quinta-feira, 29 de março de 2012

Passado, amarras...prisões e desilusões...O papel do perdão.





A minha vida decorre no aqui e no agora...mas em certos momentos viajo, ao futuro, para fantasiar o que quero para mim e para os que amo, sonho com momentos de ilusão, em que consigo construir os momentos que ainda não vivi, e quase saborear o gostinho que me dará, se assim se realizar. 

Sonho comigo, sonho com os meus filhos, com o trabalho, com a vida a dois...parece um romance, que me faz, querer estar aqui e agora, para chegar lá. Para não estragar o fim, mas querer ler com calma e viver a aventura, cheia de pormenores que eu sinto poder ir acrescentando.

No presente, vivo, e tento fazê-lo intensamente, não só porque assim me obrigam os meus desejos, mas porque assim me foram ensinando as lições da vida e as pessoas com quem me vou cruzando, e que na minha vida deixam marcas de sabedoria.


Mas, confesso, como todos vós, que às vezes também viajo ao passado, para encontrar razões, para me lembrar de momentos ou ilusões. Para chorar quem não me acompanha agora, para lembrar um primeiro evento, para recordar sensações de infância em que não tinha pesos na alma, ou para me lembrar de feridas ou cicatrizes, que ainda doem. 

É um facto universal (digo eu, na minha ainda modesta amostra de sabedoria interpessoal), mas mesmo assim, nestas viagens há que ter cuidado, pois os propósitos podem ser bons, mas os resultados nem sempre são garantidos.

O que lá fazemos pode criar amarras em nós, saudosismos desesperados, que nos prendem nesses momentos, que na realidade são irrecuperáveis, e nos fazem ficar ancorados num momento, que na realidade sabemos que já passou, mas que na nossa vã esperança, vamos tentar repetir e emendar...crasso erro...Estas nossas tentativas esvaziam-nos, deixam-nos presos a algo que já foi, e que ainda que eu possa aprender a lição, tirar algo de positivo, de tais eventos, na maioria das vezes, se lá permaneço muito tempo, não emendo nada porque não posso, mas também não vivo, porque estou presa neste tempo que não existe entre agora e lá.


Passo a reviver o que foi, pensando como poderia ter sido, o que devia ter feito, como alguém me deveria ter apoiado, abraçado ou amado...e como tudo isto é de agora, e nada faz no que passou, cria vazios de dor, que eu não sei que lhes fazer. Mais, pode zangar-me com quem está comigo, porque sinto que ao estarem lá, também deviam ter entendido, o que entendo agora, porque preciso de partilhar a minha dor, e talvez por arrependimento, arrasto comigo, para esse espaço de tempo inexistente, os que amo hoje, culpando-os do ontem, que eles às vezes não sabem ou reconhecem.

Isto, porque na maioria das vezes ao viver o agora, que para esta minha reflexão eu quero que entendam que era o ontem, nós estamos a dar o melhor de nós, damos aquilo de que somos capazes nas circunstâncias em que estamos, e se damos o que há em nós, e o que temos connosco para dar, a dor do outro às vezes não é entendida, pois pode estar a ser ampliada, pela experiência, pela distância, pela saudade...O arrependimento, a incapacidade de ir cortando as amarras, conforme nos lembramos destes episódios, e vamos entendendo o que aconteceu, como aconteceu, e aprendendo que tudo tem uma justificação ou explicação, se conseguirmos viver os eventos pelos olhos de todos os intervenientes, faz com que este caminho pareça ter apenas uma direcção...e esta é a da culpa, da distância, da frieza, da amargura.

É um caminho que não resolve, pois estamos a tentar editar um filme que já saiu dos cinemas, e que não pode ser repetido de maneira nenhuma.

É um filme que ficou para trás, que temos de relembrar, pois muitas das vezes é o que faz de nós o que somos, mas, sempre com o entendimento, que não deixa de ser um filme, pois, quando acaba, e me encontro de novo, aqui e agora, tudo isto, por muito importante que me seja, ficou lá para trás. 


Que lições aprendi eu, ao ver e sentir estas emoções em mim e nos outros, que estes tempos de que falamos são passados a correr, e se me distraio, ficando num tempo que já não existe a tentar mudar o impossível, escapa-se das minhas mãos a oportunidade de fazer diferente no filme que ainda estou a filmar, e que me permite, ao editá-lo agora, fazer com que amanhã, também seja mais fácil, eu sentir que tenho controlo no decorrer do filme, ou pelo menos na escolha dos argumentos.

É agora que posso usar todos os meus recursos, os meus sentimentos, as minhas energias para tomar uma atitude que permita escrever o futuro, em vez de me preocupar com o apagar de um erro ou passado, que não deixou de desempenhar a sua função.




Pergunto, seríamos os mesmos se o nosso passado fosse diferente? Conseguimos gostar de nós agora, por quem somos e fomos, e dessa forma entender que esta construção resulta de tudo o que vivemos e não do que gostaríamos ou poderíamos ter vivido?

Podemos ou devemos, deixar ir, fazer com que estes momentos que nos magoam, recebam um entendimento e possamos assim despedirmos-nos deles deixando-os ir, como folhas que descem um rio, ao sabor das ondas que as levam. Folhas essas onde guardámos as nossas lágrimas, contámos as nossas histórias, e em voz alta as entregamos aos sítios onde fazem sentido estar, levadas pela vida, ficando apenas connosco, a imagem,  o sabor, a aprendizagem...aquilo que fez de nós um alguém melhor.

 A melhor maneira de escapar ao passado, 
não é evitá-lo ou esquecê-lo, 
mas sim aceitá-lo e perdoar.

Ophs! Já sei, já estou outra vez a falar daqueles "algos", que vos peço, que podem parecer simples, mas que não são, e que acima de tudo, faz com que vocês me possam dizer que dão trabalho, que às vezes parecem impossíveis de fazer. Verdade! É mesmo disso que estou a falar, mas para quem me vai conhecendo, eu sou persistente, e acredito em determinados fenómenos, que se receberem atenção suficiente, se simplificam, e nos permitem fazer aquilo que agora nos parece impossível.


Para que o passado parta, e fique no seu sítio, e para que eu possa amar agora quem está comigo, e que no agora, não pode resolver o que fez mal, no antes, mas pode resolver o que faz, para que juntos negociemos um meio ponto, criemos ilusões, e choremos juntos as desilusões, mas sempre numa despedida do que foi, para construir o que pode ser, um tem de deixar ir, o outro tem de receber, um tem de estender e o outro acolher.

É fundamental que dancem estas trocas de dar e receber, pedir e dar, estender e receber, sem contagens ou turnos...no fim bate tudo certo, se a entrega for mútua, é só nisso que têm de trabalhar. Nunca queiram ver a cara daquele que estende a mão que não é aceite, ou nunca queiram sentir o que é tentar acolher, e ver que o outro vos foge. Não se mascarem, caminhem seguros que o passado construiu a vossa natureza, no presente vocês aplicam-na, sempre a querer controlar a ilusão de um futuro, onde as vossas decisões de seguir em frente e deixar ir, são mais cruciais, do que as forças que se encontram fora do vosso controlo.

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