sexta-feira, 30 de março de 2012

Eva e Maria...

Este texto, ou esboço, de pensares e sentires são provocações a nós mulheres e ilustrações para os homens que nos acompanhem...são partilhas dos problemas com que me confronto, no dia-a-dia, no contacto com o feminino, e com as suas lutas diárias para manter uma imensidão de papéis a funcionar, evitando as necessárias colisões.

Eva, a mulher dona de todos os males, pois foi acusada não só de se ter deixado ir pelas palavras da cobra, como também, de ter seduzido Adão, fazendo com que ambos perdessem o paraíso...que peso, estava ditado na história que nós teríamos muito que lutar para podermos vir a ser um alguém igual ao sexo oposto, mas, mesmo nesta luta havia algo que já estava ganho, tínhamos tido direito a uma força,  um poder sobrenatural que era atribuído a estes seres - o da sedução. 
Sedução que domina o ser oposto, dono da razão, dono da cognição, das palavras e da sabedoria. Mas, nós mulheres, nos nossos amores, quando realmente apaixonadas, mestramos as qualidades de seduzir, por que neste processo, fazemos o jogo da entrega total, da dependência, demonstramos o poder que o homem pode ter ou exerce sobre nós, e com isso, seduzimos, a estados de inquietação os companheiros com quem partilhamos estes encontros de alma e coração. Não falo dos encontros de cama e sofá, pois esses serão sempre abordados separadamente.

Nós mulheres quando vamos crescendo e desenvolvendo a nossa personalidade feminina, vamos tomando posse dos nossos atributos, ganhando confiança em quem somos, aquilo que é belo em nós, e como podemos dar brilho à nossa pessoa, só pela confiança com que nos entregamos ao amor.

Neste processo, vamos sabendo o que queremos do amor e dos nossos companheiros, e vamos sabendo o que eles querem de nós, e nestes momentos de entrega, não há nada que impeça a entrega total, o desejo, a libido. Há sexualidade, há sensualidade, há vontade e há hormonas que se libertam e fazem tudo isto funcionar como um motor bem cuidado, a que nada falta. Claro que me podem dizer que nas histórias de amor, na intimidade, na sensualidade ou sexualidade, há sempre arestas a limar, questões a debater  e a melhorar. Sim, é verdade, mas os componentes estão todos lá, e focados nessa direcção, não só porque amamos, mas também porque queremos o outro emocionalmente, e, porque tudo em nós pede o outro, permitindo aprendizagens de intimidade que não se perdem, encantam e aproximam. O amor funciona, o outro não se sente sem atenção, a líbido funciona, e é um gerador que se auto-alimenta.

Mas, nós fomos crescendo numa sociedade, de gerações, que os nossos pais, por muito que se amassem, mostravam-nos um afecto casto, no que se referia à sua própria relação. Podemos ter observado uma troca de beijos, um abraço, ou algo até mais atrevido, mas de certeza, que ocorria de uma forma fugaz, por isso (e claro que estou a simplificar todo o processo, pois o objectivo é provocar ideias, confrontos  e desconfortos) aprendemos a ter uma imagem que nos mostra que quando nos tornamos pais, nos tornamos seres a viver em função destas alegres criaturas que partilhamos e amamos muito. Vêmos que a vida de educar era coisa séria, e trazia rugas e preocupações, viamos os nossos pais, como entidades quase sagradas, nós mulheres víamos a nossa mãe, como aquele ser sempre presente quasi omnipotente, que me defenderia de tudo e que se dedicava mais a mim do que a qualquer outra coisa, até mesmo mais do que ao meu pai. "Mãe é mãe!", quantas vezes não ouviram esta frase, que implica uma total dedicação, mas que pode ilibar o pai.



Mas, esta reflexão também não quero que seja sobre maternidade ou paternidade, quero que seja sobre o fenómeno, que nos acontece a nós, mulheres, e às vezes as nossos companheiros, a partir do momento em que temos filhos, e além do papel de companheira, sensual, sexual, amiga, etc., passamos a ter o papel de mãe...o papel da cuidadora. E a partir do qual, forçosamente nos vêmos a dividir o tempo, a aprender a dividir o coração...a dar mama, a adormecer seres que dependem na totalidade de nós, e que nos entregam um amor cego de sobrevivência, seres esses capazes de nos seduzir e arrancar das mãos e abraços do companheiro que tanto nos ama. Que cambalhotas damos nós na nossa cabeça...quem somos a partir destes momentos, a Eva sedutora, sensual, que quer o marido e precisa dele como mulher, e que precisa dele para existir. Será que esta está lá sempre, a 100%, ou por vezes quem está é "Maria", a mãe, e a outra mirra, ainda que temporariamente.


Como nos vemos? Quem somos? Qual o papel a que damos mais importância agora? O que precisamos?

Aquilo a que todos somos forçados aquando o nascimento de um bebé, toca nos ritmos de todos os elementos de uma família, para além de tudo o que é belo, e que não preciso de salientar pois essa é a parte fácil, vem o desgaste, a diferença nas hormonas, da química, do tempo, as sensibilidades e disponibilidades, o cansaço, este novo amor...tanta coisa que se entrava, que aparece e se acumula naquele espaço de cama, que existe entre nós, e eles.

Mais, se na nossa cabeça ser mãe, tem como modelo aquele que temos das nossas mães, vamos ter de batalhar para não nos tornármos nuns seres assexuados, que neste novo papel de enamoramento, nos esquecemos que somos mulheres, que amamos os nossos companheiros, e que parte desse amor cumpre-se na intimidade, e não se riam, não estou apenas a falar de sexo, estou a falar de se ser intimo e de podermos ter no outro, aquele ser cúmplice que nos conhece melhor do que ninguém. Podermos devolder à relação aquele espaço em que ambos sentimos, que mesmo existindo filhos, nós somos um do outro, não nos perdemos, e que embora muitas das vezes este amor filial seja mais do que incondicional, há espaço para que o amor de homem e mulher não despareça, conseguindo o nosso companheiro ter ambas (Eva e Maria) a viver lá em casa.


Sejamos Eva ou Maria, somos capazes de entrega, seja aos filhos, seja aos companheiros, precisamos é de aprender a não permitir o desaparecimento de uma para o crescimento da outra, eles, e nós, precisamos das duas...assim equilibramos o feminino com o maternal, assim equilibramos a sedução, com a entrega do cuidar, assim, somos mulheres completas, em relações inteiras, não fatiadas, e com plenas sensações em todos os papéis que nos habituamos a gerir.


Sejamos mães para os nossos filhos e sedução para os companheiros...sejamos femininas e diferentes pois assim sempre foi, e é desta diferença e poder, que resulta o equilíbrio das nossas relações. Não se esqueçam de nenhuma parte de vós...o incompleto nunca chega a satisfazer.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Passado, amarras...prisões e desilusões...O papel do perdão.





A minha vida decorre no aqui e no agora...mas em certos momentos viajo, ao futuro, para fantasiar o que quero para mim e para os que amo, sonho com momentos de ilusão, em que consigo construir os momentos que ainda não vivi, e quase saborear o gostinho que me dará, se assim se realizar. 

Sonho comigo, sonho com os meus filhos, com o trabalho, com a vida a dois...parece um romance, que me faz, querer estar aqui e agora, para chegar lá. Para não estragar o fim, mas querer ler com calma e viver a aventura, cheia de pormenores que eu sinto poder ir acrescentando.

No presente, vivo, e tento fazê-lo intensamente, não só porque assim me obrigam os meus desejos, mas porque assim me foram ensinando as lições da vida e as pessoas com quem me vou cruzando, e que na minha vida deixam marcas de sabedoria.


Mas, confesso, como todos vós, que às vezes também viajo ao passado, para encontrar razões, para me lembrar de momentos ou ilusões. Para chorar quem não me acompanha agora, para lembrar um primeiro evento, para recordar sensações de infância em que não tinha pesos na alma, ou para me lembrar de feridas ou cicatrizes, que ainda doem. 

É um facto universal (digo eu, na minha ainda modesta amostra de sabedoria interpessoal), mas mesmo assim, nestas viagens há que ter cuidado, pois os propósitos podem ser bons, mas os resultados nem sempre são garantidos.

O que lá fazemos pode criar amarras em nós, saudosismos desesperados, que nos prendem nesses momentos, que na realidade são irrecuperáveis, e nos fazem ficar ancorados num momento, que na realidade sabemos que já passou, mas que na nossa vã esperança, vamos tentar repetir e emendar...crasso erro...Estas nossas tentativas esvaziam-nos, deixam-nos presos a algo que já foi, e que ainda que eu possa aprender a lição, tirar algo de positivo, de tais eventos, na maioria das vezes, se lá permaneço muito tempo, não emendo nada porque não posso, mas também não vivo, porque estou presa neste tempo que não existe entre agora e lá.


Passo a reviver o que foi, pensando como poderia ter sido, o que devia ter feito, como alguém me deveria ter apoiado, abraçado ou amado...e como tudo isto é de agora, e nada faz no que passou, cria vazios de dor, que eu não sei que lhes fazer. Mais, pode zangar-me com quem está comigo, porque sinto que ao estarem lá, também deviam ter entendido, o que entendo agora, porque preciso de partilhar a minha dor, e talvez por arrependimento, arrasto comigo, para esse espaço de tempo inexistente, os que amo hoje, culpando-os do ontem, que eles às vezes não sabem ou reconhecem.

Isto, porque na maioria das vezes ao viver o agora, que para esta minha reflexão eu quero que entendam que era o ontem, nós estamos a dar o melhor de nós, damos aquilo de que somos capazes nas circunstâncias em que estamos, e se damos o que há em nós, e o que temos connosco para dar, a dor do outro às vezes não é entendida, pois pode estar a ser ampliada, pela experiência, pela distância, pela saudade...O arrependimento, a incapacidade de ir cortando as amarras, conforme nos lembramos destes episódios, e vamos entendendo o que aconteceu, como aconteceu, e aprendendo que tudo tem uma justificação ou explicação, se conseguirmos viver os eventos pelos olhos de todos os intervenientes, faz com que este caminho pareça ter apenas uma direcção...e esta é a da culpa, da distância, da frieza, da amargura.

É um caminho que não resolve, pois estamos a tentar editar um filme que já saiu dos cinemas, e que não pode ser repetido de maneira nenhuma.

É um filme que ficou para trás, que temos de relembrar, pois muitas das vezes é o que faz de nós o que somos, mas, sempre com o entendimento, que não deixa de ser um filme, pois, quando acaba, e me encontro de novo, aqui e agora, tudo isto, por muito importante que me seja, ficou lá para trás. 


Que lições aprendi eu, ao ver e sentir estas emoções em mim e nos outros, que estes tempos de que falamos são passados a correr, e se me distraio, ficando num tempo que já não existe a tentar mudar o impossível, escapa-se das minhas mãos a oportunidade de fazer diferente no filme que ainda estou a filmar, e que me permite, ao editá-lo agora, fazer com que amanhã, também seja mais fácil, eu sentir que tenho controlo no decorrer do filme, ou pelo menos na escolha dos argumentos.

É agora que posso usar todos os meus recursos, os meus sentimentos, as minhas energias para tomar uma atitude que permita escrever o futuro, em vez de me preocupar com o apagar de um erro ou passado, que não deixou de desempenhar a sua função.




Pergunto, seríamos os mesmos se o nosso passado fosse diferente? Conseguimos gostar de nós agora, por quem somos e fomos, e dessa forma entender que esta construção resulta de tudo o que vivemos e não do que gostaríamos ou poderíamos ter vivido?

Podemos ou devemos, deixar ir, fazer com que estes momentos que nos magoam, recebam um entendimento e possamos assim despedirmos-nos deles deixando-os ir, como folhas que descem um rio, ao sabor das ondas que as levam. Folhas essas onde guardámos as nossas lágrimas, contámos as nossas histórias, e em voz alta as entregamos aos sítios onde fazem sentido estar, levadas pela vida, ficando apenas connosco, a imagem,  o sabor, a aprendizagem...aquilo que fez de nós um alguém melhor.

 A melhor maneira de escapar ao passado, 
não é evitá-lo ou esquecê-lo, 
mas sim aceitá-lo e perdoar.

Ophs! Já sei, já estou outra vez a falar daqueles "algos", que vos peço, que podem parecer simples, mas que não são, e que acima de tudo, faz com que vocês me possam dizer que dão trabalho, que às vezes parecem impossíveis de fazer. Verdade! É mesmo disso que estou a falar, mas para quem me vai conhecendo, eu sou persistente, e acredito em determinados fenómenos, que se receberem atenção suficiente, se simplificam, e nos permitem fazer aquilo que agora nos parece impossível.


Para que o passado parta, e fique no seu sítio, e para que eu possa amar agora quem está comigo, e que no agora, não pode resolver o que fez mal, no antes, mas pode resolver o que faz, para que juntos negociemos um meio ponto, criemos ilusões, e choremos juntos as desilusões, mas sempre numa despedida do que foi, para construir o que pode ser, um tem de deixar ir, o outro tem de receber, um tem de estender e o outro acolher.

É fundamental que dancem estas trocas de dar e receber, pedir e dar, estender e receber, sem contagens ou turnos...no fim bate tudo certo, se a entrega for mútua, é só nisso que têm de trabalhar. Nunca queiram ver a cara daquele que estende a mão que não é aceite, ou nunca queiram sentir o que é tentar acolher, e ver que o outro vos foge. Não se mascarem, caminhem seguros que o passado construiu a vossa natureza, no presente vocês aplicam-na, sempre a querer controlar a ilusão de um futuro, onde as vossas decisões de seguir em frente e deixar ir, são mais cruciais, do que as forças que se encontram fora do vosso controlo.

Mais conversas de amor...entrega e emoção...

Amar, como reflectimos da última vez, assume diversas formas e em contextos variados, amamos de diferentes maneiras, diferentes pessoas.

Há amores com custo, pois esperamos retribuição intensa, há amores sem custo, vazios de cobrança...há amores mistos onde esperamos na entrega receber algo de volta, e este algo muda de figura, depende de passados, depende de vazios, das expectativas e de tudo o que faz de nós pessoa, pois é nesse amor, que vamos querer ir buscar, onde queremos a entrega do "algo" de volta, que precisamos de aprender a definir dentro de nós, para que possamos aprender a pedir. 

Eu sei que já disse isto, mas as melhores lições da Vida só funcionam se forem repetidas, e conseguirmos aos poucos ir acreditando que somos capazes. Criando uma imagem mental nossa, que nos faça sentido, e eu insisto,...partilhando a minha...A mudança começa sempre em nós. E nós, se mudamos, mudamos sempre o outro, como uma reacção em cadeia...é preciso é saber esperar e querer muito o fim a alcançar, senão as forças perdem-se. É preciso saber que há desgaste, mas que a energia que se ganha ao conseguir é de força nuclear, esmaga-nos com a sua intensidade. E é preciso saber que quando eu falo em mudar o outro, não é que o outro de repente, se transforma e afina todas aquelas pequenas coisas que nós não gostamos nele(a), como os contos de fada de que ouvimos falar, na minha reflexão, o "felizes para sempre" vai depender da energia e intensidade que vocês coloquem nas emoções que transmitem, e no espaço que dão ao outro para ao receber essas emoções, mudar e retribuir, da sua maneira, em linguagem própria por respeito a si e a ele(ela) mesmo. Pensem quantas vezes já disseram "estou farto disto...nunca estás satisfeito(a)", quando querem realmente dizer: "gosto de ti, porque não me deixas aproximar de ti?".     

Comecemos então...

O que é a emoção no amor?
É o amor uma emoção?
É a emoção o amor?


É a entrega uma emoção do amor?
Ou, o amor é uma entrega através da emoção?

Ou, o amor recheia-se de emoções múltiplas nas quais espelhamos sentires ricos de sabores, cheiros, sensações, tonalidades e intensidades. E essas emoções espelham-se nas expressões, nos desejos desse algo que às vezes queremos intensamente. Espelham-se nos olhos que falam da nossa alma, e que claramente transmitem as emoções, mas por vezes embora sentidos e vividos pelo outro, não existe atribuição de significado?
Todas as questões que coloco são válidas e todas podem ter resposta, não contrariando as respostas anteriores. Todas as imagens que escolhi para acompanhar estas nossas reflexões, têm o objectivo de mostrar as emoções, as nossas leituras, e ver se nelas, vocês vêem o mesmo que eu...talvez, um amor infinito, positivo ou negativo, de entrega a alguém, no meio da rede emocional que nos une a todos nós, seres humanos. 

A palavra emoção provém do Latim emotione, "movimento, comoção, acto de mover". É um derivado duma forma composta de duas palavras latinas: ex, "fora, para fora", e motio, "movimento, acção", "comoção" e "gesto", sendo uma palavra documentada no sentido de "agitação da mente ou do espírito". (Agradeço a ajuda da Wikipédia, para que eu estabeleça alguns moldes teóricos para a minha divagação sobre amores e emoções). 

Será então que as emoções são a nossa forma de nos movermos para fora de nós, na entrega do amor, dando ao outro (que existe fora de nós), aquilo que guardamos dentro de nós. E ao mesmo tempo serem estas então as razões para as agitações do nosso estar, do nosso ser? Eu acredito que sim, mas também acredito que são estas que nos permitem viver a sensação de estar vivo, apaixonado, e encontrar propósito nos nossos dias e rotinas, e na procura diária de melhorar e encontrar momentos de felicidade, em que estas emoções nos transportam totalmente para fora de nós. É ganhar a capacidade de voar, de sentir tão profundamente, que por momentos os nossos cérebros, os donos da razão, apagam, e em nós, como que num frenesim dentro do peito, o sentir fala mais alto, e a emoção entrega-nos.

A Emoção, é também uma experiência subjectiva, enredada no nosso temperamento, personalidade, e motivação. Daí, às vezes ser tão difícil justificar as emoções que temos, pois parecem provir de teias multicoloridas, tecidas da mistura destes componentes, assim como às vezes se torna tão difícil, porque lidamos com as emoções que vivemos, motivarmos-nos a outros movimentos ou comportamentos, com medo de novas emoções - ou perdas. A entrega que se pressupõe na emoção e no amor, tem de ser total, ainda que momentânea, a cada instante que se revive as emoções do amor, pois assim, conseguimos uma proximidade do outro, desse sentimento intenso, sem perder espaços próprios e sem comprometer a identidade de cada um. Isto não é apenas para o amor ou para a emoção dos casais, também é verdade para o amor filial. Os nossos filhos são tão mais saudáveis quanto mais se sentirem amados, e mais sintam que nesse amor e entrega, existe um espaço próprio que lhes pertence, onde eles existem e se podem arriscar às suas próprias emoções.

                                                                                                                            

Não existe uma teoria única para as emoções, assim como não existe uma forma universal, algumas propostas que podem ser base das nossas reflexões futuras...são, por exemplo, alguns contrastes: 

  • Cognitiva versus não cognitiva
  • Emoções intuitiva versus emoções cognitivas
  • Básicas versus complexas
  • Categorias baseadas na duração (algumas emoções ocorrem em segundos - ex: surpresa; e outras levam anos - ex: amor).
Há mais uma reflexão importante a ter, que nos deixa a mensagem de que as emoções basicamente nos permitem desempenhar uma função muito particular, pois ou nos fazem "fugir" de uma determinada pessoa/situação, ou nos "aproxima" dela, na procura de segurança, que é o tipo de amor mais procurado em qualquer relação...diz-me a minha experiência das conversas de sofá e de cama ;0). 


É um comportamento presente em todos os mamíferos e que justifica muitos dos nossos comportamentos, quer de fuga à emoção, quer de procura da mesma, mas neste processo também existe uma memória emotiva, que tanto funciona pela positiva, fazendo com que eu confie e me consiga entregar emocionalmente a alguém que na minha memória emocional me acolheu positivamente, como, por outro lado, me pode ir fazendo acumular experiências negativas, que num determinado prazo nos podem levar a ter medo de aproximação desta mesma pessoa que podemos ter amado antes, pois as memórias emocionais dizem-me agora que aquela pessoa de quem gosto também me pode magoar. Assim, afasto-me, não me entrego e podemos começar a ver processos em que embora as pessoas possam dizer que gostam ou que amam o outro, como na memória emotiva foram registadas experiências de mal-estar, desprazer, dor, sofrimento, vemos uma distância impor-se. E a entrega complica-se, pois para protecção própria, a emoção impede a entrega. 


Aqui às vezes vemos seres humanos transformados em ameijoas...fecham-se sobre uma concha impenetrável, que muitas vezes para forçar a sua abertura, ou as partimos, ou as matamos, claro que neste caso estou a falar em exagero, mas as sensações não estão assim tão distantes. Em tempos, tive uma pessoa que me disse relativamente ao amor e à entrega que foi dando ao seu companheiro ao longo da vida, "Rosa, neste momento, eu já não consigo dar mais nada, é como se ele tivesse morrido dentro de mim, ou tivesse morto aquela que o amava..."


Facto é que o amor é tecido de emoções, as emoções recheiam-se de amor e entrega, uns entrelaçam-se nos outros numa dança profunda, que nos marca a nível inconsciente, e nos domina racionalmente. Muitas das nossas decisões, ainda que muito ponderadas, muitas vezes, no último momento, são seguidas as vontades da emoção, pois estas dominam.


O Amor é entrega total sem reservas, e a cada situação menos boa, se conseguirmos ir às emoções, profundas, e deixarmos cair por terras as palavras com que embrulhamos estes sentimentos, dizemos aquilo que sentimos de forma a que o outro nos oiça, e se arrisque a vir a meio caminho, ou o caminho todo, dando-nos o que queremos e arriscando-se a pedir-nos o que precisam. Mas, eu sei, estão a abanar as cabeças e a dizer que isto que vos peço é difícil, estão a pensar: e se ele(a) não vem, não diz, porque tenho eu de ir? Pensem um pouco...

Porque se ambos assim o fizerem sempre, não há entrega, não há amor...não há emoção.

Viver? Sim. Intensamente, com medo, com coragem, com amor, com entrega em tudo o que somos e fazemos...assim, temos a felicidade de viver momentos, ainda que fugazes, em que nos sentimos donos deste mundo. Fiquem felizes...




quarta-feira, 21 de março de 2012

Amor

Celebremos o dia da poesia...

Amor...
Onde estás?
Escondes-te em mim,
nos espaços que não conheço.

Amor...
Quem és?
Ocupas-te de mim,
nos momentos em que estou só.

Amor...
O que és?
Uma ilusão alimentada em mim
por sonhos e desejos,
que cabem numa mão,
mas, não abrem o meu coração.

Amor...
que desejo, que quero, que respiro,
que desenhas em mim
formas de loucura,
e que me prometes o céu,
comigo na terra.

Eles e Elas, meus e teus, caminhos cruzados, caminhos trocados…


A minha reflexão de hoje baseia-se não só na minha experiência profissional, uma vez que vejo casais e famílias no meu dia-a-dia, e que na minha frente trocamos informações e segredos, na esperança de caminharmos para uma verdade que nos ajude a dar sentido à vida, às nossas vidas; mas também daquelas conversas de amigas, de café, ou até da minha própria projecção, não só enquanto mulher, e mãe, mas também como companheira.
Não quero começar, sem criar esta nota especial de que este texto irá exagerar exemplos, e extremar situações de forma a poder ilustrar os pontos de vista que quero transmitir, ressalvo que na minha opinião não existem na realidade estes dois grupos a que me vou referir como entidades opostas, nem sinto que a inimizade seja um real problema, no entanto, para chegar a bom porto, gosto de exagerar e, às vezes, através de exemplos quase que ridículos é mais fácil cairmos em nós, e fazermos algo por aquilo que não está bem.
Então vamos lá…se nos sentamos a ouvir algumas das conversas de mulheres ouvimos muitas vezes conversas que trocam pareceres e ideias sobre os “eles” e as “elas”, colocando-os em diferentes categorias, em diferentes mundos digo eu, quase como que se tornasse impossível o entendimento entres estes dois tipos de seres. As conversas, que ocorrem do lado das “elas”, pois do lado dos “eles”, muitas das vezes conversas como estas podem até não acontecer, são conversas que se queixam de uma lista de pequenas características ou fatores, que não abonam nada a favor de uma melhor compreensão do outro grupo, se é que até, não o marginaliza, tornando-o quase que incapaz de ter a capacidade de entender o grupo das “elas”…pois eles têm as coisas deles e nós supostamente as nossas. É quase como que os nossos caminhos estão cruzados, por partilha de imensas coisas, no entanto, parece que às vezes estes caminhos estão trocados.
Mas, eu continuo com a minha teoria, que tenho vindo a reforçar ao longo das minhas reflexões anteriores, quase que a tentar manter a inocência e a simplicidade da criança, perante problemas insolúveis para os adultos, de que as coisas são sempre bem mais simples do que aquilo que queremos, o problema é que se assumimos que simples são, tomamos em mãos a responsabilidade de ter de resolver, pois será simples, no entanto, o que muitas vezes não é nada simples, é aquele esforço necessário para que eu, me dobre um pouco, peça desculpa, dê razão, entenda e explique o que quero pedindo, sem exigir, numa linguagem universal, sem codificações, e espaços para preencher vazios, que os “eles” muitas das vezes não entendem ou nem chegam a ver, pois nos nossos discursos, que tendem a ser longos e em zig-zag, fazem com que os “eles” às vezes já se tenham perdido ao 1º “hello”.
…Estão elas no café (e vocês sabem de quem falo…), e partilham: o meu marido está sempre preocupado, verifica constantemente os gastos e confirma se continuamos bem ou não de finanças, incomoda-se com os miúdos nas questões das notas, se têm tudo o que é preciso, mas não celebra as pequenas coisas, não fala comigo, responde pouco, e a meio do “meu” discurso, sinto que já não me ouve, se pergunto o que quer para o jantar, diz “qualquer coisa”, depois mais tarde se me pergunta o que há para o jantar, surpreende-se de não ser algo que ficou a imaginar. Zanga-se com os filhos se não vêm para a mesa à primeira chamada, mas “eles” muitas vezes são os últimos a chegar, e esta lista pode continuar, em qualquer café que pare, posso ouvir isto, quase como que se estivesse a viver experiências de deja vu, com estes grupos de mulheres a desabafar nos “corredores” da Vida, as queixas e as mágoas que acham só serem entendidas pelas “elas” como elas, e que de certa forma, vai complicando estas diferenças de género, de história genética, em vez de as simplificar, ou até de servir o propósito de sairmos destas conversas com o ânimo de aceitar o evidente, aprender a viver com isso, e retirar o melhor partido, características essas sim, altamente femininas, pois fomos programadas para perante situações que consideramos “problemas”, chorar uma lágrima ou duas, recompor, arregaçar mangas e resolver, mas nestes confessionários de café, onde quem nos ouve pode não ser um bom “ouvinte”, às vezes, em vez de vir reconfortada, e com o entendimento que não é de propósito, é mesmo assim, venho ainda mais irritada, com o apoio das “elas” todas que comigo concordam, e parecemos gangs, a juntar forças para nos unirmos contra as forças ocultas dos “eles”, que nestas diferenças nos dão cabo dos nervos, mas o engraçado no meio disto tudo, é que fora deste corredor de desabafo e mágoa, não vivemos sem eles, no dia seguinte não sabemos porque estamos zangadas com estes seres de quem gostamos, e andamos nestes movimentos de pêndulo, altamente dispendiosos a nível energético, e que com o tempo, também se torna dispendioso na relação.
Sim, façamos uma ode à diferença, deixemo-nos de feminismos que se justificaram, em épocas em que nada tínhamos, e olhemos com olhos de ver, que nestas diferenças, reside a paixão, o equilíbrio, aquilo que nos cativa e fascina, pois queremos entender, o desejo de que para “eles” por alguns momentos nós fossemos tudo, e eles não conseguissem tirar olhos de nós, durante os nossos discursos recheados de detalhe, hipérboles, adereços e eventos, e que na cabeça masculina todos estes símbolos se transformassem não só num entendimento profundo das nossas pessoas, mas também, num interesse súbito pelos nossos temas de conversas, não pode dominar as nossas vidas a dois.
Mas a isto eu chamo pseudomoralismo, pois, eu gostava de saber quantas de nós ouviríamos com toda a atenção os discursos dos “eles” sobre futebol, finanças, Professor Marcelo, o buraco do ozono, a crise no Médio Oriente, as trocas de jogadores do Porto, a má arbitragem em Portugal, etc. Quantas de vocês estariam completamente embevecidas pela vossa cara-metade e a seguir tais discursos, como se bebessem as palavras que saem daquela boca de mimo…
Sim, façamos uma ode à diferença, ainda bem que somos eles e elas, diferentes em tanta coisa, que quase que é impossível por vezes um entendimento fácil, se não existir um esforço heroico de ambas as partes, mas isso sim é a prova de amor. Não são as lutas contra os dragões, e as rosas na boca a dançar um tango connosco, que nos demonstra que este grupo vive apaixonado por nós.
É no dia-a-dia de cada ele e ela, nas trocas e interações, no gesto de carinho do adeus, no beijo da testa do nosso filho, na troca de olhares de orgulho na nota do mais velho, nas discussões, no interesse por não nos ver sofrer, nos apalpões, no fazer amor, do zangar e gritar (em dose certa claro!), que “eles” e “elas”, se entregam e revelam, e mostram que este jogo de diferenças, nem sempre tem soluções, mas é a cada jogada que nos descobrimos, cruzamos mais os nossos caminhos e voltamos a ser verdadeiramente elas…nestas ode à diferença, deixemo-nos de lamentos de corredor, façamos um gang para o amor, conversemos umas com as outras no apoio para descobrir a descodificar o que queremos, como vamos pedir, e acima de tudo, como chegar aos eles para assegurar o entendimento, que os faça lutar, para entender a diferença, sem mágoas, sem ressentimentos e sem sentimentos que na diferença há superioridade.

Nestas nossas diferenças somos iguais, na procura de afeto que nos dê sentido à vida, uns expressam de uma forma, outros de outra, só temos é de nos entender. Usando uma linguagem neutra, a da matemática, 1+1 sempre foi igual a 2, nós não podemos ser uma fusão, só conseguimos ser igual a dois, se mantivermos aquilo que faz de nós eles e elas, e com isso a soma, dá certo, pois se quisermos que a soma dê 1, então queremos que um de nós desapareça.

sábado, 17 de março de 2012

Conversas de amor...Amar com medo...

Neste texto de reflexão, não vou falar do amor de mãe ou de pai, vou falar daquele amor que nos faz ter paragens de respiração por aquele outro ser que nos preenche. E começo a reflexão por partilhar dois pequenos momentos, de dois grandes poetas, para vos criar ambiente. Hoje vamos falar do amor poema, do amor que temos de exagerar para sentir. Venham comigo...


Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar...  
Fernando Pessoa



Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz! ... 
Florbela Espanca



Amor, sentimento eterno e fugaz, capaz de unir e desunir, capaz de permitir a maior lucidez e o contacto com a loucura profunda. Sentimento partilhado, de tantas formas e de tantas intensidades que se torna mais belo do que um arco-íris num céu azul, num dia em que acabada a chuva, o cheiro a terra húmida nos invade o nariz.


Amor é liberdade, amor é prisão. Amor é certeza e incerteza, guardadas ambas na mesma razão.


Quantas conversas escutei, de corações apaixonados em plena luz da sua Vida, donos de si e de uma riqueza, capaz de os fazer lutar contra tudo e todos, escalar além do imaginável, e ter energias infindáveis. Corações a contar histórias, de fantasia, de poesia, vivida e sentida na pele húmida dos encontros amorosos, que se antecederam. Histórias de feitos grandiosos, e de imagens que marcam a ferro e fogo, na pele, na alma, aquele ser em nós. Este amor existe, em todas as idades, este amor é a razão pela qual muitos de nós continuamos a sonhar que uma vida a dois, faz sentido, pois podemos ter momentos, rasgos, durante os quais estas sensações que nos transcendem, existem, e nos permitem dizer "sou feliz", ou uma mais forte ainda, "sinto-me amado".


Mas, se pensarmos bem, este sentimento só pode existir com esta intensidade, porque trabalha em balanços de opostos, ou seja, se eu amo assim, e se sou amada assim, algo menos do que isto me faz sofrer. Se anseio a tua chegada, dói; se não me dizes que me amas, dói; se te vais esquecendo de olhar para mim com aqueles olhos que me mostram a beleza que eu tenho e mais ninguém vê da mesma maneira, pois eu sinto o meu brilho no brilho dos teus olhos, dói. Se me afastas a mão, que desenha o percurso da tua cara, dói; se não sofres quando eu sofro, dói.

Estas intensidades são permitidas porque levadas ao extremo, me permitem sentir como nunca me senti, e me permitem desejar aquele outro ser, quase que mais do que a mim mesma, mas, estas intensidades também só existem, porque podem ser levadas ao outro extremo, ao polo negativo, que me permite ter medo, medo da perda, medo de te perder, medo de deixares de me amar, assim, tão intensamente, que eu penso só existir em ti...
Muitas vezes trabalho e falo, com pessoas quando este amor ainda lá está, mas, o pêndulo, foi perdendo velocidade, e atinge cada vez menos os extremos. O amor tornou-se mais sereno, talvez quase que maior do que antes, pois antes quase que não era palpável, de tão intenso e fugaz que era.

Às vezes parece-me que tenho o papel de ajudar ou quase que ensinar a apreciar aquilo que embora sereno, talvez até seguro, como a chama de vela, com sabor a brisa suave, quase que se torna mais profundo.

Vejam comigo, e sigam estes meus exemplos. Podemos gostar de andar de montanha russa, repetirmos umas quantas vezes a corrida, mas a adrenalina que libertamos, a certa altura satisfaz-nos, e nesse momento eu já não quero mais montanha russa, vou à procura de uma fartura quente, de um banco, onde me sento e observo as crianças a sorrirem lambuzadas de algodão doce, vou à procura de pausa.
Outro, eu posso gostar de correr, e de aguardar com excitação, que o senhor que dá o tiro de partida o faça, para que eu me lance ao caminho, e dê o meu melhor para ganhar...mas, se o senhor nunca mais der o tiro, eu vou progressivamente sentido os efeitos negativos de toda aquela excitação, dói-me o corpo de estar em posição de espera, começo a ficar insegura, pois se descanso o corpo e o tiro se dá, posso partir em desvantagem, começo em processos na minha cabeça que me desconcentram, mas que ao fim ao cabo, me protegem da ansiedade que vai crescendo, porque o tiro nunca mais veio.
Último (prometo), nenhuma árvore nasce do tamanho adulto (se este facto não for verdade finjam que sim, para o benefício do exemplo), ou seja, uma árvore vai percorrer um percurso até atingir o seu potencial máximo, e mesmo ai, não deixa de crescer, não da mesma forma, ou com a mesma velocidade, mas, todos os anos nascem folhas e raminhos novos, talvez não cresça em altura, mas alargue o tronco, ou faça os ramos procurarem mais luz.

A esta altura devem estar a  pensar, que exemplos...não desesperem, isto vai levar-nos a algum lado, estou só a criar climas e cenários nas vossas imaginações, na expectativa de vos convencer que amar é lindo, e que por muito que faça sofrer, vale sempre a pena. Estes exemplos, podem ilustrar fenómenos semelhantes aos vividos no amor, e uso muitas vezes exemplos, para conseguir fazer a demonstração de que o amor é sempre o mesmo, pode é assumir nomes, intensidades e idades diferentes.

Primeira lição, que eu fui tirando através de vários ensinamentos, quer através das conversas de cama, quer através das conversas de sofá e de café, a montanha russa está sempre lá, nunca mais se vai ou foi embora, temos é de saber onde fica guardada, para de vez em quando a podermos usar. Não estou a brincar, no nosso amor, podemos voltar a apaixonarmos-nos muitas vezes e o mais engraçado, é que podemos fazê-lo pela, e com, a mesma pessoa. Façam este exercício: num dia de festa, num jantar de amigos, olhem através da sala, até encontrarem o vosso companheiro, viajem no tempo, e pensem no que vêem nele, que vos conquista, que vos atrai. Se neste momento ele fosse um estranho, o que vos faria ir em sua direcção? Rodem o tempo nos vossos relógios e nesse mesmo momento, relembrem o que vos fez apaixonar, relembrem o que fariam, se essa noite não fosse hoje, mas sim há 10 anos atrás?
Com sinceridade, o que sentem agora pelo vosso companheiro?

Segunda lição, é bom que o nosso amor, seja o nosso amante, amigo, companheiro, fonte de inspiração e razão, desafio, rochedo de segurança, suporte, apoio...acho que já perceberam, que precisamos de sentir que esta pessoa que amamos intensamente, que em momentos nos tirou o ar, e foi montanha russa, se tiver estes outros papéis, ao longo do crescimento da nossa relação a dois (...a árvore), nós vamos crescendo em várias direcções fazendo com que o amor ganhe formas e nomes diferentes, vai fazendo com que o amor ganhe diferentes idades e tonalidades, mas se em todas estas fases nós continuarmos a investir, a árvore continua a crescer, ganha segurança, aprofunda as raízes, e de vez em quando, quando nascem ramos novos, nascem novas formas de amar o mesmo, aquele, que se eu deixar, mesmo ao fim de muito tempo, pode continuar a surpreender-me, disparando a pistola em qualquer momento, e fazendo-me correr para dar o meu melhor, para me entregar à excitação daquele momento rápido, para a seguir, voltar à serenidade dos braços do meu amigo, daquele que me conhece para lá do que eu sei. 
Aquele que me ama, mesmo comigo dando-lhe a tarefa mais difícil da Vida:
Eu peço-lhe no dia-a-dia, para que me ame, mais do que tudo na vida dele, mesmo que perante a sua pessoa eu tenha a coragem de me desnudar em todos os sentidos, e me mostrar com todos os meus defeitos.

Os nossos companheiros, que nos amam, ao longo do tempo, e que conseguem ser tudo isto, de que eu falo, mesmo que tenham os seus defeitos, são os heróis do amor, são aqueles que acreditam, que se podem apaixonar ao longo da sua vida diversas vezes, pela mesma pessoa.

Amar é ter medo, mas vale a pena, pois amar é existir, em nós de forma intensa, e é existir num outro alguém, fazendo de nós alguém melhor.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Perdão

Perdão...Perdoas-me? Perdoou-te? Sou capaz de te perdoar a ti? Entregamos o nosso coração nas mãos de alguém? Entregamos esta dádiva de desculpar alguém, por algo que nos magoou profundamente? Somos capazes? É fácil, ou muitas vezes impensável?
Nas minhas conversas, sinto muitas vezes, que este simples elemento destrói famílias, casais e pessoas, por se transformar num gesto ou sentir, difícil de dar, difícil de gerir, e que se torna quase que intransponível a barreira que deixamos que se crie entre a mágoa e a nossa capacidade de deixar ir, de perdoar, com honestidade o outro, a ponto de esquecer.

Conversemos sobre perdão, e pensemos um pouco nas suas implicações...

Podemos banalizá-lo, e pensar que se eu espirro eu peço perdão; se eu arroto, ainda que de boca fechada, eu peço perdão; se vou de encontro a alguém, ou se piso alguém sem intenção eu peço perdão...e a maior parte das vezes os outros parecem dispostos a perdoar estas minhas falhas, assim como eu estaria disposta a fazê-lo...mas este fenómeno complica-se...na relação, digamos na relação de amor.
No entanto, embora se complique, continua muitas vezes simples, se existir uma relação de pai-filho, ou de mãe-filho. Vejamos, por exemplo, se no meio de um aborrecimento o meu filho me disser que está farto e que eu sou má para ele quando o disciplino, ou se ele me disser que prefere a comida da escola, ou se ele me disser que eu não o entendo...o meu coração embrulhado com estas mágoas e ofensas, baralha tudo, e deixa que saia vitorioso o meu amor incondicional por esta criatura que é o meu filho, e que o perdão que me faz esquecer, permite colocar o contador a zeros, e sem dúvida nenhuma que o perdão ocorre, e as memórias de tais eventos, suavemente se vão apagando nas memórias, e o amor incondicional emerge com tal intensidade, que num mínimo intervalo de tempo, mágoas se apagam, e a relação muitas das vezes até se intensifica.

Vamos então complicar mais um pouco, quem temos nós dificuldade de perdoar?

Sem dúvida que é quem amamos, pois são capazes de nos magoar mais e de forma mais profunda, mas nem todos os seres que amamos são arrumados nas mesmas caixinhas, há uns que têm um carácter de importância ou de proximidade que lhes permite, alguns bónus. Assim como falei dos filhos, talvez fale dos pais...certo? A maior parte de nós tem uma grande capacidade de perdoar os pais, mesmo que nos tenham magoado, pois, na maior parte das vezes, as memórias do seu amor e dedicação incondicional a nós, treina-nos esta sensação, de que eles merecem uma retribuição e entrega semelhante. E assim acontece, a maior parte das vezes.

Continuemos a complicar...os irmãos estão numa caixinha perto da dos pais, mas com diferenças, certo? Há um afecto e dedicação inexplicáveis a estas criaturas de quem somos irmãos, com quem podemos ser parecidos ou não, ter uma relação muito próxima, ou distante, mas, mesmo assim a nossa capacidade de perdão continua quase que semelhante às categorias de filhos e pais, apenas talvez, numa dose um pouco menos tolerante.

Por isso, tenho de continuar a complicar...a quem nos custa então perdoar? Aos amigos e companheiros? Seres a quem amamos mas retiramos a incondicionalidade ao afecto, e por isso mesmo, torna mais difícil a entrega deste sentimento nobre e puro, a quem amamos?
Ou, para alguns de nós os amigos e os companheiros ainda têm categorias separadas, com uns mais capazes de receber os nossos perdões?
Quem perdoamos com mais facilidade, o amigo que se esqueceu do nosso aniversário, ou o companheiro?
E se o fazemos assim, porque o fazemos?
Terá a ver com a expectativa que temos de que este alguém que nos conquistou, e que divide vida connosco, ganha também a expectativa de ser o ser ideal, que me entregará um amor como o dos meus pais, mas desta vez merecido pela relação e não pelos genes? Porque a minha expectativa é que este amor, por não ser um amor familiar, é o verdadeiro valor da minha pessoa enquanto entidade neste universo.
Será porque nos olhos de alguém que eu conquistei por mim, eu me vejo como quero ser, e sei que não é igual à visão que os meus pais têm - aquela em que tudo lhes parece bem. Sim pode ser isso, pode ser que nos seja difícil perdoar à pessoa de quem esperamos mais. Nesta relação queremos ser especiais e estabelecer uma ligação isenta de falhas e cheia de expectativas, que nos enchem a alma, e nos fazem sorrir sempre que sonhamos com esta relação, por isso, perante uma falha, às vezes mínima, ou não, o que importa é o tamanho da mágoa que deixa, e as expectativas que arrasou...e talvez para continuar a sentir-me pessoa, eu quero continuar a agarrar-me a esta zanga e mágoa, pois preenche o sítio onde as expectativas estavam, e não me deixa perceber que o perdão pode ocorrer, e se assim fosse, menos amarguras e vazios teria a minha alma.
Naquele momento parece que o meu "eu" depende do não-perdão, pois sinto que se o der, me vergo, me dobro e desisto da relação de sonho, e agarrada a estes pensamentos, talvez quase que idiotas, não vejo que tenho nas mãos a ferramenta mais poderosa para ganhar proximidade, e para aprofundar a relação de amor condicional que nutro com o meu companheiro, e que através do perdão das nossas falhas mútuas, amamos a verdadeira pessoa com quem partilhamos a Vida, e não o ideal, que fomos fantasiando ao longo da relação, que se calhar foi sendo uma não-relação.
Perdoar, é levantar um peso enorme em nós, em primeiro lugar, e permitir ao outro uma segunda oportunidade, e é a toda à hora treinar a aceitação do outro, que procuramos constantemente nos nossos caminhos, para a nossa pessoa.
Perdoar, faz-nos felizes. É como se conseguíssemos soltar ancoras que prendem o nosso barco, e que embora nos deixe seguir caminho, vamos amarrados a um certo espaço no tempo, que não nos permite liberdade total.
Experimentem...
Não querendo complicar mais, perdoar quem amamos muito, e temos em caixinhas não-familiares, torna-nos melhores, mais aceitantes, mais felizes e dá à nossa relação uma verdadeira oportunidade, para que funcione, e permite que ambos possamos tirar destas trocas, um amor que justifique acreditarmos em nós e nos outros.
Perdoem...perdoar é amar verdadeiramente.

segunda-feira, 12 de março de 2012

...conversas de café


Todos nós somos pessoas únicas, que necessitamos dos nossos momentos, individuais, de reflexão, de silêncio na alma, de partilha intensa com a Vida. Esses momentos podem ser à beira-mar, a inspirar a maresia, podem ser numa igreja vazia, a ouvir o silêncio, ou podem ser momentos com "uns alguéns" que nos entendam, ou porque nos conhecem, ou porque partilham connosco histórias semelhantes e que dão sentido às nossas. Mas estes alguém, têm de ter uma relação até ao nível máximo de amigo, não podem nem ser companheiros, nem família, pois são "cafés" diferentes os que surgem com parceiros desta natureza, e a última regra é que por norma têm de ser do mesmo género sexual, pois poupa energias de tradução de estados de espírito ou tipo de linguagem, para abordar os assuntos que surgem. 
Naqueles momentos de vida em que queremos encontrar paz, não reflectir sobre grandes eventos, ou não pensar nos assuntos sérios que nos pesam nas costas, e queremos rir de algo ou rir com alguém, esses são os momentos de conversas de café, com um ou mais amigos, do grupo dos "alguéns" com quem eu me sinto bem, me sinto admirada, aceite, engraçada, inteligente, especial, sinto-me pertença daquele grupo, com uma função igual à de todos os outros, vamos conversando, partilhando retratos e retalhos de vida, à vez, com interrupções constantes em conversas, que nunca se terminam, como que de propósito para justificar mais um desses momentos daqui a uns dias, para continuar, a rodinha dos assuntos, e assim, numa teia ou rede invisível, irmos suportando as vidas em conjunto, aprendendo o amor da amizade, e o espaço individual que se conquista a cada momento na conversa de café. 
Muitas das pessoas, enredadas nas teias das justificações da lenda da Vida sem tempo, esquecem os momentos individuais, de reflexão e apaixonamento pelo próprio, mas acima de tudo, vão perdendo estas redes de apoio invisível, mas marcante, que nos faz encontrar sentido nas dúvidas, amor nas zangas, inspiração no abandono, e paz, na loucura da Vida.
Faço questão de me entregar à família, ao trabalho, à Vida com toda a paixão que merece, no entanto, não me esqueço que há muitos tipos de tempos, e de certeza absoluta que quem me conhece sabe, que arranjo sempre tempos para um café de amigas, numa conversa perdida, mas que me dá por momentos, um dos meus tempos. E este tempo é sem culpa, pois se eu estou melhor, quem eu amo fica melhor. Se eu ri, contei, ouvi, desabafei, chego aos outros com energias de amor, para ouvir, dar, acolher e acarinhar.
A cada golo de café, a cada palavra trocada, a minha vida enreda-se na das minhas amigas, e deste ritual simbólico e próximo, surgem sensações de que não estamos sozinhos nestas lutas diárias, nesta caminhada, que se apresenta pela nossa frente e onde estamos sempre a tentar dar o nosso melhor.
Que seja este o primeiro de muitos cafés, que sejam estas as primeiras conversas por acabar, que começam no vosso dia-a-dia, para terem sempre um assunto que vos prende ao relógio que dita a velocidade a que permitem que a Vossa vida decorra.

Conversas de cama...

Conversas de intimidade, diferentes das que surgem nos sofás, mas que revelam a sua importância na intensidade das relações que se mantém com os parceiros. Podem ser conversas de sonhos, de desejos de um amanhã partilhado, com as metas e objectivos que entre abraços e beijos definimos para nós casal, ou família. Podem ser conversas de filhos, de amor e orgulho, de partilha de uma história contada, ou, reviravoltas de vida, e dúvidas de ser pai. Preocupações com os amanhãs e os depois, com a alegria de viver, com o serem alguém que se encontre e viva feliz, mesmo quando eu/tu não cá estivermos. Podem ser de contas e despesas, de dinheiros que não chegam ou não sobram, dos sacrifícios a fazer e de sonhos que se adiam.
Podem ser de dores e dúvidas, no encontro da noite, na idade que temos, questionando se vamos para o Norte que queremos, ou se mesmo sabemos. Conversas de crescer, de saber viver, acompanhadas de braços que me ajudam a sentir que mais além ou aqui já, sou capaz e há quem confie em mim.
Podem ser de silêncios de entrega, bailados de palavras não ditas, por expressões de olhos velados, que na entrega do silêncio querem falar, mas recusam-se.
Pode ser só intimidade, eu saber a que cheiras, saber como me tocas e o que queres conforme os gestos que assumes. Saber em que pensas pelas tuas sobrancelhas ou pelo teu franzir de rugas. Pode ser intimidade, num bailado de corpos que se unem, a dizer sentimentos, de corpo e de alma, que rematam um dia, e iniciam a noite, lembrando que através desta dança, eu sou teu e tu és minha.
Podem ser discussões, fogos e paixões, que se resolvem, se insistirmos nas conversas de cama. A lua e a noite, se passa, e deixa corações descontentes, angustiados e sem sentido, deixa marcas difíceis de apagar. Cicatrizes que perduram no tempo, até que outras luas talvez mudem, e ajudem ao esquecer de memórias.
Na cama, nada se deve deixar a meio...nem uma conversa, pois o peso da noite, arrasta consigo, medos que a luz do dia não deixa. Nas conversas de cama, aprendemos um com o outro, damos um ao outro a oportunidade de nos conhecer, ao brilho da lua, numa ilusão, que fascina e alimenta o amor. Nestas conversas ganhamos proximidade e reconhecemos erros, com a minha cara oculta na sombra do teu ombro, é mais fácil recuar, e mais fácil perdoar. Mas, verdade, verdadinha, a maior parte dos casais com quem falo, dizem-me que é exactamente o oposto...e que digo eu?
Nestes espaços, não devemos deixar que braços de ferro teimem em fazer ou criar fossos numa cama, que é muito mais confortável se partilhada. Mas às vezes, é nesta escuridão, que decidimos teimar, e não recuar, como se de uma batalha se tratasse, e desta tivesse que sair vitorioso, não deixando o outro ver, que o que mantém esta armadura, são pedaços de vento, que com um empurrão ficará caída na terra e me permitirá chegar-me para o teu lado da cama, e começar de novo.
Parecem dois corredores à espera do tiro da pistola para começar a corrida...e se ninguém dispara, ficam imóveis jogando ao jogo do "Rei Manda", fingem a respiração de quem já dorme, e discretamente, mudamos para aquela posição na cama que diz "não me toques, já estou a dormir", ou "não te aproximes", ou outras tantas. É nestes momentos que as conversas de cama, devem acontecer, entre braços e abraços, pedidos na escuridão, promessas de melhorar e compromissos para ficar.
É nestes momentos que o sexo pode não importar, mas o perdão, e a sensação de que juntos vamos resolver, ganha espaço e aproxima, e quem sabe, com as palavras certas, a intimidade vença de novo, e o casal amanhã comece no sofá, a combinar novas conversas de cama.