quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Num caminho sem Deus...

Parte-se, numa estrada, com vontade de ir, de crescer, de se descobrir pelos caminhos, o que é isso da fé?

De se saber, porque acreditam num Deus, de nomes dependentes de quem fala...

Parte-se numa aventura que se desenha pelo caminho, onde se encontram almas, que nos desenham no coração trilhos de amizade, partilha e definições de amanhã.

A cada história, há encontros, ou desencontros, que em coincidências disfarçadas nos tricotam nuns fios de seda resistente, numa malha desconhecida. Sem ombro dado ou oferecido, num silêncio partilhado, a vida de cada um desnuda-se aos nossos olhos, seguida pela natureza que rodeia. Podem chilrear pássaros, cair gotas grossas de chuva ou orvalho, podem mil carros de passagem interromper, mas, na caminhada, a cada passo, a cada passada, larga ou curta, eu e tu, tu e o outro, nós, os outros e eu, vamos sabendo ou sentindo, que massa nos compõe, quem são e quem somos, quem amamos e quem nos ama. As histórias, aquelas, as importantes, uma a uma, desvendam-se...e unidos em ou por amor, todos, e não só, começamos a pedir...a querer que o outro, também, consiga solução, resposta, encontro, força, capacidade...

A minha lágrima passa a ser nossa...e não calculam no que se torna um caminho que para mim não levava Deus...que para mim não partia de fé, não procurava milagres, ou respostas.

Agora, aquele caminho, deu-me muita coisa, deu-me visão humilde e humana, muito pequenina, muito reduzida daquilo que o Homem é capaz e do que o Homem não é perante a VIDA, e a natureza. Reforçou-me a noção de que a fé existe, numa fogueira aberta e permanente dentro de nós e, que se alimenta a toda a hora nos milagres que afinal vivemos em todos os momentos, no Deus que encontramos no AMOR...essa sim, foi a resposta que não procurava, a fé que se descobre, na partilha de caminhadas de pés feridos, pés cheios de fé...

Que cada Homem, encontre amor, se recheie dele, que o distribua, que acredite na sua força e nos milagres que resultam da sua dádiva...que não o guarde, que não o peça ou espere, mas que acredite, não duvide, que Ele existe, em nós e nos outros e que ele sim, deve ser motivo de fé e de caminho...

Numa partida sem Deus, descobre-se, se se quiser, que ele existe, e a sua forma é amor. Amor ao outro, ao próximo, à família, aos amigos, aos companheiros, à Vida, ao Mundo...amor que está em tudo, até nos sorrisos sem retribuição, no gesto sem resposta.

Amor é força e caminho, o único caminho, sem hesitação...amei a experiência, os companheiros, as amigas e amigos que me foram dados, as paisagens, a comida, a água, a sede, as dores, as camas e o chão. As orações que ouvi, os carinhos que presenciei, as bolhas que tive e vi, as cantigas que ouvi, o colo que me deram e pediram, o rir e o brincar.

Amei, e cheguei, crente em nós, pessoas e no Amor...e este caminho faz todo e ainda mais sentido..

Amo!




Agradeço de coração ao Ricardo Coelho as fotos que me cedeu, para ilustrar este texto. Para o seguirem vejam:
RicardoSimoesCoelho (olhares.sapo.pt)

sábado, 11 de outubro de 2014

Obrigada por me amares, enquanto choro meus pecados...


No processo de fé, de entrega, de crença, na procura de respostas ou de concretizações de intenções, os peregrinos entregam a alma nos limites do corpo. Nas subidas, nas descidas, nas pedras soltas, que rolam por debaixo dos sapatos, que desenham em água trilhos de dor e sofrer, todos, sem excepção...sem que nenhum fique para trás, sem que nenhum se sinta a mais, ou diferente...todos se entregam, todos pedem, todos se dão.

No caminho encontram um limite, o seu, o do seu corpo...o da sua fé em si, mas, pela fé num alguém superior, numa entidade suprema que guia, ilumina e inspira, os limites dilatam-se, e independentemente da dor própria...e por dores alheias...os limites das suas dores desaparecem, e em plena abertura e decisão, ignora-se o corpo, os sinais ou reclamações e...vence-se a batalha, caminha-se além...até...e vence-se, ganha-se a paz.

De olhos fechados, sem saber quem somos e na certeza que queremos ser, para sempre donos de sentir, de viver em pleno...reflecte-se, rende-se, reza-se...e numa profissão de fé, num desfile de entidades, aprende-se o amor, em canções de irmandade.

Choram-se em silêncios escondidos, pecados não resolvidos, pede-se um perdão que traga a paz infinita e nos ensine o que é ser feliz.

Entregam-se...em dedicação extrema, por mim, por ti, por aquele que se atravessa no caminho.

Que seja um bom caminho!

Obrigada por me amares, enquanto choro e te dedico os meus pecados.
Perdoa no teu amor, e, leva-me/nos ao colo.

Obrigada por me amares ainda que nos meus pecados.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Fé e coragem...caminhos pela dor...

Aqui, na noite, sem o sol raiado, juntam-se pessoas, para fazer um caminho, um percurso, recheado de histórias que as fazem, que as desenham e marcam, nas rugas e expressões que denotam no rosto, e nos oferecem nos sorrisos rasgados com que nos recebem no seu caminho, num encontro com a sua fé, e fazem-nos chegar, ainda antes de partir.

É caminho de etapas, de degraus e provações, mas com apoio de mãos e gestos visíveis e invisíveis...com cada um transportando a sua bagagem, pedra a pedra, no chão ou no sapato. Um faz e faz-se. Um carrega e descarrega...um põe em causa e segue, pede ou implora...mas, caminha.

A Vida, os filhos, os pais, as mães, os doentes, os sofridos, os presentes ou, os ausentes...tudo é motivo para que numa entrega pessoal, muito própria e íntima, cada um, no seu percurso, se dedique em fé à concretização de um troço, de um pedido, de processos de alma em entrega total, em plena consciência e dedicação.

Parte-se.
De cabeça fita na chegada, e no que se vai dar e pedir de viagem.

Amor transborda e gotas de apoio chegam, pelas mãos de quem se envolve, de quem, por um aceno, um sumo, uma maçã - cuida. Ouvem-se tilintares de chegadas...notas das novas tecnologias, que através de sons disfarçados de sorrisos, põem em contacto quem de longe envia força, desejos de coragem, de bravura e espírito de entrega.

De cabeça erguida, passos dão-se...vivem-se, e num calcorrear dedicado, às vezes frenético, vitorioso, outras vezes cansado e penoso, metros se conquistam e em silêncios que se encontram, escondidos entre as costelas do respirar, solidões rebuscadas no meio de tanta companhia, ajudam a que pensamentos se vão formando, pensares que nos acompanham, nos dedicam à missão e, a fé renova-se, e, com ganas de amor ou paixão, metros se passam, quilómetros de dedicação se somam, nas solas dos sapatos que não reconhecendo o caminho, o traçam em destino.

Seja pelo que for...em grupo, mas no entanto no respeito de se estar só, cada um trabalha as consequências das suas decisões, e de olhar colocado num alguém, numa imagem de força e exemplo, numa história que quero saber, caminho eu, caminham todos...em partilha próxima, extremada, mas em gritos de individualidade.

A cada momento, bem de dentro, vão passando, em pensamentos, em sentimentos, em pedidos, as razões do caminho...é impossível não pensar, não dedicar cada batida à pessoa que se materializa na retina escondida, na cortina que se abre e nos revela, a pessoa por quem de repente queremos bem, tanto bem.

E todos, muitos...aqueles que amamos, alimentam a fogueira, com paus, troncos ou brasas...o fogo que faz estas gentes caminharem de fito na alma, e amor imenso no coração.

A água é divina, apalada-se, aproveita-se...a comida saboreia-se de água na boca, em paladares requintados, e por nenhum ser humano alguma vez experimentado...as paisagens não são belas, são obscenas, invadem-nos numa explosão de sentidos...onde cheiros e cores se intensificam, as histórias, não se contam, fazem-se e vivem-se...a chuva agradece-se...as pessoas acenam-se e numa realidade surreal, afasta-mo-nos de uma vida comum banal, para um contacto com o humano, com os seus limites, com as suas provações, agradecendo o chão que nos acolhe, onde nos deitamos e "esteiramos" o corpo cansado...acabam-se as esquisitices da cidade, da rotina, do garantido...e passa-se a a ser agradecido.

A dependência nutre-se pela independência, o eu tem espaço e no entanto, pode tão facilmente ser esmagado pelo bem maior...não chego, nem caminho só...vou só, e caminho com...

Somos irmãos, unidos pelos pés de fé...caminhando até...