domingo, 1 de abril de 2012

Será que eles não dizem nada...e, nós não paramos de falar...?

Será possível alguém não dizer nada? 

Quando tudo em nós, muitas das vezes, fala nos silêncios que nos rodeiam. 

Será possível que nós mulheres estejamos sempre a falar, sem silêncios de reflexão, preparando as trocas que queremos fazer com quem nos escute?

Será que era positivo nós falarmos e eles também, ao mesmo tempo, em simultâneo, como se nos ultrapassássemos em estradas de sentido único.

Será que devíamos de algum modo ser iguais, num entendimento tão profundo, que estas diferenças que servem de humor ou crítica, deixassem de existir?

Vamos então às provocações! Acho que não...


Os silêncios masculinos são tão necessários como um intervalo num filme longo. Muitas das vezes nos nossos discursos, sérios, em que tentamos mostrar ao outro o que sentimos, de que forma o outro nos afecta, as preocupações que temos com a família, as injustiças que sentimos nos tratamentos do dia-a-dia, as faltas que temos, os desejos de amanhã, parece que muitas vezes as palavras se embrulham, em papéis do passado, rendilhados de mágoas, coisas não ditas, tons de voz alterados, energias trocadas, e o diálogo sai acelerado, com as palavras que não queríamos, com contextos pouco relevantes, e em que o esforço é todo colocado em esconder as verdadeiras emoções daquilo que queremos transmitir. Talvez seja verdade, que nestes momentos é bom, que um dos comunicadores, seja capaz de se silenciar, reflectir e talvez na sua não resposta, conseguir dar um tempo para que o outro se organize e pense se o que disse é o que queria dizer, se o que disse foi ouvido, ou ser capaz de parar, e agora sim, dizer em emoções as razões que dentro de si, gritam para ser partilhadas.



Verdade, que nas conversas femininas, de umas com as outras, no café, ou no sofá, na procura de apoio, as palavras são trocadas a alta velocidade, com interrupções constantes, trocas de direcção, em segredos meio ditos, que serão partilhados a mais umas quantas pessoas, com opiniões dadas sem ser escondidas, mas em que a linguagem e o não dito é captado pela sintonia de funcionamento entre o género, mas facto é, que estas conversas não nos resolvem as questões que se relacionam com os companheiros, pois com esses as estratégias têm de ser diferentes, mas com a regra de que ambos os lados têm de entender que as palavras são as mesmas, os gestos e as expressões são iguais, o que muda é a forma como as trocas são feitas.



Será que nós mulheres temos este papel de comunicar, de despoletar a conversa, o discurso, provocando no outro - o companheiro, a necessidade de pensar sobre o assunto e se organizar o suficiente para nos devolver o que precisamos para apaziguar esta fome, ou sede de confirmação, pelas palavras do que está em jogo na relação. Será que esta nossa necessidade existe pelos silêncios partilhados com aquele que nos acompanha? Será que quanto maior for o silêncio, mais eu, mulher, tenho de falar...pois preciso desse reforço?

Mas será que o homem, muitas vezes sabe falar de volta? Connosco?

Será que nós mulheres sabemos falar com os homens, nossos companheiros, e dizer-lhes o que realmente queremos ou precisamos?

Será que o homem aprecia ver-se embrulhado nesses rendilhados de discursos, muitas vezes apenas coerentes para nós, com um sentido que só nós desvendamos?
Não será que nesses silêncios está também a nossa paz, e nós não aprendemos a reconhecer esse efeito e teimamos, continuar a insistir num processo de mudança do outro, não entendendo que os diálogos podem parecer sinfonias, em que existem momentos em que todos tocam, em alto, e em sintonia, mas há momentos em que apenas uns fazem solos, e podem tocar tão baixo, que até se torna quase inaudível.

Será que por vezes a intensidade destes diálogos ou monólogos, é tanta, que quem ouve parece sentir-se agredido, e não tem outra saída, senão o silêncio, como se assim uma barreira invisível se erguesse e protegesse do que sinto ser uma invasão do meu estar e ser?


Quantas vezes estes discursos em que nós queremos muito falar, fazer-nos entendidas(os), passar a mensagem, e por simbologias secretas, pedir o que realmente queremos, fazendo quase que necessária a existência de um "tradutor", aquilo que acaba por passar são lutas invisíveis de poder, que não nos deixam dizer o que deve ou queremos dizer, mas vamos sim, jogar um jogo de poder, em que nos degladiamos até que um vencedor se erga, e no jogo de braço de ferro, que exige um perdedor, chegue ao fim, e nesta batalha linguística, surja como único resultado possível uma perda de entendimento.


Mas, também podemos ver isto de uma maneira diferente. Quase que humorosa...


É verdade que uma mulher (na sua maioria), quando relata um facto, ou conta uma história, se transforma em Almeida Garrett, conseguindo dar tantos detalhes e pormenores sobre o evento, que a outra pessoa só pode sentir que lá esteve. É verdade que uma mulher para dar direcções de um caminho qualquer que seja, não fala apenas nas estradas e caminhos,  mas descreve aqueles pontos de referência, essenciais ao funcionamento do nosso mapa mental. Quando falamos de um sítio, quase sempre dizemos que fica ao pé de outro. Assim não há dúvidas...


É também verdade que os homens (na sua maioria) quando relatam um facto ou evento que testemunharam, o fazem de forma telegráfica, assegurando que a informação mínima é transmitida (ou às vezes não, transmitem tão pouco que nem o mínimo fica assegurado), não sentem necessidade de contar todos os pormenores, nem de dar referências que consideram desnecessárias, pois assim não causam dúvidas...


E agora? Da maneira como me expressei, até parece que estes seres se devem complementar e não deveria ser causa de desconforto, pois um que fale mais é ouvido por aquele que fala menos...uphs, aí é que surge a confusão, um não fala muito, e muitas vezes não gosta de ouvir muito, e quem fala muito, não gosta de não ser ouvido...aqui está o embrulho, estas diferenças, que podem ser exploradas e ensinadas, e muitas das vezes traduzidas se o objectivo máximo (que não queremos, nunca, perder de vista) for o ser entendido e entender o outro, mas em vez de assim ser, são razão de mais uma disputa e discussões, em que não saem apenas duas verdades e duas realidades, saem dezenas delas, que vão ser vividas e revividas, interpretadas vezes sem conta, até que não nos lembramos do princípio de tudo, só nos lembramos que o sentir está no negativo, e ambos guardam a sensação de não serem ouvidos e entendidos.


Aprender a ouvir, activamente, questionando o outro até que saibamos realmente o que este quer dizer e o que quer pedir, é crucial, para que ambos, conquistem um espaço de verdadeiro diálogo, em que a riqueza de palavras e descrições da mulher assegure o homem do seu amor, e o silêncio deste revele a escuta activa que lhe dedica, para que depois lhe possa perguntar e oferecer frases de resposta, que aproximam e reforçam o amor e companheirismo, em vez de se perderem nos rendilhados de discursos vazios de intenção e emoção, escondidos em diálogos surdos internos, que nunca chegam a ser revelados.


Falem tudo o que precisam de falar, no mesmo dia em que as coisas vos fazem sofrer, não guardem, mas, aprendam também a ouvir, e lembrem-se que nenhuma destas acções pode ocorrer ao mesmo tempo, a estrada é sempre de sentido único, só assim evitamos o desastre de colidirmos informações que não foram partilhadas, mas sim, que vêm de dentro, de diálogos mantidos connosco mesmos.


Falem! Escutem! E no fim, ainda que se entendam, mas não concordem um com o outro, abracem-se e lembrem-se que estas conversas dão-se para que vocês se conheçam melhor. Para que as coisas se resolvam, e para vos lembrar que podem ter diferentes pontos de vista, mas isso não é razão para distâncias, mas sim para equilíbrios.

2 comentários:

  1. Aqui está uma nova realidade....
    beijos
    bela

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  2. Uma lição que tenho aprendido ctg: Saber escutar é tão ou mais importante que a vontade que temos em falar ; )

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