As minhas reflexões no blogue, são temas que alguém, num
determinado momento da minha vida, me sugeriu, ou inspirou, fazendo-me pensar
no que está por detrás do mais óbvio e directo. Esses são os ensinamentos que
tiro das conversas de sofá que faço, com as pessoas a quem eu chamo clientes,
mas que sem dúvida nenhuma me dão um pouco das suas vidas nos momentos em que
nos cruzamos. Hoje deu-me para falar de um termo, que é de extrema importância
para mim, para as famílias com quem trabalho e nas famílias, nos casais, nas
casas, nos hotéis, nos restaurantes, em todo o lado, onde nós seres humanos
partilhamos existências e espaços.
O que é acolher
ou sentir que fomos acolhidos?
A palavra
acolhimento vem do verbo acolher, em latim accolligere.
Como substantivo significa o acto de dar acolhida; agasalhar;
hospedar; amparar; proteger; abrigar.
Pode receber-se alguém bem ou mal, ou acolher-se de braços
abertos.
Também significa aceitar, e receber. Mais ainda,
refugiar-se.
Significa também que é um acto que esperamos, para nosso conforto
próprio, ainda que possa ser negado por aqueles mais chegados. Parte de um
desejo profundo de sermos acolhidos (talvez
aceites).
"Ainda que meu pai e minha mãe me abandonassem, o Senhor me
acolherá." – Isaías 27:10
Esta reflexão tem como objectivo iniciar o processo de procura de
entendimento sobre o que queremos ao sermos acolhidos, ou o que queremos ao
acolher alguém.
Eu penso, que as nossas mães começaram por nos acolher em seus
úteros, deixando-nos crescer dentro de si, salvaguardando a todos os momentos
desse processo que a nossa segurança estava mantida, e a encher-nos de
sensações que nos dão tranquilidade, paz, conforto, todas as condições eram
mantidas para nosso pleno bem-estar. Até a nossa posição encolhida, nos
permitia uma proximidade, que assegurava, conforto. (Divagações...acho eu, pois
acho que estar dentro de minha mãe, só pode ter sido bom).
E, por divagações e experiências como estas que se engravam no
nosso cérebro, coração, pele (...acho eu), levamos a vida a tentar acolher os
que amamos e a tentar sentirmo-nos acolhidos nos caminhos da Vida por onde
andamos, e com as pessoas com quem nos vamos cruzando.
Sonhem comigo por um bocadinho...qual é a vossa sensação quando
entram em casa, vossa ou de alguém, e cheira a bolo saído do forno? (dou-vos um
bocadinho de tempo para imaginarem com todos os sentidos).
E se o bolo for de chocolate? A sensação muda? Intensifica-se?
Qual é a sensação de vir da rua fria, no Inverno, e entrar em
casa, com a lareira acesa, e com um bule de chá quente?
Qual é a sensação de sair de um banho quente, e de nos abraçarmos
a uma toalha turca macia, vestindo de seguida um pijama de flanela?
Qual é a sensação de depois de tomar banho no mar, deitar ao sol,
e sentir o calor dos seus raios a secar-nos o corpo?
E se a todas estas sensações eu acrescentar uma pessoa, talvez
alguém especial, o que acontece aos exemplos?
Qual é a sensação de vir da rua fria, no Inverno, e entrar em
casa, com a lareira acesa, e com um bule de chá quente feito pela minha mulher,
que me espera com um abraço?
Qual é a sensação de sair de um banho quente, e de nos abraçarmos
a uma toalha turca macia, vestindo de seguida um pijama de flanela, e dormir
nos braços do meu amante?
Qual é a sensação de estarmos tristes, e em silêncio, um amigo nos
abraçar?
Qual é a sensação de dormir despido abraçado e entrelaçado ao
companheiro de uma vida?
Parece-me que
falamos de diferentes experiências, umas que nos evocam sensorialmente,
prazeres e sentimentos de abrigo, acolhimento, que nos fazem sentir em
segurança e em conforto. Outras, que são emocionalmente reforçadas porque o
acolhimento não é apenas físico, vivencial, mas sim emocional, fazendo-nos
sentir exponencialmente mais aceites, pertença não só do mundo mas de um
alguém.
Levamos a nossa
Vida em busca de multiplicações destas sensações, quero sentir-me acolhido ao
chegar a casa, sabendo que todos os que lá estão de alguma forma me amam, me
respeitam, e nos seus gestos de carinho e atenção me acolhem não só à/na casa,
mas na vida deles.
Quero chegar ao
trabalho, se sentir que é porque sou eu que faço uma diferença, e por isso me
acolhem, no seio de equipas.
Quero chegar a um
restaurante e sentir que o empregado me sorri, me recebe, e me faz sentir ou
conhecido, ou especial, tratando-me como um cliente diferente de todos os
outros que também trata diferente.
Quero estar nos
braços do meu amor e sentir que me acolhe, me aceita, me protege, ampara, e
abriga, e vivo rodeado de pessoas que procuram o mesmo.
Num mundo de
velocidades e tecnologias, não deixa de ser missão possível, é olhar o outro e
reconhecer que sensações e experiências precisa para que se sinta abrigado na
vida e acolhido na relação, aceite por si, mesmo nos seus traços menos que
perfeitos. É saber dizer o que me acolhe, e reconhecer nos jogos de pistas que
os outros me deixam aqui e ali, os seus gestos de abrigo, de amparo, de afecto
dedicado, a mim e a todos os espaços de mim que eu não vejo, mas no reflexo
destas relações, entrego-os a quem mais me dedico.
Acolher...é o
trabalho que mais tento fazer e entregar a quem me procura, dando-lhes um
espaço de entrega, sem julgamento, com aceitação e abrigo, um amparo e refúgio
ao exterior por vezes agreste.
Encontrem em vós
um espaço de acolhimento para vocês, em primeiro lugar, onde se aceitem por
quem são, e procurem melhorar no que desejam, não naquilo que vos impõem.
Abriguem-se e protejam-se, de forma a poderem ter recursos, para na totalidade
dos vossos seres, também por sua vez, poderem acolher os outros, o outro. Para
que em pequenos gestos, intensos e recheados com a vossa alma, entreguem,
simbolicamente o vosso eu, ao outro, acolhendo quem recebem em vossa casa, e no
vosso coração.
Aceitem e recebam
de braços abertos e bem, quem vos ama, para que se sintam também vós acolhidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário