Nós
famílias...as nossas famílias, nós na família, os outros da família...
Ser
família, implica o quê? Sermos todos do mesmo sangue? Termos crescido juntos?
Termos o mesmo nome? Ter a mesma história? "Ser família" é
importante, é um conceito que depende de muitos elementos, emoções e da
história que carregamos connosco, enquanto entidades. É tão importante, que às
vezes é mais sentido do que pensado, pois em momentos críticos, estamos do lado
da família, que pode não ser o mesmo que o da razão, ou da verdade (qual
verdade?). Ser família fala mais alto, é sem dúvida o conceito de pertença mais
importante, eu sou, porque sei de onde vim, quem é a minha família. Claro que
isto também complica tudo, ou não fosse eu sempre dizendo, que tudo o que se
relaciona connosco é tão simples sempre e tão difícil ao mesmo tempo.
Quantas
das famílias que me procuram, estão próximas, unidas, a amarem-se a todos, mas
num nó, mais do que embrulhado, um nó que estrangula, e aperta, em vez de
dar a segurança de não deixar ir, ou cair. Para ser família, eu quero dar
o meu melhor e esperar dos outros o mesmo, quero aparecer bem na fotografia, e
condizer com todos os sonhos que em tempos elaborei, quando pensava em ter a
minha própria família, se é que isto realmente existe, pois onde é que eu
defino as linhas que dizem, tu pertences, mas tu não...Quando sonho com o que
quero que a minha família faça ou viva, motivo a minha própria Vida, desenho
caminhos que quero percorrer de mão dada com todos eles, mostrando o que foi
que fui sonhando nos momentos em que desenhei o futuro que quero partilhar com
eles.
Nesses
devaneios contemplo tudo menos fracasso, ou dificuldades, omito-as dos meus
pensamentos pois não faz sentido. Mas, na realidade, quando a Vida se
desenrola, como um filme no qual eu não mando, às vezes os meus sonhos e
desejos embrulham-se, enfrentam algumas dificuldades. Criam nós cegos (para
quem não é ou foi escoteiro, são aqueles que são quase impossíveis de se
desmancharem)...e cabe a mim, ou a mim mais a minha família, ultrapassar isto
tudo, e é aqui que às vezes as famílias param, baralhadas, com dúvidas sobre as
suas capacidades. Mas é aqui mesmo que eu quero entrar, e se puder, inspirar um
pouco quem vá lendo estas linhas que escrevo, não há nó cego que não se
desmanche com paciência, temos é de parar de puxar, e com calma, ver as voltas
que já deu, uma a uma, e com um princípio começar a desenrolar, resolvendo uma
laçada de cada vez. E, isto todas as famílias conseguem, na sua energia
mais profunda, na resiliência que a Vida lhes trouxe, e com o amor que na maior
parte das vezes os une, as famílias, todas elas conseguem, parar, olhar as
laçadas, e começar por uma ponta. Só uma de cada vez, e quando sentirmos que
estamos a conseguir, arriscamos um pouco mais, e já desmanchamos duas laçadas
ao mesmo tempo.
E neste jogo de arriscar aprendemos de novo que somos uma
família, capaz, capaz por si mesma, válida no que sabe fazer e nas razões que a
unem. Descobrem que existe magia nos vossos afectos e que em cada um de vós, em
cada peça da vossa família, existem forças, que unidas vos tornam a todos
resilientes, quase super-poderes, que bem controlados e orientados, vos levarão
mais longe, e mais perto de cada um de vós. Nós fortes que vos unem, nós que
vos protegem numa rede densa, nós de significado e história, e que revelam
aprendizagens passadas, nós vossos, que com muita coragem às vezes partilham
com os outros, dando a conhecer um pouco das vossas realidades.
As famílias são
heroínas na vida de hoje, nos desafios do mundo, e na constante mudança a que
nos obrigam, num passo imposto. Bem hajam as famílias que nos seus nós se
mantêm juntas!
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