Sejamos adultos, jovens ou crianças, no virar da esquina temos constantes ofertas, do mundo que nos rodeia, dos que connosco se relacionam, dos que nos amam...ou que nos são indiferentes, dos media...do clima, da Vida...essas ofertas implicam escolhas, que resultam em caminhos e consequências, que nos levam então a mais caminhos e escolhas, e mais ofertas...
E que fazemos nós?
Às vezes...afogamos-nos...perdemos o norte...ficamos sem caminho, ou perdemos-nos nas escolhas...
Chegam-me jovens bombardeados por ofertas tentadoras, sem capacidade de decisão, pressionados a decidir pelos pares, de forma a manterem um certo estatuto...
Chegam-me crianças que não brincam, porque a oferta é tanta, que não sabem escolher, ou, o brincar perdeu a graça...
Chegam adultos...em caminhos entrelaçados, trocados, desorientados, perdidos nos meandros de tanta direcção, de tanto caminho...de tanta oferta e, incapazes de decisão.
Que Vida é esta de hoje, em que nos perdemos nas escolhas entre pedaços, aroma, light, liquídos, bífidus, zero, grego, tipo grego, marca ou linha branca, embalagem pequena ou grande, entre tantas outras que talvez me esteja a esquecer...só falando de iogurtes...
Escolha de complementos a um detergente de roupa que supostamente compramos para lavar a dita, mas que se não colocarmos aditivos, não saem as nódoas, se não pusermos umas toalhitas, as cores misturam-se, se não colocarmos amaciador afinal a roupa fica áspera, se não tiver pastilhas para o calcário a máquina avaria e a roupa não limpa...uma vida em que se compra algo supostamente incompleto, até na sua função principal, e que nós, de forma encarneirada, aceitamos e vamos comprando tudo o resto que tem de ser vendido para que a indústria do que é necessário se reinvente.
Que nos percamos em decisões de escolha de actividades desportivas extra para os nossos filhos, o inglês, a informática, as actividades extra-curriculares, o apoio ao estudo, ou dez mil outras questões educativas, de suposta resolução ao verdadeiro problema do tempo, ou ausência deste, e de responder ao desaparecimento da corrida nos intervalos, do futebol na praceta do bairro, do lanche na vizinha, ou de tantas outras respostas saudáveis e comunitárias, que surgiam atempadamente porque o tempo não se decidia, vivia-se.
Será que é uma escolha do que para nada serve?
Uma escolha de Orientações?
Ocupações de tempo vazias?
Saborear e apreciar o que a nada sabe...
Um fenómeno do Rei vai nu...em que a vida e os que nos rodeiam, a sociedade talvez...nos empurre para constantes bifurcações de caminho que cada vez se tornam mais frequentes, mais presentes, nem sempre mais urgentes ou de valor...que nos desgastam no dia-a-dia, nos levam a drenar energias, e depois enfrentar o não saber...o estar sem rumo. Todos vemos, mas temos vergonha de dizer o que realmente vemos?
Vejo os vossos olhares aqui à minha frente, perdidos, sem saber...na procura, no pedido "que vou eu fazer?".
Do mais simples ao mais complicado...o olhar vagueia, porque às vezes já não se quer decidir, tomar um rumo. Porque se pode estar errado, com receio do impacto da decisão e questionando de fundo: e se eu não educo bem? E, se eu não sei o que dizer na altura certa e se revolto o meu filho, se não o faço sentir o meu amor, e se não arranjo emprego, e se não recebo o dinheiro, e se, e se...?
Que desejo de certezas é este que nos invade e nos inibe, ou, nos impede de não decidir, ou de deixar ir...ou de decidir, tomar controlo, decidir e assumir...Porque se esquece que a melhor decisão foi a que se soube tomar, a que se tomou, porque o que se sabe hoje não se sabia na altura. A cada momento decidimos com o que temos em mão, só depois podemos ir afinando o caminho, ajustando as coordenadas, mas sem culpas vazias, sem deveres escondidos...onde se perdeu o conforto de nos aceitarmos e saber que se fez o melhor, a maior parte das vezes.
A visão do certo, do amanhã, do infalível, não nos pertence, por isso fazemos malabarismo intelectual com as variáveis que temos e decidimos de coração, por isso decidimos bem...Amanhã, logo se vê, amanhã é o dia em que posso mudar, acertar, renovar, identificar e seguir em frente...continuar fiel às decisões que se tomaram.
Não valorizemos o que não tem valor, não percamos tempos, ou energias, em coisas que nos consomem de foro vazio, de esgotamento incessante em questões filosóficas que no proveito individual não acrescentam.
Não digo que não pensem, que não reflictam, que não ponderem, tudo isso é crucial para a decisão mais certa, mais confortável, com o que eu sinto e como estou, mas, digo sim, assumam, sigam e conforme a trama se desenrola, sigam adaptando e mudando o que há a mudar. Mas, não se importem com detalhes microscópicos, foquem-se no que é deveras importante, na visão panorâmica - a visão global, a que nos deixa amar a vida, a nossa vida, o nosso eu, e levar o caminho para a frente, de cabeça erguida, de foco no horizonte, de brisa no rosto, capazes de vencer tudo e todos, fazer resultar e acreditar em nós é o mais importante...decidir para seguir, para poder ajustar, para poder melhorar, para poder encontrar paz.
Às vezes, as escolhas não são tantas assim e nós sabemos o que fazer, há que confiar.