terça-feira, 27 de maio de 2014

Esperança...chamamos-lhe isso??

Momentos de desespero, de decisões, situação de vida...sensação de nos sentirmos em mar alto, revolto, sem pé e...
...a ter de tomar uma de três decisões, nado para terra e tenho fé que terei forças e chegarei a algum lado, fico a boiar e espero por um alguém que me procure, me salve...Ou, não aguento o mêdo do sofrer que se aproxima...e, desisto sem esperança, esperando afogar-me, sem sofrer mais...

Metáfora que nos alerta para a desistência, ou para nossa capacidade de luta e resiliência. Metáfora que nos ilustra caminhos que existem sempre, se nos dermos a oportunidade de acreditar em nós, na nossa força, no caminho que se segue que devido à imposição da nossa fé, se pode desenrolar de maneiras diferentes das que anteriormente poderiam ter sido planeadas, ou desenhadas para nós.

Todos eles têm a sua quantidade de sofrimento, de dor, pois todos eles, sem excepção, implicam um esforço da nossa parte, que por vezes, pode parecer desmedido, impossível, incalculável, mas, a cada braçada que damos, a cada momento em que sentimos a gana de apostar em nós, na nossa Vida, no nosso EU, mais força ganhamos para a próxima braçada.

É difícil, às vezes quase que insuportável o sofrimento de algumas pessoas, mas, o escolher viver, "o nadar", o querer ser em pleno, na segurança de terra, no desafio do Mar, vai-nos mostrando que podemos aprender a intercalar esse sofrer, com a Vida no seu lado mais belo, na essência de ser, no silêncio da alma, que às vezes nos consome de ansiedade, ou de descrença.

Somos efémeros, somos frágeis, somos pequenos, somos um átomo no Universo, mas, SOMOS, EXISTIMOS e, quando nós sorrimos, quando de nós gostamos, quando brincamos, quando rimos, quando observamos algo belo, quando beijamos, quando amamos, quando temos amor, quando temos prazer, somos um mundo, um universo, com energia para nos fazer nadar, para nos fazer querer chegar e ter uma Vida nossa, à nossa maneira.

É uma batalha, mas nenhum momento nos deve roubar o desejo, o prazer, de sentirmos em nós, um coração a bater, um viver em cada pedacinho de nós, num momento que pode ser maravilhoso, de sabermos que tem de existir sempre um depois, que nos dá menos dor, mais alegria. Há sempre um depois, se no durante, eu não desistir.

No desespero, no mar alto, não se decide, não se desiste, não se dá opções, tira-se tudo de nós, rasga-se o peito e de face erguida, com a certeza de que se ganha, de que a conquista é nossa, vamos, sem opções.

E, no silêncio da praia, no descanso da areia, na segurança do chão, na nudez do pânico, sem gritos mudos, reflectimos, vemos o sol, o Norte e, em paz, eu encontro-me com o meu eu, que está lá dentro e sobreviveu, não desistiu, viveu. Chegou à costa. E então, roubo tempo à vida, e decido a situação que me preocupa, o mêdo, a angústia, o momento...não passa de um momento.

De coração cheio e em paz, abraçada a mim mesma, respirando toda a minha essência, faço o que acho bem, faço o que me é importante, entrego-me ao destino da minha Vida, ditado por mim, escolhido por mim.

Sou eu que decido, em força, com um olhar no  horizonte, fixo no futuro, no sabor do presente.

E, em força, dona do saber que sou eu que ganho esta batalha. Que o destino foi todo meu, que a minha força existe assim, cheia de mim, em alma e coração, mergulho de novo, para a viver.

A cada dia um novo nascer, a cada dia um novo viver.





quarta-feira, 19 de março de 2014

PAI

Ser pai...
Começo por dizer que não haveriam mães, sem pais, e não haveriam pessoas, os nós, sem pais, e que cada vez mais devemos dar tanto destaque a este dia, como ao dia da mãe. 

Por muito que as mães sejam diferentes e se assuma que o género, faz e marca diferenças acentuadas na parentalidade, ser PAI, hoje, significa muito mais do que em qualquer outro tempo significou...

Ser pai, é também parir, abrir espaço para que outra entidade parte de mim exista, primeiro no corpo de quem eu amo, na forma do que cresce, simbolizando o afecto que já não chegava ser, ou existir,  "só nos dois", depois, porque partilho ou cedo, de um todo, o meu palco, para uma nova entidade, que a partir do dia que existe, me suga numa entrega desmesurada, acautelada, medrosa, nervosa...numa entrega que me faz escorregar, dar passos certos, por caminhos desconhecidos, que desbravo com essa nova entidade. A cada dia que cresce, a cada dia que cresço eu.

Perco a minha dama, para um bem maior, e passado tempos, luto também por ter o meu lugar distinto, no coração de todos.


Dizem-me que existem papéis que esperam que eu tenha, que existem modelos a seguir, e as exigências da sociedade, desta nova sociedade, cheia de novos paradigmas, coloca-me num papel novo, numa encruzilhada entre ser o pai presente, e o homem de carreira. Ser o marido participativo, o prestador de cuidados, mas ser e sentir-me masculino. Impor a minha autoridade num jogo de cintura, que nunca sei se vai de acordo com os acordes da música que toca.


Mas, certezas tenho, cada vez há mais PAIS, participantes, com voz, com um coração e amor tão grandes como o das mães, que lutam por fazer valer o seu papel, não apenas em modelos estereotipados, mas também em modelos únicos que definem cada família, nas suas estruturas. 

Todo o pai faz falta, por nome, por origem, por raízes...mas, se tudo for saudável, todo o pai faz falta pelas suas manifestações diárias de afecto, pela carícia no rosto, pelo afago no cabelo, ao deitar na cama, pelo banho que dá, e nos sorrisos que troca com o bebé, ou com o filho, onde surge uma linguagem única que nunca mais se esquece.


Pelas manifestações de limites, imposições, e castigos, que forçam e modelam comportamentos, mas que no fim, provam que estás lá para mim pai.


Pelas verdades que me dizes, pelas doces mentiras com que me embalas, pelos braços com que me abraças e deixas sentir, que nada de mal me vai acontecer.

A dança não é só da mãe, também é tua.

Eu sou pedacinhos de ti, espalhados em mim, em todos os recantos que tenho.

Hoje, é o teu dia, dia de se poder dizer, que se tem ou teve um pai, e que se sabe o que é sentir essa presença em nós, a olhar, a zelar...no conforto do caminho, da Vida que me deste.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Elefantes no peito...

No caminho da Vida, na estrada que seguimos, vamos tendo alguns assuntos que nos incomodam, com os quais não estamos confortáveis, com os quais, lidamos de e à superfície, de passagem, numa fuga para a frente, sem resolução permanente, sem um alívio na mente.
Isto, é como se fossem dores crónicas, mentais ou sentimentais, que representam elefantes, que se vão sentando no nosso peito. Estes não estão no meio da sala, onde posso fingir que não os vejo, ou que andam por lá à solta, estes estão estacionados em cima de mim, confortavelmente à espera, que me dê a mim própria a oportunidade de os domesticar, mandar levantar, dar retirar, enxotar...qualquer coisa que os faça levantar.
Mas, às vezes eu não faço qualquer coisa, não faço NADA, e, eles agrupam-se, formam manadas, e, se eu NADA fizer, a certa altura não respiro, estou esmagada, não sou nada, porque o peso se torna incomportável.

Porque quero eu assuntos elefante? Porque os quero em cima do meu peito, se não me deixam respirar?
Por medo de ser livre?
De escolher, de arriscar nessas escolhas, de descobrir caminhos errados, no trabalho, no amor, na Vida...

Medo de me defrontar com as minhas limitações, os meus medos, que me congelam as pernas, os membros...e, me empurram para uma anestesia pela dor. A dose torna-se hábito, e suporto mais, a dose aumenta e, eu aguento.
Até que, já não respiro mais. Não vivo, sobrevivo. O peso esmaga, e de manhã, ao acordar, escondo-me de mim, não me quero levantar, luto insanamente, contra este peso, que me empurra para baixo, não me levanta, não me ergue.

Que elefantes carrego eu no meu peito?

Que peso dou eu aos assuntos que deposito fielmente, em cima de mim mesma e que me inibem de respirar, voar?

Às vezes dou por mim cheia de elefantes, assuntos que me esmagam no seu peso, porque não me debruço a resolver, a agir. Calço uns ténis e corro para a frente, como se eles não estivessem lá. Mas, estão, não me largam, e um dia, caio, esmagada, por este sentir.

Conselhos?

PARAR!

Sentir-lhes o peso, perceber se ainda respiramos, se ainda vivemos na trajectória planeada.
Questionar, se saboreamos aqueles momentos frágeis, rápidos e fugazes de felicidades, com que a Vida nos presenteia.

E, se não respiramos?
Se nos dói o peito, se nos sentimos com uma vida sem sabor, uma Vida própria engripada, com moínhas...então...
Há elefantes a mais.
Há dor a mais.
Há impotência a mais.
Há falta de confiança e fé na luz, na energia que temos em nós, no nosso amor próprio, no amor que aprendemos a desenvolver a crescer.

Então...
Analisamos elefantes, arrumamos os ditos cujos, por ordem, por gravidade, por medo, por capacidade de resolução.
Respiramos fundo, in and out, escolhemos um, e vamos...com um amor ao meu eu, com o direito à Vida, com a minha/nossa FORÇA.
VAMOS. Agarramos e falamos, gritamos ao mar, caminhamos na areia, rezamos, lavamos a cara. E, num grito de alma, agarramos nele, em peso, à bruta e, atiramos com ele.
Conquistamos a montanha, e do topo, vemos um novo horizonte, respiramos resolução.
A liberdade do agir sobre a dor do pensar, é oxigénio de alma, é renascer na nossa própria história.

É fazer uma lenda da nossa luta e como troféu temos o nosso sorriso, a nossa leveza, a alegria com que se chega a casa, com o dia conquistado, vencido por nós, na força que somos, que temos...chegamos domadores de elefantes.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Adolescência Crescida...Enleios, Labirintos, Encruzilhadas...PERDIDOS NAS ACHADAS


Para mães, pais, e filhos...naqueles espaços em que não cabe ninguém, e no desespero, pensamos todos, que não sabemos o que fazer...


"Chego a um ponto de descontrolo, de lágrimas banhada, com gritos de raiva, coexistências de amor e ódio...não sei por onde ando e onde quero estar, num desassossego doido, de nem a mim me querer.
Encontro-me dentro de mim, enleada, em soluções, ilusões e perguntas sobre um  mundo cheio de tudo e de nada, que nos oferece a cada encruzilhada, decisões que nem sempre sabemos tomar.

Na cabeça, reside um labirinto de opções.

Estou na estrada de deixar de ser criança, e passar a ser crescida, salto do colo da mãe e vivo a Vida, ou fico aqui parada na procura das respostas que os meus 16 anos não me dão...?

Vivo este amor por estas entidades que me fizeram, criaram e ensinaram, ou corto, desgarro-me para me encontrar em mim, e descobrir quem eu sou, quem é o EU que existe em mim, que não é parecido, tal e qual, sem tirar nem por, um alguém que já existe na linhagem que me antecedeu.

Quem sou, na minha pessoa inteira?
Onde estou amanhã?
Em quem acredito?
Há Deus?
Há Universo?
A minha melhor amiga é mesmo?
O que é ser pessoa?

Que valores são todos os que me ensinaram e com os quais, agora, me vejo confrontada, e não existem, ou contorcem-se nas realidades e verdades de cada um. Que não são as verdades que me ensinaram...que a verdade pode ser mentira, e a mentira, pode ser a minha verdade. Que a verdade dos adultos pode não ser a minha. Que as justiças e injustiças, minhas, dentro de mim perdidas, não se igualam ou tocam aqueles que me rodeiam.

Onde está a minha MÃE, ou PAI, as entidades perfeitas e gigantes, no cimo do trono em mim moral?

Como lido com o descobrir que são, ou que nunca passaram de ser, pessoas, daquelas, normais...mas, que amo com tal força, que consigo num rasgo de tempo, odiar com as mesmas ganas, com que amo, e morro por?

Como choro e rio, no mesmo segundo, e me encontro entre hormonas que em mim flutuam, e me fazem questionar. É tudo isto real, vivo aqui? Tenho alma, sou imortal, reencarnarei, posso ter fé...???

Fé em quem? Em mim, neles, ou num Deus que agora questiono, porque sofro só.

Mas, já me enganaram, já sofri, e neste momento, qualquer dor, a MINHA dor, é tão grande  e imensa, que me deito no colo da minha mãe e não quero crescer, quero continuar ali, em sonhos de criança...mas dentro de mim rasga-se em liberdade, esta entidade que me força a encontrar espaço em mim para acreditar que tem de haver um algo, lá à frente, num fim, que recompensa estas caminhadas.

Permito-me, abro lentamente os olhos e de colo dado, numa linha de coração, em olhares cruzados contigo, minha mãe, meu porto seguro, que me embalas, atiro-me de frente para o crescer, de peito erguido em coragem de cruzado, ocultando um pintainho cheio de frio e receio do escuro da noite.

Que preciso?
Que me dês...me dêem...

Compreensão, pois tenho medo de ir, de deixar, de seguir em frente e passar a ser, sem ti, sem vós.

De colo, porque embora crescida, me sinto pequena, frágil e desprotegida do mundo que me deram.

De silêncio, para me ouvirem dizer as minhas dores, que podem ser parvoíces, mas a mim perfuram-me e tiram-me o ar.

De espaço...para estar, existir, por quem sou, no vosso mundo, na vossa casa, mas que deixe de ser vosso, até que eu possa ter os meus...

De atenção, porque às vezes não grito, não peço, mas, preciso muito...

De amor, aquele que me dão nos olhares de orgulho, no empurrão que me manda seguir.

De paciência para crescermos juntos...hoje, o meu hoje não é o vosso, ajudem-me, não me deixem só, mas sigam o tempo no meu ritmo, pois eu não tenho as vossas ferramentas, maturidade, ou coragem...


Façam de mim crescida, no meio dos meus perdidos, façam de mim perdida, mas segura e achada dentro de mim.

Obrigada pais..."

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

VIDA


Hoje, quero falar, reflectir...escrever solto, nas linhas que se seguem, coisas que discuto com quem me procura, coisas que esquecemos no dia-a-dia, no momento que passa, naquele segundo que ainda agora olhei e vi no relógio: A Vida e a sabedoria de a viver.

Todos nós somos especialistas da nossa própria vida, cientistas que a investigam, jornalistas que a reportam, máquinas fotográficas que a registam, somos protagonistas desse palco com papel principal, mas, por vezes, senão muitas vezes, esquecemo-nos que o palco é nosso, que os espectadores esperam de nós uma peça...uma intervenção, esquecemos que subimos ao palco, e que dele temos de fazer caminho. Estagnamos, perdidos em pensamentos, em distracções, em barulhos e ruídos alheios.
Perdemos o Norte, perdemos a energia que necessitamos, porque não a poupamos, porque não a renovamos, porque basicamente na pirâmide de prioridades, esquecemos que quando olham para o nosso palco, a peça só pode ir para cena, para estreia, se eu não faltar aos meus próprios chamados.

Quem de vós se ouve, se "presta atenção", se acolhe em si mesmo, e dedica um tempo, um qualquer tempo, a viver, a fazer o que dá prazer, o que nos recarrega.

Oiço tantas vozes, a dizer, Rosa não há tempo, não pude, para a semana, hoje não dá, um destes dias, lembre-me de novo o que é para fazer, "como é que isso se faz?", o tempo corre e foge, são os miúdos sabe..., é muito trabalho...

Eram, são infinitas as desculpas, a nós mesmos, é o ruído de fundo que permitimos que exista, para que tal e qual o mágico, o ilusionista, com esse ruído, não prestemos atenção aos gritos que me dizem: vive, vai ver o mar, ouve música, canta em voz alta, chora, lê, passeia, vai ao cabeleireiro, dá uma volta, lê uma revista, come em pratos de plástico e não laves loiça, foge por 10 minutos, desliga o telemóvel, desliga a TV, não vás às compras, ou, vai às compras, sonha acordado, vai a uma massagem, deixa cair batalhas desnecessárias....
Não ouvimos, mas ela, a Vida é implacável, apanha-nos a cada esquina de relógio em punho, que nos esfrega na cara, e nos relembra das finitudes de tudo e todos os que nos rodeiam. Mas, onde está a sapiência adquirida, que desta vida vivida, me devia ensinar, empurrar, abanar, para que em cada um dos meus dias, para que a cada um destes intervalos temporais de que me componho, me tirasse da inércia, e com ou sem atrito, me empurrasse para fazer por mim, para aprender a viver um momento, a construir a felicidade em somatório de eventos e não como o santo Graal que por mim aguarda num algures, escondido, com um mapa que me é inacessível.


Quantas lutas se travam reais???

Há quanto tempo não se vive, não vive, não se cuida?

Por favor, não me responda amanhã...arranque, todos os dias, um pouco, um pouquinho, que no fim será tanto.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Da solidão faço minha habitação...

 
Hoje, falei de solidão e vazio com muitas pessoas, falei do que é habitar em nós, com o sentido de se estar só, e de como tudo isto pode ser triste, pesado, vazio, ou numa oposição bizarra ou até numa dicotomia quase irónica, pode ser, ao contrário, um estar só, rico, positivo, cheio em si mesmo, e, decidi reflectir convosco, sobre este tema...a solidão em nós, a solidão que nos habita ou, que nós habitamos, e talvez de alguma forma roçar o tema da Vida e da Morte...

Hoje viajei por extremos, por aqueles que na sua solidão e silêncio se inspiram, se encontram e ouvem as vozes interiores que na surdina dos barulhos citadinos, que a muitos nos rodeiam, não deixam sequer ouvir o grito mais alto que ecoa em nós. Ouvi como se precisa de sofrer ou, até de estar só nesse sofrer, para crescer e para escrever, para pintar, criar...e como a solidão inspira, pois a companhia, o ruído, a conversa fiada e divertida, distrai as ideias que nos invadem a cabeça no silêncio do nós em nós mesmos.

Falei de como se está só na doença, porque em última análise, muitas vezes a doença impede de viver a companhia do outro, de a querer, e às vezes na doença mental, até de a entender ou percepcionar.

Como estamos sós na morte, seja ela súbita, planeada, com tempo, sofrida ou tranquila, porque nesses dados momentos de confronto com a nossa finitude, com os limiares dos caminhos que percorremos, existe um momento em que se parte, e nesse segundo, instante, vai-se sem companhia, sem uma mão sentida...para um espaço que vai depender de todo o processo de fé.

Que muitas vezes as pessoas se sentem sós na vida, que levam, que têm, que se permitem viver, que as deixam vazias no sentir, ou encaminhadas em caminhos traçados a escuro, por um carvão que não é nosso, ou que nos supera. Sós numa vida repleta, cheia e maravilhosa, ou sós, numa vida vazia, difícil, desafiante...o só, depende do nós, do viver e sentir que abre espaços na nossa habitação, na estrutura que o nosso corpo nos fornece, com perspectivas que nos permitem mobilar a habitação e rodear e namorar a solidão, levando-a de mão dada, em caminhos de luz, que nos acompanham no processo de encontro próprio e de criação. 

Num caminho de fé, em que só nos ouvimos a nós, e nesse encontro entre nós, nos respeitamos e apaixonamos, ouvindo e entendendo as linguagens que falamos, em todas as suas dimensões, e que nos permite então, mais tarde e em pleno, saborear o estar com um alguém, encontrar um alguém...pois ai, existem agora, espaços na habitação para viver o outro.

Podemos habitar-nos de tal forma com esta solidão, que estamos sós na multidão, transparentes ao sorriso, ao estender de mão do outro...passamos, não marcamos ou não deixamos que nos marquem. Sentimos-nos sós nos valores, num viver que parece não ter espelho, não ter ouvintes ou seguidores, questionamos a sanidade das ideias que ouvimos na nossa solidão, e que nos leva a dar ouvidos à nossa voz, que nos conta histórias de como a vida pode ser, e muitas vezes não é.

Estamos sós no sorrir, porque há quem se esqueça, quem os tenha perdido na habitação, na residência, que deixou de ter morada, que se perdeu no monólogo interior pois extinguiu a fé no próprio, a fé no que reside nos cheios e vazios do "Nós" que somos em tudo o que fazemos e podemos ser.

Estamos às vezes, muitas vezes, sós no amar do próprio, porque achamos que só o podemos fazer na dependência do amor do outro, no espelho desse olhar alheio que supostamente nos define e atribui valor, quando, muitas vezes, este nosso amor se encontra apenas dependente da capacidade de apreciar estar só comigo mesmo, e aprender a conhecer-me a olho nú, despido de qualquer preconceito ou juízo de valor...deixamos-nos sós na inspiração, de encontrar em nós o tesouro interno que todos temos nas divisões que permitimos serem habitadas, porque não nos permitimos estar sós na nossa solidão, que nos permite a paz para nos vermos, sentirmos e conhecermos nos nossos quereres e nas vozes de alma. No entanto, permitimos que estranhos, entidades de valor nem sempre definível, nos invadam, e transformem o silêncio e a solidão, ou o estar só, num ruído que ensurdece e do qual quero fugir. Habitando espaços meus que me transformam, sem aviso. Vamos dar ordem de despejo ao que nos faz mal, arejar a habitação que tenho, e aprender a valorizar as divisões, e as características que me fazem ser um espaço único, repleto de tesouros, e segredos, ideias e sonhos, que me permitem ter um monumento a mim mesmo, uma ode, a quem sou!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

À espera...

À espera...


Processo humano, ou característica humana...sem dúvida...esperamos sempre, e essa espera faz parte do presente, do futuro que se segue, desejado ou não e, dá aquele desassossego que nos faz sentir vivos, mais vivos. Esperamos em dias de chuva um sol...brilhante e radioso, daqueles dias da memória, em que o sol foi portador de bons sentires...de um certo calor no rosto, de olhares para o infinito, em que na linha do horizonte se desenhava, no meio do mar e do céu, a linha infinita da esperança.

Esperamos, aquela surpresa, "aquela" que queremos que quem ama saiba fazer, prova irredutível da simbiose de almas que nos une e demonstra no dia-a-dia o jogo de afectos.
Esperamos pelo comboio, sempre na esperança que chegue um pouco mais cedo e nos deixe ganhar neste jogo do tempo, numa corrida vencida à partida.
Esperamos quando olhamos na multidão e nos sentimos sós, na esperança de ver um olhar amigo, um rosto reconhecido, ou um sorriso que nos diga: "está tudo bem, estou contigo".


No trabalho, onde nos entregamos em lutas e dedicações diárias, esperamos um apreço, um reconhecimento, uma palavra de elogio, uma palmada no ombro, para que caminhar seja mais fácil...para sentir que estar longe de tudo para ali estar vale a pena, para sentir que não sou insubstituível, mas sou sem duvida especial, sou EU, sabem...EU.

Espera-se um abraço, um beijo, um afago, em todos os momentos, mas mais ainda naqueles que não se espera, porque se anseia...
Espera-se que a sorte nos encontre um dia, e nos permita viver algo, sem luta, algo de mão beijada, sem a desconfiança de que não seja possível.

Espera-se lealdade, amizade, confiança...espera-se em todos os momentos que os seres humanos sejam melhores, que nos surpreendam pela positiva e nos mostrem porque é que este caminho, a caminhada, faz todo o sentido, finito ou infinito....


Espera-se o regresso de quem parte, a hipótese de se dizer o que se não disse...dar o último abraço ou retirar a última discussão, espera-se que de quem não se sabe, que se venha a saber, pois não há pior do que a espera sem fim, sem destino certo, não me deixa partir e não me deixa realmente estar. Que angústia a de esperar de quem não se sabe, de quem talvez se tenha perdido, de quem nos mata de saudade, que não vemos crescer, de quem o destino nos retira, sem aviso de e para onde, de porque ou porque não.


Espera-se no banco de hospital pela vez, pela boa nova...pelo fim da angústia, por conseguir encontrar a resposta que não nos deixe desesperar...
Espera-se que o outro diga algo, que me impeça de partir, de cair, de me sentir frágil...que estenda a mão...
Espera-se no cais, no aeroporto pelo último adeus, e, espera-se no cais e no aeroporto por aquele momento em que já nada se vê, mas ainda me sinto próximo.

Esperamos no cais pelo regresso, com olhos fixos no horizonte...num jogo de quem vai ver primeiro...
No Verão à beira-mar, quantas vezes esperamos a onda certa para entrar para mergulhar...esperamos que todos se sentem à mesa para num ritual de respeito comer em conjunto...esperamos...

Ficamos à espera...
Que amanhã seja melhor...
Que a próxima vez seja melhor...
Que as coisas se resolvam...
Que gostem de nós por quem somos...
Que um dia, vários dias, tenhamos a força de esperar por mais...

Esperamos, e fazemos bem, sem dúvida nenhuma, pois quem espera, de alguma forma consegue "por-se a jeito" de ter o que quer, de dar uma chance à sorte, ao acaso, ao imprevisto, com uma ajuda de fé própria e algumas acções que nos podem ajudar na espera, criando as situações ideais para que o que se espera venha.

Para na espera construir, porque se o amanhã nunca chegar, cheguei ao que esperava, e, se partir antes de esperar, nunca saberei.
Mas antes...
serei capaz de dizer que esperei porque preciso de ti...
Esperei porque precisei de perdoar...
Esperei porque não quero fazer sofrer...
Esperei porque tenho fé...

Esperei porque preciso de esperar para ver o amanhã chegar...e esta é a fé e a resiliência humana...