Falemos de umas conversas que tenho tido sobre sexo e como este assunto pode complicar muito, mesmo muito, as coisas entre um casal. Antes, esclareço que vou misturar exemplos da minha experiência de ouvinte, e que por vezes talvez exagere um pouco os exemplos, de forma a provocar reflexões mais poderosas...a mudança só ocorre se o que lemos nos toca de alguma forma...
Estou no meu dia, nas minhas rotinas, e lembro-me do meu companheiro, da nossa história, dos nossos beijos, segredos, partilhas. Sonho, imagino-nos juntos, a dançar, a trocar poesias e cartas de amor, queima no peito o sentir, paixão, amor...tenho vontade de o ter, de o sentir, tenho vontade de fazer amor, de lhe dizer ou fazer-lhe sentir esta vontade, esta intensidade, e durante o dia, a fantasia não me abandona, segue-me, sinto-me diferente, tudo se intensificou, o tempo lentifica-se, as sensações aumentam...vou fazendo destes possíveis encontros filmes, fantásticos, carregados de pormenor e sentir, filmes que vejo e revejo até estarem na sua perfeição, e vou com eles num grau de crescente excitação e sedução, de mim, e dele...
Alguns dias, algumas vezes, durante os nossos dias, as nossas fantasias voam para um lugar que nos permite ser um ser sedutor, com prazeres, que queremos entregar e partilhar com os nossos companheiros, de um erotismo forte e presente, outros dias, queremos ter só o nosso amigo, que nos vai abraçar e compreender, outros dias, não queremos nada, pois não sabemos nem sequer ser...hormonas? Cansaço? Feitio? Cromossoma x?
Não sei, não sabemos, facto é, que o nosso apetite por sexo, pode não ser igual de dia para dia, de hora ou segundo para segundo, e muitas vezes de mulher para mulher.
Mas pior do que isto tudo, a que podíamos chamar a ignorância do funcionamento amoroso da mulher, é o facto de que para o ser feminino, mesmo até no meio do próprio momento de fazer amor, um pequeno elemento distractor, pode fazer apagar não uma chama, mas um incêndio de amor...e assim se perde o momento e a vontade...
Falava com algumas clientes minhas que diziam em tom de brincadeira, independentemente de gostarem dos companheiros e de gostarem de fazer amor, que há momentos em que sentindo que o companheiro precisa, elas se predispõem ao "sacrifício", dizem-no, brincando com esta palavra, como se não fosse verdade, mas no fundo às vezes é...pensemos, que o casal na maior parte das vezes só faz amor quando a mulher também quer, pois, hoje em dia, na maioria dos casais, não temos o senhor feudal que exige o corpo à esposa como parte dos votos de matrimónio, sendo assim temos nas nossas mãos o poder de só fazermos amor quando queremos e eles? Em que pé ficam? E se nós não quisermos muitas vezes, porque para muitas de nós sentimos que por agora não precisamos, ou não queremos, ou não nos apetece, ou não é uma prioridade? O cansaço por exemplo, sobrepõe-se à vontade da entrega, sim ou não? Um miúdo acordado pode fazer com que o desejo se esfume, etc...
E se nós, que para fazermos amor, precisamos do cérebro excitado, do cérebro carregado de fantasias e filmes vistos e revistos, tivermos um momento de apagão, deixamos desta forma os homens, que no acto físico de fazerem amor connosco, se entregam em toda a sua fragilidade, e em todos os seus gestos nos demonstram os seus afectos e sentir, pendurados no vazio de não nos terem, pois nós também nos perdemos algures.
Fazer amor para um homem, com a mulher que ama, é gritar em plenos pulmões, em cada acto, uma promessa de amor, de dedicação, de fragilidade, e nada está a funcionar a nível cerebral (ou muita pouca coisa), e nada os faria desligar ou parar este bailado de entrega, no entanto, vivem com um ser que a meio da entrega, por muito que as suas partes físicas se sintam prontas a acolher o companheiro, se existir qualquer factor, e eu repito e sublinho, qualquer factor mesmo, que se atravesse no seu pensamento, pode existir um shutdown global, que implica muitas vezes, ou uma entrega até ao fim, mas com a cabeça e corpo num outro espaço...ou uma interrupção, uma perda.
Quantas mulheres me dizem, que às vezes, quando o seu companheiro as está a beijar, naquele sítio que para elas é especial - curva do pescoço, meio das costas, joelho, sei lá, e de repente já não é, já foi, apagou-se e o sítio mudou, e a própria mulher não sabe para onde, e se ele insiste, e então passa a incomodar, surgem pensares de "despacha-te", "não vês que eu não estou a sentir nada", "o teu bigode pica-me", esperando que ele adivinhe, o que tento mostrar por afastamento, por barulhos de desconforto, mas não a falar, isso não, queremos que eles entendam o que nós também ignoramos.
Aos meus casais, explico que para a mulher o orgão sexual é o cérebro, e é este que tem de ser mimado, mas também explico, que o nosso corpo é como aqueles jogos de testar reflexos, em que lâmpadas se acendem e apagam, e nós temos que as ver acender e bater nelas muito depressa, antes que outra se acenda...no nosso caso, os nossos pontos eróticos, espalhados pelo corpo e que são activados pelo cérebro, como se este fosse o portão que aberto permite sentir, fechado, congela no tempo as sensações, vai brincando connosco e com os nossos companheiros, acendendo algumas luzes ao longo do tempo e apagando outras.
Mais, cabe-nos a nós mulheres, se realmente queremos fazer amor, ou amar o nosso companheiro, estar atentas ao portão, e se ele ameaça fechar-se (porque me lembrei que não paguei uma conta, esqueci-me de dar um recado à educadora do menino, não comprei a prenda para a minha sogra, porque o bebé chorou, etc...) então temos que nos treinar, e com a força de pensamentos que sabemos ter, em fantasia com quem amamos, treinar imagens que chamamos à "Recepção" do nosso cérebro, nunca à sala de espera, de forma a activar de novo o jogo das luzes. Cabe-nos a nós treinar esta capacidade de nos voltarmos a ligar à vontade, redescobrir o sentir, e PEDIR, que ele não toque nas luzes apagadas, e PEDIR para que joguem o jogo da procura, e descubram em conjunto, quais as que se acenderam.
E assim fazemos amor quando todos queremos, num jogo de sedução intenso, de proximidade, que acaba, connosco num estado de fusão emocional, que une, que agrada e que excita...e estas diferenças, não atrapalham, são entendidas e integradas na Vossa dança, no vosso conhecimento do outro...não desistam, o nosso cérebro não é difícil de excitar!
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