sexta-feira, 30 de março de 2012

Eva e Maria...

Este texto, ou esboço, de pensares e sentires são provocações a nós mulheres e ilustrações para os homens que nos acompanhem...são partilhas dos problemas com que me confronto, no dia-a-dia, no contacto com o feminino, e com as suas lutas diárias para manter uma imensidão de papéis a funcionar, evitando as necessárias colisões.

Eva, a mulher dona de todos os males, pois foi acusada não só de se ter deixado ir pelas palavras da cobra, como também, de ter seduzido Adão, fazendo com que ambos perdessem o paraíso...que peso, estava ditado na história que nós teríamos muito que lutar para podermos vir a ser um alguém igual ao sexo oposto, mas, mesmo nesta luta havia algo que já estava ganho, tínhamos tido direito a uma força,  um poder sobrenatural que era atribuído a estes seres - o da sedução. 
Sedução que domina o ser oposto, dono da razão, dono da cognição, das palavras e da sabedoria. Mas, nós mulheres, nos nossos amores, quando realmente apaixonadas, mestramos as qualidades de seduzir, por que neste processo, fazemos o jogo da entrega total, da dependência, demonstramos o poder que o homem pode ter ou exerce sobre nós, e com isso, seduzimos, a estados de inquietação os companheiros com quem partilhamos estes encontros de alma e coração. Não falo dos encontros de cama e sofá, pois esses serão sempre abordados separadamente.

Nós mulheres quando vamos crescendo e desenvolvendo a nossa personalidade feminina, vamos tomando posse dos nossos atributos, ganhando confiança em quem somos, aquilo que é belo em nós, e como podemos dar brilho à nossa pessoa, só pela confiança com que nos entregamos ao amor.

Neste processo, vamos sabendo o que queremos do amor e dos nossos companheiros, e vamos sabendo o que eles querem de nós, e nestes momentos de entrega, não há nada que impeça a entrega total, o desejo, a libido. Há sexualidade, há sensualidade, há vontade e há hormonas que se libertam e fazem tudo isto funcionar como um motor bem cuidado, a que nada falta. Claro que me podem dizer que nas histórias de amor, na intimidade, na sensualidade ou sexualidade, há sempre arestas a limar, questões a debater  e a melhorar. Sim, é verdade, mas os componentes estão todos lá, e focados nessa direcção, não só porque amamos, mas também porque queremos o outro emocionalmente, e, porque tudo em nós pede o outro, permitindo aprendizagens de intimidade que não se perdem, encantam e aproximam. O amor funciona, o outro não se sente sem atenção, a líbido funciona, e é um gerador que se auto-alimenta.

Mas, nós fomos crescendo numa sociedade, de gerações, que os nossos pais, por muito que se amassem, mostravam-nos um afecto casto, no que se referia à sua própria relação. Podemos ter observado uma troca de beijos, um abraço, ou algo até mais atrevido, mas de certeza, que ocorria de uma forma fugaz, por isso (e claro que estou a simplificar todo o processo, pois o objectivo é provocar ideias, confrontos  e desconfortos) aprendemos a ter uma imagem que nos mostra que quando nos tornamos pais, nos tornamos seres a viver em função destas alegres criaturas que partilhamos e amamos muito. Vêmos que a vida de educar era coisa séria, e trazia rugas e preocupações, viamos os nossos pais, como entidades quase sagradas, nós mulheres víamos a nossa mãe, como aquele ser sempre presente quasi omnipotente, que me defenderia de tudo e que se dedicava mais a mim do que a qualquer outra coisa, até mesmo mais do que ao meu pai. "Mãe é mãe!", quantas vezes não ouviram esta frase, que implica uma total dedicação, mas que pode ilibar o pai.



Mas, esta reflexão também não quero que seja sobre maternidade ou paternidade, quero que seja sobre o fenómeno, que nos acontece a nós, mulheres, e às vezes as nossos companheiros, a partir do momento em que temos filhos, e além do papel de companheira, sensual, sexual, amiga, etc., passamos a ter o papel de mãe...o papel da cuidadora. E a partir do qual, forçosamente nos vêmos a dividir o tempo, a aprender a dividir o coração...a dar mama, a adormecer seres que dependem na totalidade de nós, e que nos entregam um amor cego de sobrevivência, seres esses capazes de nos seduzir e arrancar das mãos e abraços do companheiro que tanto nos ama. Que cambalhotas damos nós na nossa cabeça...quem somos a partir destes momentos, a Eva sedutora, sensual, que quer o marido e precisa dele como mulher, e que precisa dele para existir. Será que esta está lá sempre, a 100%, ou por vezes quem está é "Maria", a mãe, e a outra mirra, ainda que temporariamente.


Como nos vemos? Quem somos? Qual o papel a que damos mais importância agora? O que precisamos?

Aquilo a que todos somos forçados aquando o nascimento de um bebé, toca nos ritmos de todos os elementos de uma família, para além de tudo o que é belo, e que não preciso de salientar pois essa é a parte fácil, vem o desgaste, a diferença nas hormonas, da química, do tempo, as sensibilidades e disponibilidades, o cansaço, este novo amor...tanta coisa que se entrava, que aparece e se acumula naquele espaço de cama, que existe entre nós, e eles.

Mais, se na nossa cabeça ser mãe, tem como modelo aquele que temos das nossas mães, vamos ter de batalhar para não nos tornármos nuns seres assexuados, que neste novo papel de enamoramento, nos esquecemos que somos mulheres, que amamos os nossos companheiros, e que parte desse amor cumpre-se na intimidade, e não se riam, não estou apenas a falar de sexo, estou a falar de se ser intimo e de podermos ter no outro, aquele ser cúmplice que nos conhece melhor do que ninguém. Podermos devolder à relação aquele espaço em que ambos sentimos, que mesmo existindo filhos, nós somos um do outro, não nos perdemos, e que embora muitas das vezes este amor filial seja mais do que incondicional, há espaço para que o amor de homem e mulher não despareça, conseguindo o nosso companheiro ter ambas (Eva e Maria) a viver lá em casa.


Sejamos Eva ou Maria, somos capazes de entrega, seja aos filhos, seja aos companheiros, precisamos é de aprender a não permitir o desaparecimento de uma para o crescimento da outra, eles, e nós, precisamos das duas...assim equilibramos o feminino com o maternal, assim equilibramos a sedução, com a entrega do cuidar, assim, somos mulheres completas, em relações inteiras, não fatiadas, e com plenas sensações em todos os papéis que nos habituamos a gerir.


Sejamos mães para os nossos filhos e sedução para os companheiros...sejamos femininas e diferentes pois assim sempre foi, e é desta diferença e poder, que resulta o equilíbrio das nossas relações. Não se esqueçam de nenhuma parte de vós...o incompleto nunca chega a satisfazer.

2 comentários:

  1. no limbo do quotidiano, o peso que é este multiplicar de papeis... o que se sente, o se faz sentir e o que ousam os outros sentir... dificil.. mas deveras interessante

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  2. jet-lag is on the house, Eva Maria : )

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