A minha
reflexão de hoje baseia-se não só na minha experiência profissional, uma vez
que vejo casais e famílias no meu dia-a-dia, e que na minha frente trocamos
informações e segredos, na esperança de caminharmos para uma verdade que nos
ajude a dar sentido à vida, às nossas vidas; mas também daquelas conversas de
amigas, de café, ou até da minha própria projecção, não só enquanto mulher, e
mãe, mas também como companheira.
Não quero
começar, sem criar esta nota especial de que este texto irá exagerar exemplos,
e extremar situações de forma a poder ilustrar os pontos de vista que quero
transmitir, ressalvo que na minha opinião não existem na realidade estes dois
grupos a que me vou referir como entidades opostas, nem sinto que a inimizade
seja um real problema, no entanto, para chegar a bom porto, gosto de exagerar e,
às vezes, através de exemplos quase que ridículos é mais fácil cairmos em nós,
e fazermos algo por aquilo que não está bem.

Mas, eu continuo com a minha teoria, que
tenho vindo a reforçar ao longo das minhas reflexões anteriores, quase que a
tentar manter a inocência e a simplicidade da criança, perante problemas
insolúveis para os adultos, de que as coisas são sempre bem mais simples do que
aquilo que queremos, o problema é que se assumimos que simples são, tomamos em
mãos a responsabilidade de ter de resolver, pois será simples, no entanto, o
que muitas vezes não é nada simples,
é aquele esforço necessário para que eu, me dobre um pouco, peça desculpa, dê
razão, entenda e explique o que quero pedindo, sem exigir, numa linguagem
universal, sem codificações, e espaços para preencher vazios, que os “eles”
muitas das vezes não entendem ou nem chegam a ver, pois nos nossos discursos,
que tendem a ser longos e em zig-zag, fazem com que os “eles” às vezes já se tenham
perdido ao 1º “hello”.
…Estão elas no
café (e vocês sabem de quem falo…), e partilham: o meu marido está sempre
preocupado, verifica constantemente os gastos e confirma se continuamos bem ou
não de finanças, incomoda-se com os miúdos nas questões das notas, se têm tudo
o que é preciso, mas não celebra as pequenas coisas, não fala comigo, responde
pouco, e a meio do “meu” discurso, sinto que já não me ouve, se pergunto o que
quer para o jantar, diz “qualquer coisa”, depois mais tarde se me pergunta o
que há para o jantar, surpreende-se de não ser algo que ficou a imaginar.
Zanga-se com os filhos se não vêm para a mesa à primeira chamada, mas “eles”
muitas vezes são os últimos a chegar, e esta lista pode continuar, em qualquer
café que pare, posso ouvir isto, quase como que se estivesse a viver
experiências de deja vu, com estes
grupos de mulheres a desabafar nos “corredores” da Vida, as queixas e as mágoas
que acham só serem entendidas pelas “elas” como elas, e que de certa forma, vai
complicando estas diferenças de género, de história genética, em vez de as
simplificar, ou até de servir o propósito de sairmos destas conversas com o ânimo
de aceitar o evidente, aprender a viver com isso, e retirar o melhor partido,
características essas sim, altamente femininas, pois fomos programadas para
perante situações que consideramos “problemas”, chorar uma lágrima ou duas,
recompor, arregaçar mangas e resolver, mas nestes confessionários de café, onde
quem nos ouve pode não ser um bom “ouvinte”, às vezes, em vez de vir
reconfortada, e com o entendimento que não é de propósito, é mesmo assim, venho
ainda mais irritada, com o apoio das “elas” todas que comigo concordam, e
parecemos gangs, a juntar forças para
nos unirmos contra as forças ocultas dos “eles”, que nestas diferenças nos dão
cabo dos nervos, mas o engraçado no meio disto tudo, é que fora deste corredor
de desabafo e mágoa, não vivemos sem eles, no dia seguinte não sabemos porque
estamos zangadas com estes seres de quem gostamos, e andamos nestes movimentos
de pêndulo, altamente dispendiosos a nível energético, e que com o tempo,
também se torna dispendioso na relação.
Sim, façamos
uma ode à diferença, deixemo-nos de feminismos que se justificaram, em épocas
em que nada tínhamos, e olhemos com olhos de ver, que nestas diferenças, reside
a paixão, o equilíbrio, aquilo que nos cativa e fascina, pois queremos
entender, o desejo de que para “eles” por alguns momentos nós fossemos tudo, e
eles não conseguissem tirar olhos de nós, durante os nossos discursos recheados
de detalhe, hipérboles, adereços e eventos, e que na cabeça masculina todos
estes símbolos se transformassem não só num entendimento profundo das nossas
pessoas, mas também, num interesse súbito pelos nossos temas de conversas, não
pode dominar as nossas vidas a dois.
Mas a isto eu
chamo pseudomoralismo, pois, eu gostava de saber quantas de nós ouviríamos com
toda a atenção os discursos dos “eles” sobre futebol, finanças, Professor
Marcelo, o buraco do ozono, a crise no Médio Oriente, as trocas de jogadores do
Porto, a má arbitragem em Portugal, etc. Quantas de vocês estariam
completamente embevecidas pela vossa cara-metade e a seguir tais discursos,
como se bebessem as palavras que saem daquela boca de mimo…
Sim, façamos
uma ode à diferença, ainda bem que somos eles e elas, diferentes em tanta
coisa, que quase que é impossível por vezes um entendimento fácil, se não
existir um esforço heroico de ambas as partes, mas isso sim é a prova de amor.
Não são as lutas contra os dragões, e as rosas na boca a dançar um tango
connosco, que nos demonstra que este grupo vive apaixonado por nós.
É no dia-a-dia
de cada ele e ela, nas trocas e interações, no gesto de carinho do adeus, no
beijo da testa do nosso filho, na troca de olhares de orgulho na nota do mais
velho, nas discussões, no interesse por não nos ver sofrer, nos apalpões, no
fazer amor, do zangar e gritar (em dose certa claro!), que “eles” e “elas”, se
entregam e revelam, e mostram que este jogo de diferenças, nem sempre tem
soluções, mas é a cada jogada que nos descobrimos, cruzamos mais os nossos
caminhos e voltamos a ser verdadeiramente elas…nestas ode à diferença,
deixemo-nos de lamentos de corredor, façamos um gang para o amor, conversemos umas com as outras no apoio para
descobrir a descodificar o que queremos, como vamos pedir, e acima de tudo,
como chegar aos eles para assegurar o entendimento, que os faça lutar, para
entender a diferença, sem mágoas, sem ressentimentos e sem sentimentos que na
diferença há superioridade.
Nestas nossas
diferenças somos iguais, na procura de afeto que nos dê sentido à vida, uns
expressam de uma forma, outros de outra, só temos é de nos entender. Usando uma
linguagem neutra, a da matemática, 1+1 sempre foi igual a 2, nós não podemos
ser uma fusão, só conseguimos ser igual a dois, se mantivermos aquilo que faz
de nós eles e elas, e com isso a soma, dá certo, pois se quisermos que a soma
dê 1, então queremos que um de nós desapareça.
Não podia chegar em melhor altura!
ResponderEliminarExcelenete é sem dúvida uma boa ferramenta ;)
beijinhos
Bela