Diferenças de género, diferenças de feitio, diferenças de personalidade, diferenças de quereres, diferenças de amores...tanta diferença, só pode resultar em listas infindáveis de queixas que teimamos em fazer na nossa cabeça, como se pudessem vir a ser úteis um dia, para alguma coisa...engano nosso, temos de ter muito cuidado com as listagens que fazemos, e o uso que tencionamos dar a este encontro em que decidimos realçar aquilo que nos torna diferentes, seja dos nossos amores, seja dos outros com quem interagimos nos nossos dia-a-dia, e com quem cruzamos caminhos.
Nesta reflexão vou falar um pouco sobre estas diferenças, identificá-las e talvez até mostrar que as conseguimos normalizar, e de todas elas, podemos criar, um certo equilíbrio de complementaridade. As diferenças estão lá de nascença, de herança genética e histórica, com comportamentos tão arcaicos e "dinossáuricos", que nos diferenciam desde o nosso primeiro dia...depois vem a cultura e o meio, depois vem o viver, a nossa história individual, e daquilo que parece uma diferença global surgem diferenças exclusivas e individuais...na minha reflexão oscilarei entre ambas. Nas minhas conversas costumo dizer que todos nós carregamos connosco, malas de viagem, cheias ou carregadas com o nosso passado, e elas vêm sempre atrás de nós...não se afastando muito.
Vou partir de alguns pressupostos para que a reflexão faça sentido e possa ganhar algum humor...
Pressuposto 1: Os homens e as mulheres são diferentes.
Pressuposto 2: Há homens diferentes de outros homens e há mulheres diferentes de outras mulheres, mas isto não invalida o pressuposto 1.
Pressuposto 3: Há diferenças que são universais e generalizáveis, há igualdades que também o são.
Pressuposto 4: Há homens parecidos com mulheres e mulheres parecidas com homens, o que também não invalida o pressuposto 1 e reforça o pressuposto 3.
Pressuposto 5: Podem procurar de maneira diferente, expressar de maneira diferente, pedir coisas diferentes, mas ambos os géneros querem ser amados.
Conselho: Para os homens, este texto talvez deva ser lido em duas partes, para que não me acusem de novo ;0), de me estender em explicações que podem ser mais directas e menos floreadas (factor tipicamente feminino)...avisarei quando devem pausar a leitura.
Começo por relembrar que todos nós usamos algum humor, que nos permite, muitas vezes aceitar estas diferenças e até brincar com elas, sendo que aparentemente estas são os elementos que nos tornam seres distintos, mas que explicam por vezes a dificuldade em partilhar o mesmo ponto de vista ou falar a mesma linguagem.
Será mesmo que as mulheres só pensam em amor, em encontrar a relação perfeita, quase que platónica, e apaixonada, e os homens só pesam em sexo, ou grande parte do tempo é o pensamento predominante? Será que as mulheres quando se observam, estão sempre descontentes com a sua imagem, com o seu corpo, vedo uma "gordura" que pode ser inexistente, fazendo com que necessitemos da confirmação masculina para gostarmos mais de nós, enquanto que os homens, são muito mais seguros de si, e têm uma imagem pessoal óptima, idealizada, em que não encontram falhas na sua pessoa/corpo?
Será que os nossos cérebros, estão estruturados para que algumas das nossas diferenças, façam parte do que nos é essencial e controle grande parte, senão todas as nossas actividades, e tempo de atenção ou dedicação, a determinadas acções?
Existem piadas, sobre a capacidade masculina de ter o seu cérebro repleto de interesses sexuais, e muito pouco espaço para ouvir as companheiras, ou investir naquilo que a mulher valoriza para chegar ao sexo, à intimidade, e isto é só uma brincadeira, ou é o humor que nos ajuda a ver as diferenças, e o brincar com elas surge como uma estratégia para nos adaptarmos a estas realidades e reagirmos de forma a que nas diferenças não se perca o essencial?
Será que só nós mulheres gostamos de comprar roupas, falar sobre roupas, experimentar roupas??? Será que todos os homens gostam apenas de pensar nas roupas para as despir, em nós e talvez neles?
Não estaremos nestes humores a exagerar e a criar um mito que depois tende a realizar-se, pois afinal parece que afinal somos todos assim...
(Faço a sugestão aos leitores masculinos, que deixem o resto da reflexão para outro dia...ou saltem para os dois últimos parágrafos, onde espero inspirar ambos os géneros)
As diferenças podem ser também vistas de uma forma diferente, em vez de sentirmos que cada coisa que nos faz diferente do outro é negativa, ou pode ser difícil de aceitar, pode essa diferença ser o positivo, o que nos ilumina, o que nos equilibra naquilo em que nós não somos ou temos...
Imaginem, eu posso ser uma pessoa mais preocupada, sempre a reflectir nas responsabilidades que tenho para com a casa, e a sua arrumação, a limpeza, e ordem...enquanto o meu companheiro, sendo mais descontraído nessa temática pode fazer-me sentir menos presa a esses conceitos, fazer-me sentir a leveza com que ele lida com o assunto, e ajudar-me pela positiva a encontrar um meio termo entre as exigências que coloco a mim mesma, e as ideias dele, de nos preocuparmos mas não em excesso...uma diferença que ilumina, que não afasta, que me ajuda...
A diferença pode fazer-nos belos e interessantes aos olhos dos outros, pelo menos na fase da sedução, do início, onde aquilo que não é comum me cativa, então, porque deixamos nós que aquilo que agradava e juntava as peças, afaste e magoe, separe e irrite...a exclusão do outro, a não aceitação dessas partes de mim e de ti, não favorecem o desenvolvimento de uma relação maior, mais profunda, faz-me(nos) sentir rejeitados, afastados da vivência a dois.
Verdade, que algumas diferenças podem parecer quase que forçar uma linguagem e comportamentos para com a Vida totalmente diferentes, para não dizer opostos, mas será razoável se pensarmos agora de forma distante, que é por diferenças dessas que às vezes nos zangamos com os companheiros, ou que é por diferenças dessas que não nos entendemos?
Quem deixa mais vezes a toalha do banho "molhada", em cima da cama? Quem demora mais tempo na casa-de-banho? Quem aprecia ver televisão em silêncio? Quem consome mais papel higiénico porque faz uns floreados com ele, antes de o utilizar? Quem perde mais tempo em prestar atenção aos pequenos pormenores, e dar-lhes um valor intenso?
Questiono-me, será que vale a pena estar a perder tempo em questiunculas deste género, em que as diferenças são encontradas como num daqueles jogos que sai na última página do jornal, em que é suposto descobrir as 8 diferenças?
Questiono-me porque o fazemos?
Acho que se torna um hábito, e como disse na reflexão "Conversas de corredor", acho que nos perdemos nestes hábitos, de conversas de corredor, desabafos sem ouvintes, mal-dizer que não cura, compadrio que não fazem companhia, que reforçam esta necessidade de encontrar no outro o diferente, o que não funciona bem, ou igual a mim, e assim justificar as falhas na relação ou as diferenças no afecto. Amarramos-nos a este funcionar que não funciona, que não une de forma solta.
E se nos víssemos como forças opostas, conjugadas em complemento, noite e dia, claridade e escuridão, com a hipótese de tais papéis se irem revertendo, como uma roleta russa consoante a Vida nos faz girar. Tu és bom nisto, eu sou naquilo. Tu gostas disto e eu daquilo, tu desafias-me porque és diferente de mim, porque pensas de forma diferente, gostas de coisas diferentes, mas há uma área imensa entre nós, que é comum, que me atrai também e me é confortável, porque também não é um desafio constante. Então estávamos a caminhar para soluções e a focarmos-nos na resolução, no encontro e não no afastamento...na diferença, que é superior às vontades, muitas das vezes é simplesmente genética.
A relação tem de estar entrelaçada, amarrada, por afectos positivos e pelas diferenças conjugadas e negociadas em pontos de encontro sinalizados para que a sobrevivência aos tumultos da Vida e da relação, seja possível e positiva.
Das diferenças que se faça a união. Pescadores conseguem unir dois cabos de tipos diferentes, de espessura diferente, com o conhecimento de um nó, que não permite escorregar, quanto mais as cordas são puxadas, mas o nó se une, e impede que se desfaça, vamos tentar, perceber qual o nó que nos une, no meio das nossas desigualdades, sabendo desde já que umas nos aproximam, outras nos irritam, e que se não existir um trabalho, um negoceio, sobre as que nos irritam, apaziguado por tudo aquilo que nos une, então, esta comparação continua, e sentimos o poder de um género inteiro, para acusar aquele ser único, como sendo responsável por todos os males dos do mesmo género.
Que a nossa procura, pelo meio das nossas queixinhas seja a do equilíbrio, a da harmonia, a do encontro entre duas entidades que embora diferentes, na maior parte das vezes procura no companheiro essas mesmas diferenças, não procura monotonia...claro que também procura entendimento, a mesma linguagem, os mesmos desejos, mas tudo isso existe se permitirmos um diálogo aberto, em cedência e em total capacidade de aceitação do outro por quem é...pois foi por esse mesmo outro que me apaixonei perdidamente há um tempo. É com esse que eu posso encontrar equilíbrio, pois não há nenhuma relação no Universo reservada para mim, e que vai funcionar sem estes entraves ou engasgões...ilusão, todos temos o poder de transformar a nossa relação, na relação. Todos somos capazes de investir e resolver o que temos em mãos se existir motivação para isso e se o meu querer fazer funcionar, estiver acima da minha vontade de desisitir ou deixar ir.
Não deixem ir, lutem, anulem as diferenças, reforcem os laços, não se deixem escorregar, e num abraço profundo entre os dois prometam-se um ao outro, lembrando-se do porquê de estarem juntos...
Sem comentários:
Enviar um comentário