sábado, 10 de março de 2012

Acolher



As minhas reflexões no blogue, são temas que alguém, num determinado momento da minha vida, me sugeriu, ou inspirou, fazendo-me pensar no que está por detrás do mais óbvio e directo. Esses são os ensinamentos que tiro das conversas de sofá que faço, com as pessoas a quem eu chamo clientes, mas que sem dúvida nenhuma me dão um pouco das suas vidas nos momentos em que nos cruzamos. Hoje deu-me para falar de um termo, que é de extrema importância para mim, para as famílias com quem trabalho e nas famílias, nos casais, nas casas, nos hotéis, nos restaurantes, em todo o lado, onde nós seres humanos partilhamos existências e espaços.

O que é acolher ou sentir que fomos acolhidos?

A palavra acolhimento vem do verbo acolher, em latim accolligere.
Como substantivo significa o acto de dar acolhida; agasalhar; hospedar; amparar; proteger; abrigar.
Pode receber-se alguém bem ou mal, ou acolher-se de braços abertos.
Também significa aceitar, e receber.  Mais ainda, refugiar-se.
Significa também que é um acto que esperamos, para nosso conforto próprio, ainda que possa ser negado por aqueles mais chegados. Parte de um desejo profundo de sermos acolhidos (talvez aceites).

"Ainda que meu pai e minha mãe me abandonassem, o Senhor me acolherá." – Isaías 27:10

Esta reflexão tem como objectivo iniciar o processo de procura de entendimento sobre o que queremos ao sermos acolhidos, ou o que queremos ao acolher alguém.
Eu penso, que as nossas mães começaram por nos acolher em seus úteros, deixando-nos crescer dentro de si, salvaguardando a todos os momentos desse processo que a nossa segurança estava mantida, e a encher-nos de sensações que nos dão tranquilidade, paz, conforto, todas as condições eram mantidas para nosso pleno bem-estar. Até a nossa posição encolhida, nos permitia uma proximidade, que assegurava, conforto. (Divagações...acho eu, pois acho que estar dentro de minha mãe, só pode ter sido bom).
E, por divagações e experiências como estas que se engravam no nosso cérebro, coração, pele (...acho eu), levamos a vida a tentar acolher os que amamos e a tentar sentirmo-nos acolhidos nos caminhos da Vida por onde andamos, e com as pessoas com quem nos vamos cruzando.

Sonhem comigo por um bocadinho...qual é a vossa sensação quando entram em casa, vossa ou de alguém, e cheira a bolo saído do forno? (dou-vos um bocadinho de tempo para imaginarem com todos os sentidos).
E se o bolo for de chocolate? A sensação muda? Intensifica-se?
Qual é a sensação de vir da rua fria, no Inverno, e entrar em casa, com a lareira acesa, e com um bule de chá quente?  
Qual é a sensação de sair de um banho quente, e de nos abraçarmos a uma toalha turca macia, vestindo de seguida um pijama de flanela?
Qual é a sensação de depois de tomar banho no mar, deitar ao sol, e sentir o calor dos seus raios a secar-nos o corpo?

E se a todas estas sensações eu acrescentar uma pessoa, talvez alguém especial, o que acontece aos exemplos?

Qual é a sensação de vir da rua fria, no Inverno, e entrar em casa, com a lareira acesa, e com um bule de chá quente feito pela minha mulher, que me espera com um abraço?
Qual é a sensação de sair de um banho quente, e de nos abraçarmos a uma toalha turca macia, vestindo de seguida um pijama de flanela, e dormir nos braços do meu amante?
Qual é a sensação de estarmos tristes, e em silêncio, um amigo nos abraçar?
Qual é a sensação de dormir despido abraçado e entrelaçado ao companheiro de uma vida?

Parece-me que falamos de diferentes experiências, umas que nos evocam sensorialmente, prazeres e sentimentos de abrigo, acolhimento, que nos fazem sentir em segurança e em conforto. Outras, que são emocionalmente reforçadas porque o acolhimento não é apenas físico, vivencial, mas sim emocional, fazendo-nos sentir exponencialmente mais aceites, pertença não só do mundo mas de um alguém.
Levamos a nossa Vida em busca de multiplicações destas sensações, quero sentir-me acolhido ao chegar a casa, sabendo que todos os que lá estão de alguma forma me amam, me respeitam, e nos seus gestos de carinho e atenção me acolhem não só à/na casa, mas na vida deles.
Quero chegar ao trabalho, se sentir que é porque sou eu que faço uma diferença, e por isso me acolhem, no seio de equipas.
Quero chegar a um restaurante e sentir que o empregado me sorri, me recebe, e me faz sentir ou conhecido, ou especial, tratando-me como um cliente diferente de todos os outros que também trata diferente.
Quero estar nos braços do meu amor e sentir que me acolhe, me aceita, me protege, ampara, e abriga, e vivo rodeado de pessoas que procuram o mesmo.
Num mundo de velocidades e tecnologias, não deixa de ser missão possível, é olhar o outro e reconhecer que sensações e experiências precisa para que se sinta abrigado na vida e acolhido na relação, aceite por si, mesmo nos seus traços menos que perfeitos. É saber dizer o que me acolhe, e reconhecer nos jogos de pistas que os outros me deixam aqui e ali, os seus gestos de abrigo, de amparo, de afecto dedicado, a mim e a todos os espaços de mim que eu não vejo, mas no reflexo destas relações, entrego-os a quem mais me dedico.
Acolher...é o trabalho que mais tento fazer e entregar a quem me procura, dando-lhes um espaço de entrega, sem julgamento, com aceitação e abrigo, um amparo e refúgio ao exterior por vezes agreste.
Encontrem em vós um espaço de acolhimento para vocês, em primeiro lugar, onde se aceitem por quem são, e procurem melhorar no que desejam, não naquilo que vos impõem. Abriguem-se e protejam-se, de forma a poderem ter recursos, para na totalidade dos vossos seres, também por sua vez, poderem acolher os outros, o outro. Para que em pequenos gestos, intensos e recheados com a vossa alma, entreguem, simbolicamente o vosso eu, ao outro, acolhendo quem recebem em vossa casa, e no vosso coração.
Aceitem e recebam de braços abertos e bem, quem vos ama, para que se sintam também vós acolhidos.

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