sábado, 17 de março de 2012

Conversas de amor...Amar com medo...

Neste texto de reflexão, não vou falar do amor de mãe ou de pai, vou falar daquele amor que nos faz ter paragens de respiração por aquele outro ser que nos preenche. E começo a reflexão por partilhar dois pequenos momentos, de dois grandes poetas, para vos criar ambiente. Hoje vamos falar do amor poema, do amor que temos de exagerar para sentir. Venham comigo...


Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar...  
Fernando Pessoa



Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz! ... 
Florbela Espanca



Amor, sentimento eterno e fugaz, capaz de unir e desunir, capaz de permitir a maior lucidez e o contacto com a loucura profunda. Sentimento partilhado, de tantas formas e de tantas intensidades que se torna mais belo do que um arco-íris num céu azul, num dia em que acabada a chuva, o cheiro a terra húmida nos invade o nariz.


Amor é liberdade, amor é prisão. Amor é certeza e incerteza, guardadas ambas na mesma razão.


Quantas conversas escutei, de corações apaixonados em plena luz da sua Vida, donos de si e de uma riqueza, capaz de os fazer lutar contra tudo e todos, escalar além do imaginável, e ter energias infindáveis. Corações a contar histórias, de fantasia, de poesia, vivida e sentida na pele húmida dos encontros amorosos, que se antecederam. Histórias de feitos grandiosos, e de imagens que marcam a ferro e fogo, na pele, na alma, aquele ser em nós. Este amor existe, em todas as idades, este amor é a razão pela qual muitos de nós continuamos a sonhar que uma vida a dois, faz sentido, pois podemos ter momentos, rasgos, durante os quais estas sensações que nos transcendem, existem, e nos permitem dizer "sou feliz", ou uma mais forte ainda, "sinto-me amado".


Mas, se pensarmos bem, este sentimento só pode existir com esta intensidade, porque trabalha em balanços de opostos, ou seja, se eu amo assim, e se sou amada assim, algo menos do que isto me faz sofrer. Se anseio a tua chegada, dói; se não me dizes que me amas, dói; se te vais esquecendo de olhar para mim com aqueles olhos que me mostram a beleza que eu tenho e mais ninguém vê da mesma maneira, pois eu sinto o meu brilho no brilho dos teus olhos, dói. Se me afastas a mão, que desenha o percurso da tua cara, dói; se não sofres quando eu sofro, dói.

Estas intensidades são permitidas porque levadas ao extremo, me permitem sentir como nunca me senti, e me permitem desejar aquele outro ser, quase que mais do que a mim mesma, mas, estas intensidades também só existem, porque podem ser levadas ao outro extremo, ao polo negativo, que me permite ter medo, medo da perda, medo de te perder, medo de deixares de me amar, assim, tão intensamente, que eu penso só existir em ti...
Muitas vezes trabalho e falo, com pessoas quando este amor ainda lá está, mas, o pêndulo, foi perdendo velocidade, e atinge cada vez menos os extremos. O amor tornou-se mais sereno, talvez quase que maior do que antes, pois antes quase que não era palpável, de tão intenso e fugaz que era.

Às vezes parece-me que tenho o papel de ajudar ou quase que ensinar a apreciar aquilo que embora sereno, talvez até seguro, como a chama de vela, com sabor a brisa suave, quase que se torna mais profundo.

Vejam comigo, e sigam estes meus exemplos. Podemos gostar de andar de montanha russa, repetirmos umas quantas vezes a corrida, mas a adrenalina que libertamos, a certa altura satisfaz-nos, e nesse momento eu já não quero mais montanha russa, vou à procura de uma fartura quente, de um banco, onde me sento e observo as crianças a sorrirem lambuzadas de algodão doce, vou à procura de pausa.
Outro, eu posso gostar de correr, e de aguardar com excitação, que o senhor que dá o tiro de partida o faça, para que eu me lance ao caminho, e dê o meu melhor para ganhar...mas, se o senhor nunca mais der o tiro, eu vou progressivamente sentido os efeitos negativos de toda aquela excitação, dói-me o corpo de estar em posição de espera, começo a ficar insegura, pois se descanso o corpo e o tiro se dá, posso partir em desvantagem, começo em processos na minha cabeça que me desconcentram, mas que ao fim ao cabo, me protegem da ansiedade que vai crescendo, porque o tiro nunca mais veio.
Último (prometo), nenhuma árvore nasce do tamanho adulto (se este facto não for verdade finjam que sim, para o benefício do exemplo), ou seja, uma árvore vai percorrer um percurso até atingir o seu potencial máximo, e mesmo ai, não deixa de crescer, não da mesma forma, ou com a mesma velocidade, mas, todos os anos nascem folhas e raminhos novos, talvez não cresça em altura, mas alargue o tronco, ou faça os ramos procurarem mais luz.

A esta altura devem estar a  pensar, que exemplos...não desesperem, isto vai levar-nos a algum lado, estou só a criar climas e cenários nas vossas imaginações, na expectativa de vos convencer que amar é lindo, e que por muito que faça sofrer, vale sempre a pena. Estes exemplos, podem ilustrar fenómenos semelhantes aos vividos no amor, e uso muitas vezes exemplos, para conseguir fazer a demonstração de que o amor é sempre o mesmo, pode é assumir nomes, intensidades e idades diferentes.

Primeira lição, que eu fui tirando através de vários ensinamentos, quer através das conversas de cama, quer através das conversas de sofá e de café, a montanha russa está sempre lá, nunca mais se vai ou foi embora, temos é de saber onde fica guardada, para de vez em quando a podermos usar. Não estou a brincar, no nosso amor, podemos voltar a apaixonarmos-nos muitas vezes e o mais engraçado, é que podemos fazê-lo pela, e com, a mesma pessoa. Façam este exercício: num dia de festa, num jantar de amigos, olhem através da sala, até encontrarem o vosso companheiro, viajem no tempo, e pensem no que vêem nele, que vos conquista, que vos atrai. Se neste momento ele fosse um estranho, o que vos faria ir em sua direcção? Rodem o tempo nos vossos relógios e nesse mesmo momento, relembrem o que vos fez apaixonar, relembrem o que fariam, se essa noite não fosse hoje, mas sim há 10 anos atrás?
Com sinceridade, o que sentem agora pelo vosso companheiro?

Segunda lição, é bom que o nosso amor, seja o nosso amante, amigo, companheiro, fonte de inspiração e razão, desafio, rochedo de segurança, suporte, apoio...acho que já perceberam, que precisamos de sentir que esta pessoa que amamos intensamente, que em momentos nos tirou o ar, e foi montanha russa, se tiver estes outros papéis, ao longo do crescimento da nossa relação a dois (...a árvore), nós vamos crescendo em várias direcções fazendo com que o amor ganhe formas e nomes diferentes, vai fazendo com que o amor ganhe diferentes idades e tonalidades, mas se em todas estas fases nós continuarmos a investir, a árvore continua a crescer, ganha segurança, aprofunda as raízes, e de vez em quando, quando nascem ramos novos, nascem novas formas de amar o mesmo, aquele, que se eu deixar, mesmo ao fim de muito tempo, pode continuar a surpreender-me, disparando a pistola em qualquer momento, e fazendo-me correr para dar o meu melhor, para me entregar à excitação daquele momento rápido, para a seguir, voltar à serenidade dos braços do meu amigo, daquele que me conhece para lá do que eu sei. 
Aquele que me ama, mesmo comigo dando-lhe a tarefa mais difícil da Vida:
Eu peço-lhe no dia-a-dia, para que me ame, mais do que tudo na vida dele, mesmo que perante a sua pessoa eu tenha a coragem de me desnudar em todos os sentidos, e me mostrar com todos os meus defeitos.

Os nossos companheiros, que nos amam, ao longo do tempo, e que conseguem ser tudo isto, de que eu falo, mesmo que tenham os seus defeitos, são os heróis do amor, são aqueles que acreditam, que se podem apaixonar ao longo da sua vida diversas vezes, pela mesma pessoa.

Amar é ter medo, mas vale a pena, pois amar é existir, em nós de forma intensa, e é existir num outro alguém, fazendo de nós alguém melhor.

2 comentários:

  1. Estou a tonar-me repetitiva...muito boM!!!!
    beijos
    Bela

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  2. Sempre em sintonia com as estrelas que te iluminam ; )

    É tão bom ser-se amado.
    Saber que o outro teve saudades.
    Sentir que se foi desejado.
    Independentemente das idades.
    Estabelecer laços para a vida.
    Ter segredos que só o outro conhece.
    Sentir a tranquilidade de uma pessoa que nos é querida.
    É tão bom ser-se amado.
    Melhor que tudo, é saber ler o seu olhar.
    Interpretar os seus gestos corporais.
    Imaginar beijá-la, sempre que a ouvimos falar.
    É tão bom ser-se amado.

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