quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Basta de quanto baste...

Quem define o quanto baste???
No tempero, o sal q.b. define-se na hora, pelo próprio...na tentativa de se agradar a si mesmo e na tentativa de agradar aos outros, se estiver a cozinhar para oferecer, partilhar.

E na Vida? O que define o quanto baste, ou o que nos basta a nós?
Quanto queremos para nós, para os nossos, para o que nos resta?
O que toleramos? Quanto deixamos nós que nos carreguem, nos desiludam, nos abandonem, nos magoem, nos ignorem, não nos oiçam?

Será que somos gentes de acatar um quanto baste renovável, de tal forma que...vamos tolerando tudo e mais alguma coisa, com pouca memória ou exigência, do que queremos ou, sentimos acima de tudo merecer?

Será que às vezes somos capazes de dizer um BASTA de quanto baste? Será que damos voz à liberdade de sermos completos e pedimos o espaço, que é nosso, para podermos SER.

O que nos move? O que nos trava? Por onde andamos?
Temos em nós a energia e a dedicação, de nos irmos medindo, na nossa felicidade, naquilo que somos capazes de suportar, ou às vezes deixamos-nos ir até ao ponto de já não termos nada em nós?

Qual é o seu tempero? Qual é aquele nível que o define e o faz vibrar, querer mais, ter gula da Vida, pecar porque não se satisfaz e não consegue parar de viver mais e mais, com o tempero todo.

Somos silenciados e silenciosos...mas, não podemos deixar que o que é nosso seja gerido por forças exógenas, sem qualquer controlo, já basta o que basta, já basta o que não pode ter a nossa mão...mas, no tempero, não deixem por mão alheia, batam pé, digam já chega, virem o rosto para o sol, sintam o vento na face, respirem a vida, a maresia, o ar do campo, o bulício das cidades, o calor humano e, partam para o amanhã, no luxo de quem vive de barriga cheia...quantos de nós nos queixamos de barriga cheia, e refilamos por panelas e tachos alheios, não tomando conta do nosso próprio guisado....


Bora lá "malta da minha terra", vamos viver, vamos saborear e desejar que nos lambuzemos com tudo o que a Vida nos dá, sem guardanapo, e na dose nunca certa...

Bora lá querer mais...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O meu mundo cá dentro...

...dizeres de um mundo de achados...

Que mundo temos nós dentro de nós? O ideal? O refúgio? O idealizado? O desejado? A mistura de todos? A fuga ao de fora? Um encontro com os de dentro?

Eu, adoro conhecer os mundo de dentro, aqueles onde somos o que somos, despidos sem pudor, numa alma verdadeira, na essência do eu, sem mentiras sociais ou sem medos por não aceitação, julgamento ou desconhecimento das verdadeiras essências humanas. Lá dentro tudo é movido a amor...é a única energia que conhecemos na realidade, nas suas diferentes dosagens e tipos...é o nosso combustível, às vezes somos é desleixados e levamos a carripana até aos limites do depósito, entramos na reserva...e se não formos mesmo atentos, ficamos apeados no caminho, porque o calhambeque parou.

As pessoas são entidades maravilhosas, quanto mais as conheço, mais me apaixono por elas, mais adoro tentar entende-las, mais os seus sentires me tocam e mais eu sinto. A idade talvez ajude, porque cada vez mais me sinto a sentir, sinto tudo e se não tivermos medo de sentir, de nos deixarmos ir, no prazer, na caminhada lânguida do relógio, até na dor, na que rasga e corrói, ou que queima lenta às escondidas, então ai sim, aprendemos a luz que temos em nós. Luz, neste caso, é a palavra que decidi usar para descrever a nossa essência própria, com todas as peças e engrenagens que nos definem.

Não falo de cores, não sinto que faça sentido à metáfora...mas todas as pessoas que tenho conhecido na minha vida, que me deram o privilégio de as tocar e de as deixar tocarem-me, têm a sua luz própria, um brilho, um carisma tão único como as impressões digitais. Uma marca que muitos levam a vida a aprender a esconder, para se protegerem dos outros, ou até de si mesmos. Mas, aqueles, cavaleiros Quixotianos, que se arriscam a tentar encontrá-la e mais ainda, a expô-la, são realmente pessoas dignas de se ter no nosso percurso. E se lhes podermos chamar amigos, família, companheiros, melhor ainda...porque aí, eles não são mais nossos, nem nós deles, são eternos, e nós somos mais ricos, mais plenos...e talvez eles assim também o fiquem.



Se todos também temos escuridões, sem dúvida, se as usamos, executamos ou evidenciamos, escolha nossa! Mas, que todos nós temos essa luz e a capacidade que a move, sim temos, porque não, então...ver e trazer a nu o que de belo há?!


É tão bonito, olhar além da superfície, e ver, acreditar, sentir, que por detrás dessa imagem esculpida com anos de afinadelas, há algo mais bruto, mais honesto, mais verdadeiro, mais essencial, no amor próprio do outro, da sua visão de mundo, das suas crenças, das suas marcas de água, das linhas de definição, dos valores que o demarcam.


...E nesse mundo interior, nessa magia da vida, descobrir, a energia que os move, que nos move, que resolve e une, que eterniza a passagem por estes caminhos de desconhecimento...o AMOR.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

É proibido morrer, não me envelheças nas mãos...


O envelhecer, a morte dos nossos, a perda de capacidades, a entrada numa estrada que nos assusta...

Este tema não nos é fácil, mas é um tema que me aparece tanta vez em conversas...como nos zangamos com a Vida e com os que nos envelhecem na mão, como nos culpabilizamos a toda a hora, de na volta do minuto, nos arrependermos do que acabámos de dizer...que revolta é esta que a nossa voz transporta, contra os que amamos, mas envelhecem ao nosso olhar...

"Chego, convicta de que vos vou abraçar com palavras, gestos de ternura e carinho, e que vos vou compreender, talvez até aceitar todas as vossas peculiaridades, sonho com o colo que tive, ou com o que quero, com o vosso gesto de total admiração por mim vossa filha, entidade que vem de vós...quero essa sensação, durmo com alguma culpa no colo, por estar longe, porque me vejo sempre confrontada em ser convosco a pessoa que não sou nestes meus sonhos em que vos vejo eternos, presentes, à mão de semear e prontos para me darem uma debandada se assim fosse necessário, mesmo sendo eu agora mulher adulta.

Mas, quando ai chego, quando estendo o rosto para o beijo habitual, ou para que de um abraço surja o meu grito alto de amo-vos...começo logo a ser quem sou, talvez criança assustada por vos ver a envelhecer, a partir de mim todos os dias um pouco...apareço refilona, a contrariar a vossa essência, a ditar regras, a manter-me firme nos meus pressupostos de adulta, talvez com muito tempo e cheia de medo dele e do que me sobra."

Ultimamente tenho-me confrontado com os desabafos de filhos, que ao verem os seus pais envelhecerem, adoecerem ou, porque sentem as perdas das suas capacidades, surgem numa angústia terrível. 

Consigo vestir o fato, porque também eu sou filha...sei que nos sentimos em desconforto porque se está longe, estando perto, ou porque não se pode estar perto, porque se quer dar e não se sabe bem o quê...porque se quer escolher por eles, porque se quer poupar a sua vida e prolongá-la até mais não...e por vezes nessa batalha própria e contra a vida que os leva, não os ouvimos, ou, esquecemos-nos num egoísmo muito próprio, que somos nós que às vezes porque os queremos tanto, que não conseguimos ver que eles se estão a acabar, ou a desgastar...e que não é agora que vamos batalhar diferenças, maneiras, estados de alma ou de acção...a partir de agora estamos cá para ser...para dar aquele abraço, ouvir o que têm a dizer e às vezes, pouco mais.

Oiço a história da filha que ao ter um pai de 80 anos diabético, luta para que ele não coma doces, para que faça exercício, para que cumpra ditaduras médicas (completamente justificáveis), mas que do ponto de vista humano, questiono eu, é com essa idade que a pessoa se vai privar? É ético exigir isso, porque como pagamos a saúde uns dos outros, não queremos as consequências de um comportamento não preventivo, ou, é nosso dever de filhos, substituir a capacidade de decisão própria e o seu livre arbítrio, porque a consequência dessa atitude, um, nos pode privar mais cedo da sua companhia, ou, dois, nos pode envolver nas consequências não ponderadas pela perpetuação de comportamentos de conforto (paliativos) para com os nossos familiares envelhecidos?

Somos nós que decidimos onde eles vão ficar? Ou, somos nós que temos de os deixar decidir? E como articular qualquer uma dessas decisões...?

Como viver, com estes novos "eles", que amamos e às vezes, no nosso passado comum, enfrentávamos e tentávamos que nos vissem como crescidos, mas que no agora, precisam que nós (talvez) sejamos mais do que tudo, uma vez mais, receptores das suas vontades, conversas, desabafos, traquinices...sem perda da sua autoridade, hierarquia, estatuto?

Como posso eu, querer ser a adulta que sou, gerir a minha vida, ter família e toda uma série de responsabilidades, e mesmo assim, entender que a minha mãe ou pai, se me perguntam se eu levo casaco, ou se volto cedo para casa, ou se sei basicamente tomar conta de mim, me estão a dizer que me amam, que ainda querem ter essa autoridade, ou sentir que ainda zelam por mim...como posso eu zelar por, então?


Nesta altura, vejo que todas as pequenas coisas que sempre caracterizaram a relação de pais e filhos ao longo de uma vida, de repente, se tornam incómodas, levam a discussões minúsculas, que nos afastam dos medos reais...onde estão vocês amanhã? E, que faço eu, sem vocês?



Levam a angústias de nos julgarmos constantemente, porque se disse ou se fez, algo que não se queria, ou porque não se fez como se queria. Questionamos-nos por tudo, numa culpa vazia, que nos prepara para o segundo, terceiro, quarto round...em repetição, porque não fazemos nada de novo...


Paremos com culpas, usemos o tempo de forma útil e não deixemos que se misturem as coisas, é o melhor que podemos fazer para lidar com tudo...eles são eles e, sempre foram. Nós somos nós e sempre o fomos, encontrar o equilíbrio é respeitar que nada mudou, só o tempo, e o peso que ele nos deposita nas costas...é apenas um desabafo, em própria pele e em pele de outros, normalmente acabamos por conseguir equilíbrios, é só continuar a olhar na direcção certa, baseados no amor que nos une...

Não partam, não queremos que partam, é só isso, não é?!

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Pelos caminhos aprende-se...por favor vai ao lixo e telefona-me...

Reflexões...pensamentos que nos surgem ou invadem, pela e na, partilha de momentos com os outros e as suas riquezas interiores, as suas histórias e caminhadas.

Hoje vi-me confrontada uma vez mais com a ideia de que num casal, às vezes não conseguimos ver com os olhos do outro, não nos conseguimos recolocar, ganhar distância...e o que a mim me parece óbvio, ao outro pode estar escondido numa catacumba.

Falavam-me de um relacionamento, em que o homem, sempre que podia e não estava acompanhado dos filhos, ou a trabalhar, tentava falar com a actual companheira, quando ia ao lixo, quando os putos dormiam, quando ia às compras, e de repente, a mulher, a nova namorada, partilha comigo como se sentia excluída, como sentia que apenas era contactada nesses momentos, como se existisse a vergonha (ao ir ao lixo!!!!!), ou a não permissão para que não existissem caminhos paralelos, e sim um único.

O meu foco e a aprendizagem partilhada aqui, não é tanto o tópico em si, porque num casal poderíam ser mil ao infinito, mas sim a tentativa de ilustrar a importância da nossa visão, ou olhar sobre...

Bastou-me proporcionar uma diferente visão, não interpretativa e ajudar a pensar por outros caminhos, abrir a possibilidade de que provavelmente o homem ligava, em entusiasmo, sempre que podia, ou que estava só, para ter um momento intimo e para talvez até não ser interrompido, e talvez pudessemos pensar que NUNCA lhe tenha passado pela cabeça que o fazia por VERGONHA ou EXCLUSÃO, sentires muito fortes vivenciados por quem não conseguiu imaginar esta versão.

Poderia estar uma manifestação de respeito por detrás desta acção (independentemente de ser a caminho do lixo), e não falta dele. Poderia haver carinho, mimo (namoro escondido, privado) e não VERGONHA...aquilo que a um poderia parecer pouco e ainda por acréscimo fazer pensar em sentimentos de exclusão e vergonha, ao outro poderiam ser manifestações de carinho, desejo de em todas as oportunidades mais sós estar presente, marcar presença num namoro mais intimo.

Mais, não só nos carregamos destas possíveis interpretações, como depois não falamos sobre elas, não as esmiuçamos, não as levamos à paz...ficamos presos nelas, preenchemos os vazios com imaginação, por vezes não só fértil, como cruel, e na presença do outro já levamos um muro de mágoa, de defesa, de tantas sensações antigas e presentes, e nesta falta de diálogo muros e fossos crescem...ou, são atirados à cabeça do outro, que "morre" executado às mãos do carrasco, sem defesa anterior.

O nosso olhar carrega-nos com toda a nossa bagagem e inseguranças e pinta, tolda, enfeita, interpreta, julga. Por isso mesmo, é tão importante, olhar em 360º, olhar de cima e de baixo, olhar de dentro e de fora e, depois de tanto olhar, ir pedir que nos mostrem os outros olhares, aqueles que não são meus, porque nem sempre, na maior parte das vezes, "o outro" não faz mal de propósito, tem razões, justificações e olhares que vêem mais, mais além, mais de mim.

Deixar para trás o medo de pedir, de querer saber, de me mostrar vulnerável ou insegura...esclarecer.

Construir no diálogo e, olhem...

- Vamos sempre ligar, mesmo que ao ir ao lixo...se essa for a prova de amor.