Quantas vezes damos por nós descontentes de alguma coisa na nossa vida, e nesses momentos, em pequenas conversas, em corredores de passagem, parece que queremos abrir a alma, em cinco segundo, na vã esperança de conseguir que o outro porque nos ouve, nos dê de volta uma tranquilidade e resolução, que não é capaz, simplesmente porque não....
Quantas vezes nestas conversas nos expomos, e gastamos energia, com a crença de que assim é mais fácil...fica tudo de permeio, não sou ouvido com atenção, e não há tempo para reflexão, fujo de mim e dos outros, no desejo profundo de que alguém me pare e me diga, o que fazer. Nestes corredores que me parecem escuros, ouvem-se os murmúrios de todos nós que por lá andamos, repletos de mêdos e receios, que a nossa voz dá forma, mas rapidamente esquece, ou põe para trás. Nestes corredores sabem-se segredos, mas não existe coragem, nestes corredores há partilha, ou entrega, mas não há dádiva, retorno e atenção. Nestes corredores não se faz nada, contempla-se o infortúnio, comunham-se dores de alma, no vazio da inacção.
Estas não são as conversas de mudança, estas são as conversas de labirinto, que nos fazem percorrer caminhos que nos levam e trazem sempre aos pontos de partida, mas, que são pontos de partida de quem está perdido, e nas conversas tenta dar voz aos seus valores, aos seus desejos, mas nestas subidas e descidas, nestes espaços de encontro furtivo, o conselho dado é gratuito, mas às vezes é mais pensado para o próprio, para quem o dá, do que para quem o recebe.
Aqui na ausência de quem não está, ganhamos coragem de deixar recados no ar, pedidos falados, na esperança que de alguma forma estes sejam entregues e entendidos, ganhamos a sensação que estamos a caminhar para algum lado, e estas reclamações ou desabafos ao ar iludem-nos que somos agentes de mudança, mas na minha opinião, estes momentos que considero perfeitamente normais e saudáveis, são completamente insuficientes e muitas das vezes, se forem os únicos espaços de abertura, de desabafo, nunca deixaram de ser corredores escuros, labirínticos, onde mais facilmente nos perdemos do que nos achamos.
O processo de mudança, de agir sobre mim mesma, na procura de ser melhor, de mudar, de reflectir sobre o que não está bem, sobre o que tenho de fazer, sobre quem preciso ou quero ser, tem de partir de momentos prolongados, de viagens ao meu íntimo, ao meu cerne, que levam tempo, que doem, e que por si só não chegam, tenho de me fazer viajar acima das situações que vivo, e colocando-me numa perspectiva de quem vê de fora, analisar, com seriedade e coragem, em que posso ser eu o agente de mudança. Acredito vivamente, que mudar é dos processos mais difíceis e aos quais nós acabamos por ter mais aversão ou receio, mas se damos inicio a esse encontro, com estas novas partes de nós, que podemos alimentar e fazer crescer, e se entendermos, que temos sempre um papel na atitude do outro e na sua própria mudança, então sim, tornamos-nos capazes de ser agentes de mudança nossa, profunda, voluntária, e assim sendo, mudaremos os outros sempre, que mais não seja no seu contacto com a nossa própria mudança.
Muitas das vezes os casais discutem, sentem-se magoados pelas expressões ou partilhas do outro, pois nesses momentos, estamos como que no nosso corredor escuro, onde tudo é vivido no meu cerne, e a linguagem do outro na realidade não é ouvida é sentida como um ataque, sendo assim, perco-me em sensações momentâneas, fico surdo, rígido, magoado, preso em desabafos que não são, e nas tais conversas que também não são de agir ou reflectir. O outro, faz o mesmo, perdendo-se também nestes corredores, e embora às vezes estejam a discutir juntos, os corredores não são os mesmos, ou o momento não é o mesmo, como se pudessem estar em diferentes momentos do tempo, separados por cortinas de desfasamento, que complicam o entendimento e a aceitação. A minha sugestão é que tentem ganhar, uma distância, tentem ouvir estes desabafos ou discussões do vosso cerne, mas com disponibilidade para ver o corredor do outro, a escuridão contra a qual também luta, e se dediquem a serem agentes de mudança, às vezes o outro está a gritar que precisa de um abraço, com gestos de recusa, ou palavras de afastamento, e eu só consigo ouvir estas palavras não ditas, se vir o corredor, o labirinto, onde o outro está, e saindo do meu cerne, me arrisque a responder ao que não foi dito, mas eu ouvi, em vez de responder ao que foi dito, mas eu não sinto.
O corredor da luz, que não é escuro, é o do entendimento, da entrega, e de uma profunda reflexão sobre quem somos nós, como funcionamos, que botões nos pressionam, o que nos motiva, e em cada pequena acção nossa, agirmos de acordo com a mudança que queremos efectuar, não só em nós, mas naqueles que nos tocam.
Um exemplo tonto, mas que pode ilustrar de forma muito simples o que estou a dizer, imaginem que: eu tornei-me vegetariana, mas não forço ninguém na minha família a fazê-lo, no entanto ao cozinhar as refeições faço tudo como era hábito, mas passei a fazer mais vegetais, pois é o que eu quero comer, esta minha alteração, faz com que todos os elementos da minha família sejam expostos a mais vegetais, e com o tempo, provavelmente todos comerão mais vegetais do que comiam antes de eu ser vegetariana. Não são vegetarianos, não os mudei profundamente, mas, o seu comportamento mudou por contacto com a minha acção para a mudança.
As conversas de corredor, se iluminadas, se forem ouvidas com atenção, e partilhadas com a vontade de entender, de ouvir, de retomar, resultam em ideias, resultam em diálogos que ocorrem mais tarde, que aprofundam o que já se sabia, que ajudam a termos uma vontade de agir para a mudança, acreditando que um faz diferença.
Na mudança, um faz a diferença. E nós somos capazes de mudar, se assim o quisermos e a essa demanda nos dedicarmos. Missão, ser feliz, e fazer feliz quem amamos!
"Nestes corredores não se faz nada, contempla-se o infortúnio, comunham-se dores de alma, no vazio da inacção" ... mas ainda bem que existem pessoas como tu que nos ensinam a estarmos atentos ao botão que desperta o corredor da luz. Obrigado pelas pistas!
ResponderEliminarSempre a aprender ...