sábado, 19 de maio de 2012

Sentir profundo...











Sentir profundo este que me assola o ser, que me esvazia a alma...
que me faz querer,
ser mais do que eu sou,
e dar-te mais do que me pedes.
Sentir profundo este que me enlouquece, que me esvazia a alma...
e me faz sentir, vazio em tudo o que te dou.

Que loucura é esta, em que sinto o teu amor e o meu,
mas...o desafio da vida me faz perder o norte e a sorte de te ter, ou compreender.
Sentir profundo este em que me entrego, e que me ofende, quando não me entendes.
Sentir profundo este que me empurra e me sufoca, que me entrega e me prende...
Que teias são estas em que me perco seguro de mim e do meu sentir...
Que enleios são estes que eu crio, onde me enrolo e não te sinto.
Que âncoras são estas que lanço, e me prendem e não me deixam ser...
Sentir profundo este que me assola o coração, que me esvazia a alma...
que me faz querer o que não quero e perder o que já tenho.
Oh minh'alma, que sentir é este,
que seguro entre mãos, e que me confunde o coração.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Reanimar, reavivar...dicas daqui, prática daí...

Texto de hoje...público alvo: casais
Porquê? 

Porque amar, dar e receber é difícil, porque manter viva uma relação dá trabalho e às vezes faltam ideias. Porque reavivar a chama é necessário, para que a relação, dure...dure...dure, e o prazer de amar seja sentido em pleno. 

Vão-me dizer que não há tempo, dinheiro, paciência, para que muitas das coisas aconteçam, mas essas desculpas, são doces músicas que vocês tocam aos vossos ouvidos para lidar com a falta de forças para mudar, a pouca motivação para fazer um esforço, num mundo de esforços continuados, e muitas vezes o comodismo de chorar o que não se tem, em vez de fazer algo para se ter, porque esperamos que o outro siga primeiro, dê primeiro...sei que estou a ser dura, mas não estou a fugir da verdade.

Eu costumo usar uma metáfora com algumas das minhas clientes que estão solteiras e, ou, divorciadas, que vão sentindo a falta de uma companhia masculina e que ao não fazerem nada, mas mesmo nada, para encontrar essa figura, eu as questiono se estão à espera que os CTT lhes enviem a pessoa ideal, ou passe a contratar homens tipo versão masculina das meninas da bilha do gás...isto porque ficar à espera não só é doloroso, como não muda nada, e trás muito ressentimento e pouca felicidade.

De forma muito directa e por experiências acumuladas, deixo-vos algumas ideias práticas, rápidas, baratas e de sucesso garantido, independentemente do género, ou das dificuldades em que estejam.

Façam de uma coisa mundana, como ver um filme juntos, um momento especial e diferente, para que não adormeçam com o cansaço da Vida...façam-no na cama e não na sala, e às vezes basta adicionar umas pipocas, e fazerem uma escolha adequada, aventura, comédia, etc...para que a noite vos desperte.


Amealhar para um objectivo comum de casal...uma escapadela nocturna, um jantar especial, uma coisa que ambos queiram para utilizar em conjunto (bicicleta, mp4, etc.), uma viagem, coisas pequenas e que se amealhe com alguma rapidez...e que rapidamente o casal goze o momento...há móteis a 30 euros a noite...

Criar momentos de conversa e partilha, com afecto genuíno de amigos e companheiros. OUVIR, dar a vez, PARTILHAR, TOCAR no outro, só vocês existem naquele momento, não há telemóveis, filhos, televisão, trabalho...só vocês! Conversar sobre um sonho que ainda não realizaram, um segredo, uma fantasia...dar ao outro a conhecer algo desconhecido, trazer novidade e entrega.


Ainda que não estejam juntos, às vezes, um pequeno toque de presença, de entrega, de "estou aqui", chega para nos sentirmos próximos, não perdermos a familiaridade de ontem, do antes...podem estar em casa, mas cada um na sua vida, e um toque de passagem, um olhar, um beijinho ou uma festa, aproximam...mantém a ligação, fortalece.




Cinema verdadeiro....filas de trás, escuro, um toque, um abraço durante o filme, uma discussão depois do filme sobre o que acharam, sobre o que gostaram, um passeio de mão dada a partilhar o momento vivido...acabar a comer algo na beira da estrada a caminho de casa, a fingirem que são livres...de tudo, que o tempo é vosso e não acaba.

Um banho a meias, pode ser, com ou sem sexo, mas, tem de haver tempo, partilha na lavagem, uma parte de vós é lavada pelo outro e vice-versa, e resulta ainda mais se não existir sexo naquele momento, e durante o dia, cada um tentar lembrar o que sentiram com o toque do outro...fantasiar o que ficou por fazer. Apreciar a intimidade que existe e que permite a maturidade da relação, a ausência de vergonha e de pudor, a entrega simples de um corpo.

Procurar locais belos, bonitos, com paisagens de encantar para apreciar um pouco da vida em conjunto, em paz, com tranquilidade, e apreciar o estar vivo, ao lado do outro, com a possibilidade de usufruir dessas visões da natureza. 
Respirarem, permitirem silêncio e apenas proximidade física, abraçarem-se em observação e entrega.
Momentos de família lúdicos, divertidos, que vos recordem do prazer que há, em ter filhos, porque decidiram fazê-lo, para que sejam crianças com eles, para que ao estarem a sós não sintam culpa por não estarem com eles, para que se sintam realizados na família que construíram. Para que sintam a força da vossa união.
SURPRESA, SURPRESA, SURPRESA...nunca falha, e não é preciso quantidade, mas sim qualidade, não é preciso ser muito caro, é preciso que seja um tiro no centro do alvo...é a prova de que pensam em nós, que dedicaram um momento de ausência, e que mesmo assim, estivemos presentes...é perceber se sabem os gostos, as preferências, se nos ouvem...é o inesperado, é infantil, é vivo...excita, acelera o coração, dá esperança....façam e repitam.




Comer juntos, dar comida um ao outro, brincar, apreciar em conjunto..a comida está associada a cuidar de, a provocar reacções de prazer, usem-se disso. Mimem-se através do que gostam, num momento a sós, e especial...pode ser na relva, na praia, na cama, na banheira...façam...

Rir, rir, rir...é lindo ver rir, é contagiante, aproxima-nos desse alguém, e cria laços de simpatia e proximidade que duram tempos, e apaziguam os momentos menos bons. Rir desintoxica, descomprime, liberta e é excitante, libertem-se e riam, de parvoíces que fizeram ou disseram, riam um com o outro, sejam amigos...nós rimos com os amigos.
Improvise, surpreenda, num momento não programado, dance ao som de uma música que não está lá, cante baixinho para o outro a vossa música e não se envergonhem de cederem a uma loucura momentânea que vos aproxime. Brinquem um com o outro, sintam o frenesim que sentiam, não se retraiam a pensar que estão velhos para isso, ou que é infantil...é libertador e fortalece o que sentem, relembrando tempos idos...


Partilha, malandrice...olhares que se trocam, peçam coisas que ambos querem provar e façam-no a meias, poupam dinheiro e criam um ambiente que vale a pena.
Brinquem no inesperado, façam saltar o humor, apalhacem, partilhem momentos que consigam registar como inesquecíveis, essas são as energias de reserva para os dia não, para os momentos em que o outro nos tira do sério...estas são as reservas dos ursos, poupem-nas, mas não se poupem a encontrar momentos onde as possam recriar...

Quebrem as regras, fujam de casa, e comam onde não há que limpar (muito pelo menos), escolham as comidas favoritas, levem vinho, velas, música, manta, livros, toalhetes, cartas, bloco de notas,e libertem-se num sítio onde possam dormir, comer, ler, voltar a comer, conversar, ter ideias, fazer pedidos, abraçar...o resto acho que posso deixar para a vossa imaginação...cheguem lá cansados pela caminhada, ou de bicicleta, o cansaço relaxa as defesas e torna-nos mais receptivos ao outro. Experimentem.
Roubem a playstation aos miúdos e joguem...compitam um com o outro, arranjem prémios e perdas, entreguem-se ao jogo, quanto mais infantil for, melhor...e sem violência claro...jogos de procura, de conquista, de perícia...depois contem como foi.




Prazer em simultâneo nas mãos de outro, e na presença de ambos...relaxem. Mimem-se, numa oferta de ambos, façam-no durante um dia inteiro, algumas das coisas podem vocês fazer em casa, sem grandes custos...e à noite falem sobre como se sentiram, quão importante foi relaxar, não sentir pressão para fazer coisas que não queriam.

Criem rituais vossos, nos dias que para vocês têm significado, façam os vossos feriados de amor, o dia em que trocaram o primeiro beijo, o dia em que disseram sim, o dia em que disseram "amo-te", etc..., nesses dias vossos, celebrem, à vossa maneira, com rituais criados e combinados  por vocês.




Romantismo é estar, e olhar o outro com amor, nós sentimos, nós sabemos. Romantismo é dizer ao outro por gestos ou palavras o que significamos, com velas ou sem velas, tem é de ser sentido e vindo daquele sítio de onde não mentimos...ser romântico é ser capaz de entregar ao outro aquilo que queremos também nós ter...olhem-se, vejam-se, não se ocultem, não deixem que nada do outro vos escape, isso é romântico.


Cartas de amor, quem as não tem??? Ridículas? Sim, têm de ser...senão não são cartas de amor...escrevam-se de vez em quando a dizer ao outro o que ele ou ela vos faz sentir, a agradecer, a pedir, a dar, uma carta vale por mil palavras, está escrito, é um contrato, arrisquem-se, é uma bonita surpresa.





Cozinhem juntos, façam tarefas da casa juntos, fortaleçam a sensação de uma equipa única, e não de duas, ainda que em sintonia. Cozinhar, implica cheiros, sabores, etapas, esperas, toques, ajudas. Implica aprender, harmonia, sintonia, proximidade, e as vossas ligações fortalecem...é estranho e difícil a princípio, com o tempo supera-se e é agradável, é especial.



Compras...para a casa, para nós, para elas, para eles, não as façam sempre sozinhos, convidem-se, mostrem-se, peçam opiniões, escolham em conjunto. Ajudem-se, fortaleçam, uma vez mais a equipa, conversem, combinem refeições especiais, escolham uma roupa especial, divirtam-se, negoceiem, cedam, peçam...fantasiem, sejam companheiros...riam ao vestir coisas que não são vocês, comprem algo às escondidas e dêem em casa...escondam na cama e dêem pistas, com prémio no fim...



Imaginem, inovem, não se desculpem com tempos que não existem, é só o que vos peço, e confiem, no que sentiram em tempos, está lá tudo, às vezes enterrado, mas está.

sábado, 12 de maio de 2012

És diferente de mim, e depois???

(Este texto está escrito para que ambos os géneros se consigam identificar, não falarei nem no feminino, nem no masculino, falarei da diferença em nós casais e deixo-vos o desafio de não desistirem...)

Conheci-te no meio de outros, e reconheci em ti quem eu queria, amei-te desde ai, vi coisas que eu não tinha e soube que tinhas de fazer pare da minha Vida...enamorei-me, e entreguei-me...sabia que ias fazer parte de mim da minha vida, que me ias complementar, e fantasiei esta ideia, sem deixar espaços para os momentos em que essas diferenças, não fossem graças, não fosse interesse e me deixassem a pensar, quem és tu?


O que me dás? O que tenho eu de lutar para te ter, para eu ser? O que te dou eu?

Somos diferentes, sei eu agora, sempre soube, somos distintos, sei eu agora, sempre soube, e neste caminho perdi-me e agora luto para que sejas igual...agora quero que me entendas sem que eu te entenda, agora espero de ti, o que não é natural, e dou-te o que sei e, o melhor que há em mim, mas parece não chegar. 

És diferente de mim, e depois??? Porque me importa isso, se sempre foste, que esperava eu deste caminho de diferença? És quem eu amo, és um ar que eu respiro e conheço, és quem eu admiro, és quem eu adoro e preciso, mas de repente parece que vejo em ti coisas que não gosto...és diferente de mim.

És em quem eu confio, és quem eu quero ter como companhia, mas de repente parece que não me queres a mim, ou sou eu que não sei ler, não sei estar no teu lugar. Que queres tu de mim? Será que sei...Que quero eu de ti?

És diferente, eu sei, e depois? Faz diferença? Quero que não sejas, ou não sei eu agora aceitar essa diferença, e com vontade continuar a fazer disso o meu desafio. Não me entendes parece-me a mim, não te entendo parece-te a ti...que linguagem falamos nós nestes momentos, em que nos olhamos e só vemos a diferença? Em que vemos estranhos e não amantes antigos.

Quero eu agora harmonia e paz na relação, como se duas metades nós fossemos, e com isso ver morrer o que somos? 

Será que morríamos na igualdade? Será que nos entendemos desse modo?? Será que esta igualdade nos faria um complemento? Um melhor entendimento? Ou essa igualdade secaria o terreno em que plantámos um começo, e deixamos crescer o nós que somos? Será que há mal em estar em baixo, quando estás em cima? Será que sei ser feliz ou infeliz, sem que tu estejas comigo na tua diferença? Será que sei continuar a dançar contigo, daquela maneira que nós sabemos, só nós?




O que me enamorou em tempos não está cá agora, ou eu estou mais renitente em lutar por subir essa diferença, escalar esse desafio, e dançar à tua volta fazendo-te de vez em quando seres igual, outras vezes cedendo eu, e sendo eu a perceber que não posso ser diferente.  Porque já não olho eu para ti, com a curiosidade de querer conhecer? Porque já não quero eu entender a tua diferença? Porque já não vou eu a meio caminho, ou o caminho todo, só para te ter?

Olho-te e questiono-me se sempre soube quem és, se sei quem foste?

Mas, que digo eu...não desistas de mim, e que eu não te perca agora...que eu encontre forças para lutar e se te quero tanto, vou fazer com que sejamos metades iguais, e metades diferentes, e vou fazer com que seja essa a natureza do nosso amor, que seja esse o desafio.
Não desisto de ti, e todos os dias da minha vida, ao teu lado, vou querer beber da tua diferença e lutar para que me entendas, vou discutir todos os dias, para que falemos a mesma linguagem, até que nas nossas diferenças, haja uma linguagem comum, em que eu e tu, somos um do outro, diferentes, e depois???
Será que isso importa?
Somos diferentes, e depois?
Depois seguimos em frente, um do outro, a lutar por sabermos quem somos, e a sabermos dar ao outro o que o outro quer, não o que eu quero dar, a pedir ao outro o que eu quero, não fingindo gostar do que recebo, se assim o não desejar.
E assim seguimos diferentes, capazes de aprender a amar e a tolerar, a aprender a ser melhores e a sermos maiores que nós mesmos, nesta união de diferenças que junta forças capazes de vencer os desafios, que vive uma luta diária, mas que com isso carrega uma chama de vida e paixão, que não apaga, que resiste, não desistas de mim, que eu não desisto de ti.
Somos diferentes...vamos em frente, e depois?
Logo se vê...

terça-feira, 8 de maio de 2012

Culpas...carrego, desilusões e pressões


Nota Inicial
  • Este texto é dirigido essencialmente às mulheres, que são mães, filhas, amantes, donas de casa e que trabalham no exterior, naquilo que podemos considerar uma carreira...(não fará mal aos elementos do sexo masculino lerem a reflexão, no entanto, o seu objectivo será então o de conhecer um pouco melhor o mundo interior de algumas mulheres).
  • Ressalva que quero fazer, vou escrever este texto generalizando estas vivências, com a perfeita noção de que muitas mulheres já não vivem estes sentimentos, no entanto, muitas ainda vivem, e muitas eu oiço e ajudo, e por elas e por todas as que assim se sentem, que fique aqui uma ode a todas, que vos inspire para que se libertem desses carregos.
(...)
Só sei que 

há vozes gritando 

a culpa que sinto 

pesar-me na alma, 
há ecos cavando 
a dor que pressinto 
em noites de calma... 

Só sei que 
suspensos enredos 
da minha agonia, 
urdida ao serão 
em grande segredo, 
tornaram vazia 
a minha intuição. 

Fiz mal? Sim ou não? 
Onde e quando? 
Dizei-mo, dizei-mo! 

(...)
Isabel Gouveia, in "Os Sete Dias Passados"

Vou iniciar esta reflexão, de uma forma um pouco diferente, vou começar por apontar ou definir os termos sobre os quais vou falar, de uma forma mais generalista, e após criar essa definição, ai sim, farei a reflexão mais personificada, tentando chegar a quem me queira ler...

O sentimento de culpa, faz-nos sofrer e resulta depois de termos passado por uma situação, em que julgamos que tivemos um comportamento reprovável. Quando sentimos que pecámos, ou que estivemos mal, errando no que fizemos. 
A culpa tem um sentido vivido no dia-a-dia, baseado neste sentimento de não termos feito o correcto e tem também em si o sentido religioso, por podermos ter transgredido uma norma, ou um tabu religioso. Claro que não necessitamos de ser religiosos para sentir culpa, pois na cultura em que vivemos, numa sociedade maioritariamente católica, este conceito transcende as paredes da religião e espalha-se como um componente de regulação comportamental alimentado pela cultura.

Por curiosidade, segundo os censos de 2001, 90% da população portuguesa, identificou-se como católica, podendo haver aqui uma reflexão a fazer, para entendermos que muitos dos conceitos morais e das exigências sobre as quais regemos a nossa vida, independentemente do nosso crer religioso, é influenciado pela cultura da sociedade em que nos inserimos, assim como a cultura de toda a nação.

Mais, as emoções provocadas por estes erros, e as reacções que temos face a estas culpas e desilusões, podem ser de tristeza profunda, de raiva, de vergonha, de remorsos, de paralisação ou impotência pensando que não sabemos fazer melhor, e tendem a tornar-se pensamentos recorrentes, que se tornam impeditivos de encontrar novas soluções ou de viver momentos de prazer. Nestes processos há quem se recomponha mais depressa, mas há pessoas que ficam num tormento renovado, com arrependimentos por decisões tomadas e sem capacidades de perdão ao próprio.

O meu objectivo é então o de nos ajudar, a nós mulheres a perceber um pouco o que nos faz viver estes momentos de culpa e carrego emocional, pressionando-nos além do que suportamos, e nesse processo arranjar uma solução, que nos permita pelo entendimento, uma viragem e uma vivência positiva.
O que carregamos nós então?

Pensem que o que vou partilhar em seguida pode ser inconsciente, pois somos mulheres "modernas", e não acreditamos em muitas destas coisas, no entanto, no íntimo, existem umas vozes que tentamos não ouvir, mas que nos dizem baixinho coisas que nos deixam na dúvida, e que permitem que culpas desadequadas se instalem, e por isso eu falar nelas, ironicamente que seja, mas para que ganhemos consciência que algumas destas ideias disparatadas, ainda têm raízes dentro de nós, e por isso são relevantes.

Talvez o peso da geração anterior, que numa vivência distinta da nossa, nos ensinou a ter e a querer, ou não aceitar nada menos do que um lar limpo, arrumado, organizado, sem motivos de vergonha a qualquer hora do dia, caso viessem visitas...um lar que fosse a expressão da virtude da dona da casa, e todo ele entregue à responsabilidade dessa gestora do lar, que, na actualidade, já vai tendo muitas vezes um elemento de equipa que ajuda e colabora, mas que com isso, não livrou, ou fez desaparecer, os sentimentos internos femininos de que essa deveria ser a sua função sozinha, e que se "realmente fosse uma boa mulher" então deveria ser capaz de o fazer só. 

Mais, acrescentamos agora a ideia de que queremos estar sempre bonitas, em ordem, em forma, mesmo depois das gravidezes, para que os nossos companheiros(as) continuem enamorados por nós, e além disso, devemos estar disponíveis para momentos íntimos, ainda que não seja esse o nosso real objectivo naquele específico momento, pois essa também é parte da nossa função.

Temos filhos, e a eles dedicamos todo o nosso tempo, livre e não livre, pois mesmo não estando com eles, estamos a pensar a maior parte do tempo neles. Mas esse tempo todo que dedicamos, para nós é sempre pouco, pois muitas de nós também temos carreiras, não apenas trabalhos, e como também temos que provar que somos iguais aos homens, competentes nas carreiras, gerimos os tempos em segundos, de forma a sermos competitivas e boas profissionais, e conseguirmos ainda e também, chegar a casa e sermos e competentes e boas mães.

Nesse momento podemos ainda acrescentar que provavelmente estamos a fazer o jantar, que fomos decidindo ao longo do dia, enquanto orientamos os banhos e os TPC dos filhos, e que no meio de tudo isto (que eu resumi, e não alonguei, pois a lista facilmente poderia ser demasiada para o âmbito do blogue), às vezes ainda vamos fazendo uns telefonemas às nossas mães a saber como foi o dia delas, ou a uma amiga, que sentimos ter tido a voz "murcha".

Que o discurso não anule o papel dos homens da nossa vida, pois muitos deles já vão partilhando estes momentos, quase que alucinados, de tanto que queremos fazer em tão pouco tempo. 

Mas, também não quero descurar que é muito mais no feminino que recai a responsabilidade da gestão do lar, desta organização invisível que assegura a rotina diária, e acima de tudo, para o propósito da reflexão, destacar que é muito mais feminino, assumir que podemos fazer tudo isto, de forma perfeita, no seu devido tempo, e se isso não acontecer e não sentirmos que o tempo está bem distribuído, sentimentos de culpa avassalam-nos e roubam-nos de tempos individuais que poderíamos ter, dos tempos de casal que são cruciais para o equilíbrio e para a base de qualquer família.
E essas culpas que carregamos, que nos aumentam as pressões, para além de nos aprisionarem em mundos irreais que aparentam não ter solução, fazem-nos sentir constantemente em falta, tornando-nos seres que na busca da perfeição, ficamos amargas e cada vez mais sentimos culpa, pois cada vez mais sentimos que nos foge o tempo, e que temos de nos confrontar com a imagem de que não vamos conseguir ser perfeitas em tudo, e gerir tudo de forma a que todos os mundos fiquem em harmonia.

O nosso bem-estar vai passar muito, senão totalmente, por perceber que estas vozes, não nos ajudam, por perceber que há áreas que necessariamente terão de ficar menos cuidadas, aprender a arranjar ajuda (gratuita, voluntária ou paga), para as coisas das quais não dependem os meus verdadeiros valores, e optarmos por entender que há aqui um caminho e uma direcção que se não for respeitada, vai fazer com que todos estes nossos desejos de dar o máximo, de se estar em todo o lado, e de nos entregarmos a 110%, se tornem inválidos e geradores de culpa, remorso, e em última análise uma insatisfação permanente.

Que direcção é esta de que eu falo, é uma direcção que protege a minha identidade enquanto pessoa, levando-me a perceber que para eu ser boa mãe, filha, amante, trabalhadora, etc., eu tenho de estar bem, tenho de algures na gestão dos meus tempos perceber que há momentos que vão ter de ser só meus, para que eu ganhe energias, para que me respeite, para que o meu eu não se perca nestas corridas, e isto só funciona, se eu conseguir fazê-lo, silenciando as vozes que me roubam a tranquilidade e me podem estar a acusar de ser "má" qualquer coisa...preciso de um banho sem pressas, preciso de um café numa esplanada, sem estar a pensar em nada, de um mimo a mim mesma de vez em quando, de uma ida ao cabeleireiro, de uma leitura à beira-mar, etc...

Esta direcção é também aquela que me ensina a respeitar a base da família, a encontrar um tempo para o casal, sem filhos, sem culpas, para que a equipa não se desmonte, para que a distância seja curta, para que um olhar seja compreendido, pois a sintonia não está em risco. Para que fazer amor, não seja mais uma tarefa a gerir e a colocar numa agenda de afazeres, em que o cansaço acumulado, me obriga a adiar a sua realização.

Esta direcção é aquela em que aprendo a estar com os meus filhos em momentos puros, em que não faço 10 coisas mais, e em que sinto, que não lhes dei de mim, por isso nos meus agendamentos, tenho de me organizar para que duas a três vezes por semana, o jantar, ou a casa, não me impeçam de brincar, de ir ao parque e roubar meia-hora à agenda, e assim sentir que aquele momento foi mesmo só deles, com atenção dedicada.

Esta direcção é aquela em que eu aprendo a tirar partido de sermos de forma inata boas gestoras, e conseguirmos ter ideias que nos permitam, enganar o relógio, para enganarmos as vozes...

A culpa, pode ser um sentimento completamente inútil se não nos perdoamos, e se não a usamos para mudar, para perceber que às vezes as suas origens são irreais. A Vida mudou, a sociedade e nós mulheres ainda nos estamos a habituar ao que significa gerir esta mudança de papéis e exigências, fazendo com que isso seja coincidente com uma mudança no que as vozes nos dizem, com aceitarmos que novas expectativas têm de ser desenhadas e que não vamos conseguir gerir tudo com o mesmo grau de qualidade, o que implica decisões e escolhas...o que implica ter a noção dos tempos que são importantes proteger, e os sentimentos que são importantes manter ao largo.

Usemos criatividade, boa gestão, recursos, gestão partilhada, horas que supostamente nem existiam, e vamos aprender a viver estes novos tempos, nesta nova era, livres do carrego, e do peso de sermos muitas vezes incapazes de nos perdoar a nós próprias.

Sejamos as mulheres que somos, na diferença de quem partilha a Vida connosco, e com isso, sejamos uma balança de dois pratos, em equilíbrio...corram com as vozes da vossa vida, oiçam o coração...que estará mais certo muitas das vezes. 

Sejamos as mulheres heroínas que todos os outros vêem em nós, sejamos nós mesmas, tão capazes de ser!



As escolhas que não são tuas...


Escolhas, caminhos, de presente e de passado...decisões diárias, a todo o momento. 

Escolhas na procura de decidir certo, de ser feliz, de se alcançar o que se quer...

Sigo em frente, ou volto atrás? Os caminhos da nossa vida de que dependem, quantas decisões tomamos por dia? 10, 100, 1000, quantas têm importância, quantas não a têm? Mas nestes processos de quereres e decidires, vamos escolhendo os caminhos que nos levam aos amanhãs e aos desejos a alcançar. Mas se nos ouvirmos muitas vezes, principalmente se formos de gerações um pouco mais antigas, ou seja adultos no presente momento, sabemos que alguns dos nossos caminhos, foram trilhados por escolhas que não foram minhas, e hoje estou aqui, talvez por algumas dessas escolhas e não sei se sei lidar com o que sinto pelo caminho onde estou.

Por exemplo, quantos de nós escolhemos um determinado curso superior, porque os que queriamos foram apelidados de "isso não é para ti", com argumentações de que "com esse curso vais andar a pedir, não vais fazer dinheiro nenhum...", como estamos no hoje, a lidar com ir todos os dias trabalhar numa área que até aprendemos a gostar (ou não), mas em que determinados momentos temos discursos saudosistas do que gostaríamos de ter sido e não fomos, ou fazemos discursos, sobre a impossibilidade que vivemos hoje, no nosso presente, de dar vazão, ou encontrar a paixão de fazermos o que gostamos.

Porque nos deixamos ir atrás de vozes contraditórias, que nos sacodem no dia-a-dia, nos provocam sensações de querer rebelia, ou de nos sentirmos sós e incompletos. Porque deixamos nós que escolhas que não foram nossas nos impeçam, de encontrar equilíbrios no hoje, no agora.

Porquê no meio de tantos trilhos e decisões, continuamos muitas vezes a seguir escolhas que não são nossas, porque não paramos por momentos para com criatividade, nos inspirarmos e conseguirmos com uma boa gestão da nossa vida um equilíbrio entre o que sou hoje, e aceito, pois fui responsável pelos caminhos e escolhas que cá me trouxeram, mas assumo também, que no aqui e no agora, vou tentar trazer momentos em que consiga encaixar nesta vida rápida e fugaz, aqueles sonhos que ficaram pelo caminho, e que fazem com que não me sinta eu, no meio da vida que é minha.


Vou tentar fazer com que o caminho que percorro, não seja vivido como um árido deserto, em que os meus sentimentos de encontro comigo mesmo e de felicidade, sejam tão raros que não sinta nem sequer vontade de sonhar com algo mais, quase que como estando anestesiado no caminho que faço, as minhas escolhas agora, ainda têm o poder de fazer com que este caminho seja um misto destes dois mundos onde eu me encontro, com momentos de maior sacrifício, e momentos de maior prazer.


Vou tomar balanço e não deixar que escolhas passadas me impeçam de tomar novos rumos nos mesmos caminhos, ou retomar caminhos paralelos que neste meu universo, me permitam encontrar o melhor dos dois.


Certo de que neste movimento pretendo reencontrar aquela parte de mim que se perde, quando começo a falar do que não fiz e gostaria de ter feito. 
Posso ir estudar de novo?
Posso  ir aprender teatro?
Posso pintar?
Posso voltar a jogar à bola? Posso fazer qualquer coisa? E os filhos? E o trabalho? E os horários?
Posso mudar de emprego? E as responsabilidades que assumi?
Estarei a deitar tudo fora ou para trás?


Não! Podemos sempre, com um bom planeamento, equilibrar estes desejos de sermos também aquelas partes de nós que adormeceram nos tempos de escolhas que não foram nossas, e sermos aqueles que temos de ser para assegurar aquilo que faz parte da nossa vida e nos prende e responsabiliza, sem que isso necessariamente nos retire os prazeres de ambos os mundos, ao contrário, se eu me encontrar nestes espaços onde posso recuperar sonhos antigos, quando enfrento as tais ditas não escolhas, eu sou mais eu, eu sou mais feliz e por consequência tudo se torna muito mais facilitado. Encontro-me num caminho iluminado para mim e por mim, com ramificações dentro desse mesmo caminho, mas que permitem cumprir com aquilo que defini como as minhas responsabilidades, como aquelas decisões em que não posso voltar atrás, mas, consigo fazê-lo, tendo pequenos desvios que me permitem ser eu, aquele eu, de quem eu tinha saudades, ou que nunca cheguei a ser.


Aceitei o desafio, e dentro da rotina, escolhi de novo, e consigo não só ir num caminho, como iniciar outros. Ir num sentido e noutro, não é de todo impossível...se não for em simultâneo, claro.


Exemplo, para que não me digam ou pensem: IMPOSSÍVEL...imaginem que eu adorava fazer ginástica, e que por causa da vida, dos filhos, do trabalho, do dinheiro, dos horários do companheiro(a), não consigo, foi coisa do passado, foi coisa de há décadas atrás...escolha que não foi minha, a Vida conseguiu impor-se e o seu ritmo deixou que a minha pirâmide de decisões e prioridades fosse dando a vez a tudo o resto. 
Ok. E agora? Agora eu quero encontrar o prazer que tinha quando saía das aulas de ginástica, ou de uma corrida à chuva, ou de um jogo de voleibol na praia. E então, que faço? Organizo-me com a minha cara metade, e decido se há dinheiro, que tempos tenho, que ofertas são as mais adequadas, escolho situações em que o compromisso inicial não seja muito, para me sentir livre de testar esta nova decisão, e implemento, e vou em companhia do companheiro, avaliando, consoante o tempo me mostra onde funciona, onde falha e acima de tudo, como me vou eu sentindo, nesta retoma de uma vida fisicamente activa, com a colaboração da minha família toda. Assim não falha, a escolha é minha, e o caminho é partilhado por todos os que me importam. 


Entrego-me em esperança a estas escolhas que me levam a novos caminhos, como o trapezista, com uma rede cá em baixo, a tornar todos os seus movimentos, por muito arriscados que seja, a serem movimentos seguros, em última análise.


Não deixem que escolhas que não foram vossas vos impeçam de no agora, neste mesmo momento pensarem, em como se podem encontrar convosco mesmos, e encontrar caminhos novos para vos fazer sentir vivos, e activos nas escolhas que podem ainda ser. A vida é breve, escolham bem!





quinta-feira, 3 de maio de 2012

Desafios...



Desafios...

Hoje conheci uma pessoa que me disse que todos os Domingos na sua ida à missa, tenta relembrar-se do seu objectivo de tentar ser melhor todos os dias, e embora às vezes sinta que não consegue, disse-me que não desiste e que isso a motiva a continuar a fazer o esforço todos os dias...e não deixa de ir à missa para se relembrar.

Achei que este é um verdadeiro desafio, e uma entrega imensa, um desejo de seguir aquilo em que se acredita, e que para mim, me lembra o que vos vou pedindo em quase todas as minhas reflexões. 

Se pensarmos bem, em todas as nossas questões pessoais, se tentássemos ser melhores, sempre melhores, e resolver o que enfrentamos pelo lado mais positivo, se tentássemos só um pouco, a maioria das vezes grande parte dos nossos problemas não o eram, eram apenas desafios que lançados a nós mesmos, nós com uma fé nas nossas capacidades, de aprendizagem, de amor, de entrega, seríamos então capazes de aceitar o que não está bem, procurar soluções, e crescer na partilha do que não correu assim tão bem, e amanhã estar cá de novo para me entregar e levantar, aceitando os desafios de hoje, esquecendo o passado, de ontem, que só me ensinou, me empurrou, para acreditar que hoje serei melhor, e não me deixando prender a ontem, o meu dia pior, pois hoje é, e vai ser, melhor....tem de ser, não aceito menos do que isso. 


O que dificulta a aceitação das situações de conflito ou problemáticas, como desafios, que eu, tentarei resolver, e que com isso, me melhoro, enquanto pessoa, é que muitas vezes não nos damos o tempo necessário, para que no final do dia, possamos questionar como foi, o que correu bem, o que gostei, em que fui bom, em que fui feliz. E para além disto tudo, também pensar onde não estive eu à altura de quem quero ser...como posso aprender com isso e com novas armas enfrentar os desafios de amanhã. 

Tempo...e às vezes vontade, pois estas viagens ao interior da nossa alma ou ser, precisam de uma coragem especial, uma maturidade que nos permita não ficar infeliz porque não correu bem, mas sim encontrar nesse processo a força para subir de novo...não me lembro onde ouvi isto, mas achei de uma força extraordinária, e penso que se adequa à mensagem que vos quero passar: "Na vida cai-se 7 vezes e levantamos-nos 8". Acho que é isto mesmo que eu vos quero dizer, se não fugirmos ao silêncio de reflexão, e a um tempo que existe à noite, em todos nós, podemos fazer esta análise, e tomar notas metais dos esforços que amanhã vamos por em prática. 

Amanhã terei tempo para esta caminhada, e neste desafio ganho força, ganho paixão por quem eu quero ser, sempre no meu futuro, que é o instante que se segue a eu tomar conhecimento, que fiz algo de que me arrependo.

Ou seja, precisamos de entender que não é um problema, mas sim um desafio.

Que não é imutável, e eu posso ser melhor, preciso é de um tempo em que analiso, e ganho forças para a mudança.

E na mudança, assim como me arrependo, perdoo; assim como me entrego, exijo; mas acredito, invisto, porque aceito o desafio em mim e nos outros...e em vez de me perder em labirintos de culpas, mal-entendidos, discussões irreparáveis, eu defino as regras, tomo posse, e a qualquer nova problemática, a qualquer novo desafio, eu sigo os meus passos, definidos no meu coração, movidos pela paixão de viver uma Vida mais feliz e faço de um problema uma solução, de um desafio, uma estrada a caminhar. E atravesso o labirinto, em desafio a mim, à Vida, e a todos os que venham comigo.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Homens e Mulheres, diferenças grandes e pequenas, e lista de queixinhas...



Diferenças de género, diferenças de feitio, diferenças de personalidade, diferenças de quereres, diferenças de amores...tanta diferença, só pode resultar em listas infindáveis de queixas que teimamos em fazer na nossa cabeça, como se pudessem vir a ser úteis um dia, para alguma coisa...engano nosso, temos de ter muito cuidado com as listagens que fazemos, e o uso que tencionamos dar a este encontro em que decidimos realçar aquilo que nos torna diferentes, seja dos nossos amores, seja dos outros com quem interagimos nos nossos dia-a-dia, e com quem cruzamos caminhos.

Nesta reflexão vou falar um pouco sobre estas diferenças, identificá-las e talvez até mostrar que as conseguimos normalizar, e de todas elas, podemos criar, um certo equilíbrio de complementaridade. As diferenças estão lá de nascença, de herança genética e histórica, com comportamentos tão arcaicos e "dinossáuricos", que nos diferenciam desde o nosso primeiro dia...depois vem a cultura e o meio, depois vem o viver, a nossa história individual, e daquilo que parece uma diferença global surgem diferenças exclusivas e individuais...na minha reflexão oscilarei entre ambas. Nas minhas conversas costumo dizer que todos nós carregamos connosco, malas de viagem, cheias ou carregadas com o nosso passado, e elas vêm sempre atrás de nós...não se afastando muito.

Vou partir de alguns pressupostos para que a reflexão faça sentido e possa ganhar algum humor...

Pressuposto 1: Os homens e as mulheres são diferentes.

Pressuposto 2: Há homens diferentes de outros homens e há mulheres diferentes de outras mulheres, mas isto não invalida o pressuposto 1.

Pressuposto 3: Há diferenças que são universais e generalizáveis, há igualdades que também o são.

Pressuposto 4: Há homens parecidos com mulheres e mulheres parecidas com homens, o que também não invalida o pressuposto 1 e reforça o pressuposto 3.

Pressuposto 5: Podem procurar de maneira diferente, expressar de maneira diferente, pedir coisas diferentes, mas ambos os géneros querem ser amados.


Conselho: Para os homens, este texto talvez deva ser lido em duas partes, para que não me acusem de novo ;0), de me estender em explicações que podem ser mais directas e menos floreadas (factor tipicamente feminino)...avisarei quando devem pausar a leitura.

Começo por relembrar que todos nós usamos algum humor, que nos permite, muitas vezes aceitar estas diferenças e até brincar com elas, sendo que aparentemente estas são os elementos que nos tornam seres distintos, mas que explicam por vezes a dificuldade em partilhar o mesmo ponto de vista ou falar a mesma linguagem.

Será mesmo que as mulheres só pensam em amor, em encontrar a relação perfeita, quase que platónica, e apaixonada, e os homens só pesam em sexo, ou grande parte do tempo é o pensamento predominante? Será que as mulheres quando se observam, estão sempre descontentes com a sua imagem, com o seu corpo, vedo uma "gordura" que pode ser inexistente, fazendo com que necessitemos da confirmação masculina para gostarmos mais de nós, enquanto que os homens, são muito mais seguros de si, e têm uma imagem pessoal óptima, idealizada, em que não encontram falhas na sua pessoa/corpo?

Será que os nossos cérebros, estão estruturados para que algumas das nossas diferenças, façam parte do que nos é essencial e controle grande parte, senão todas as nossas actividades, e tempo de atenção ou dedicação, a determinadas acções?

Existem piadas, sobre a capacidade masculina de ter o seu cérebro repleto de interesses sexuais, e muito pouco espaço para ouvir as companheiras, ou investir naquilo que a mulher valoriza para chegar ao sexo, à intimidade, e isto é só uma brincadeira, ou é o humor que nos ajuda a ver as diferenças, e o brincar com elas surge como uma estratégia para nos adaptarmos a estas realidades e reagirmos de forma a que nas diferenças não se perca o essencial?

Será que só nós mulheres gostamos de comprar roupas, falar sobre roupas, experimentar roupas??? Será que todos os homens gostam apenas de pensar nas roupas para as despir, em nós e talvez neles?

Não estaremos nestes humores a exagerar e a criar um mito que depois tende a realizar-se, pois afinal parece que afinal somos todos assim...

(Faço a sugestão aos leitores masculinos, que deixem o resto da reflexão para outro dia...ou saltem para os dois últimos parágrafos, onde espero inspirar ambos os géneros)

As diferenças podem ser também vistas de uma forma diferente, em vez de sentirmos que cada coisa que nos faz diferente do outro é negativa, ou pode ser difícil de aceitar, pode essa diferença ser o positivo, o que nos ilumina, o que nos equilibra naquilo em que nós não somos ou temos...

Imaginem, eu posso ser uma pessoa mais preocupada, sempre a reflectir nas responsabilidades que tenho para com a casa, e a sua arrumação, a limpeza, e ordem...enquanto o meu companheiro, sendo mais descontraído nessa temática pode fazer-me sentir menos presa a esses conceitos, fazer-me sentir a leveza com que ele lida com o assunto, e ajudar-me pela positiva a encontrar um meio termo entre as exigências que coloco a mim mesma, e as ideias dele, de nos preocuparmos mas não em excesso...uma diferença que ilumina, que não afasta, que me ajuda...

A diferença pode fazer-nos belos e interessantes aos olhos dos outros, pelo menos na fase da sedução, do início, onde aquilo que não é comum me cativa, então, porque deixamos nós que aquilo que agradava e juntava as peças, afaste e magoe, separe e irrite...a exclusão do outro, a não aceitação dessas partes de mim e de ti, não favorecem o desenvolvimento de uma relação maior, mais profunda, faz-me(nos) sentir rejeitados, afastados da vivência a dois.

Verdade, que algumas diferenças podem parecer quase que forçar uma linguagem e comportamentos para com a Vida totalmente diferentes, para não dizer opostos, mas será razoável se pensarmos agora de forma distante, que é por diferenças dessas que às vezes nos zangamos com os companheiros, ou que é por diferenças dessas que não nos entendemos?

Quem deixa mais vezes a toalha do banho "molhada", em cima da cama? Quem demora mais tempo na casa-de-banho? Quem aprecia ver televisão em silêncio? Quem consome mais papel higiénico porque faz uns floreados com ele, antes de o utilizar? Quem perde mais tempo em prestar atenção aos pequenos pormenores, e dar-lhes um valor intenso?


Questiono-me, será que vale a pena estar a perder tempo em questiunculas deste género, em que as diferenças são encontradas como num daqueles jogos que sai na última página do jornal, em que é suposto descobrir as 8 diferenças?

Questiono-me porque o fazemos?

Acho que se torna um hábito, e como disse na reflexão "Conversas de corredor", acho que nos perdemos nestes hábitos, de conversas de corredor, desabafos sem ouvintes, mal-dizer que não cura, compadrio que não fazem companhia, que reforçam esta necessidade de encontrar no outro o diferente, o que não funciona bem, ou igual a mim, e assim justificar as falhas na relação ou as diferenças no afecto. Amarramos-nos a este funcionar que não funciona, que não une de forma solta.

E se nos víssemos como forças opostas, conjugadas em complemento, noite e dia, claridade e escuridão, com a hipótese de tais papéis se irem revertendo, como uma roleta russa consoante a Vida nos faz girar. Tu és bom  nisto, eu sou naquilo. Tu gostas disto e eu daquilo, tu desafias-me porque és diferente de mim, porque pensas de forma diferente, gostas de coisas diferentes, mas há uma área imensa entre nós, que é comum, que me atrai também e me é confortável, porque também não é um desafio constante. Então estávamos a caminhar para soluções e a focarmos-nos na resolução, no encontro e não no afastamento...na diferença, que é superior às vontades, muitas das vezes é simplesmente genética.

A relação tem de estar entrelaçada, amarrada, por afectos positivos e pelas diferenças conjugadas e negociadas em pontos de encontro sinalizados para que a sobrevivência aos tumultos da Vida e da relação, seja possível e positiva.

Das diferenças que se faça a união. Pescadores conseguem unir dois cabos de tipos diferentes, de espessura diferente, com o conhecimento de um nó, que não permite escorregar, quanto mais as cordas são puxadas, mas o nó se une, e impede que se desfaça, vamos tentar, perceber qual o nó que nos une, no meio das nossas desigualdades, sabendo desde já que umas nos aproximam, outras nos irritam, e que se não existir um trabalho, um negoceio, sobre as que nos irritam, apaziguado por tudo aquilo que nos une, então, esta comparação continua, e sentimos o poder de um género inteiro, para acusar aquele ser único, como sendo responsável por todos os males dos do mesmo género.

Que a nossa procura, pelo meio das nossas queixinhas seja a do equilíbrio, a da harmonia, a do encontro entre duas entidades que embora diferentes, na maior parte das vezes procura no companheiro essas mesmas diferenças, não procura monotonia...claro que também procura entendimento, a mesma linguagem, os mesmos desejos, mas tudo isso existe se permitirmos um diálogo aberto, em cedência e em total capacidade de aceitação do outro por quem é...pois foi por esse mesmo outro que me apaixonei perdidamente há um tempo. É com esse que eu posso encontrar equilíbrio, pois não há nenhuma relação no Universo reservada para mim, e que vai funcionar sem estes entraves ou engasgões...ilusão, todos temos o poder de transformar a nossa relação, na relação. Todos somos capazes de investir e resolver o que temos em mãos se existir motivação para isso e se o meu querer fazer funcionar, estiver acima da minha vontade de desisitir ou deixar ir.

Não deixem ir, lutem, anulem as diferenças, reforcem os laços, não se deixem escorregar, e num abraço profundo entre os dois prometam-se um ao outro, lembrando-se do porquê de estarem juntos...