eu, porque não assumo que não sou capaz...bem, o pior é que na maior parte das vezes somos capazes, a resiliência faz com que sejamos capazes de ir acrescentando coisas ao prato e sentirmos que vamos conseguir.

O tempo passou, nós mulheres estamos mais "educadas", temos mais formação, aprendemos a ser boas no que fazemos, em áreas que antigamente nem eram "nossas", às vezes até as fazemos bem (para não dizer melhor e querer soar demasiado feminista ou egocentrista), mas embora isso possa assustar possíveis parceiros, no trabalho, não serve de grande coisa, conheço mulheres a trabalharem na mesma firma, com o mesmo cargo, e que recebem menos do que os colegas masculinos, serão estes incentivos a tentarmos continuar a fazer o balanço entre ser mulher/mãe e mulher de carreira?


Será que este é mais um peso na nossa alma, a tentativa de ser igual, de ter os mesmos direitos, de ser às vezes melhor, porque igual não chega...será que queremos mesmo isto?


Será que queremos a toda hora competir, em vez de dividir?
E se na rua somos lutadoras e lutamos (aparentemente) contra este poder masculino instalado, será que diferenciamos quem vive connosco destas lutas de exterior?


Eu defendo, definitivamente não a igualdade, mas sim o direito à diferença, eu defendo o direito às mesmas oportunidades, salários, condições, mas com as diferenças salvaguardadas...senão, quem tem filhos? Como desejar ser igual, a um ser tão distinto de nós? Na luta pela aceitação das nossas qualidades, das nossas habilidades, perdemos-nos em lutas feministas, que nos prejudicam, se não nos defendem na diferença...que fazem esta nossa caminhada, de saltos altos, de pernas bem torneadas, numa maratona de corrida, de handicap de grau máximo...pois é difícil jogar de saltos altos...

Libertemos-nos desta imagem, por nós imposta a nós mesmas de super-mulher, a dar o máximo, no máximo de coisas, e na máxima qualidade, assim não somos felizes, não fazemos felizes e acima de tudo...acabamos connosco, numa dor de alma tão intensa, que nos afoga a esperança e apaga muitos dos momentos de felicidade, que na sua raridade a Vida nos presenteia.

Sejamos quem somos, mas felizes, façamos o nosso melhor, pois provavelmente chega, e libertemos-nos destas culpas desmesuradas de não alcançarmos a perfeição, deixemos as nossas costas livres de pesos desnecessários e fantasmas de gerações passadas.

Libertem-se, saltem, vivam apaixonadamente e intensamente, mas numa entrega razoável de quem são, a quem amam, respeitando os espaços e as distâncias necessárias para uma sobrevivência sã...nestes tempos de hoje, que não passam, correm à nossa frente, deixando pouca margem de manobra...não hesitem entre limpar a casa, ou ir brincar com o marido ou os filhos, sejam FELIZES...


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