terça-feira, 17 de abril de 2012

Paixão e esperança...vão desaparecer ou não?


Paixão, esperança...sentimentos de uma força imensa, de uma natureza especial, e que para mim significam VIDA. Mas....
Nestes últimos dias tenho sido confrontada com assuntos que me levaram a um estado de reflexão, e de angústia, um estado em que sinto as lágrimas prontas a cair e a rolarem, por uma força maior, pelo universo, pela união que somos todos nós, os humanos. Sinto isto, pois sinto que estes conceitos, estas vivências, estão em risco de extinção se nada fizermos para os promovermos...estes assuntos que me confrontam têm sido independentes de idades, de género, de estatuto sócio-económico...têm sido essencialmente reactivos a uma vida própria que lhes faz perder a essência destes conceitos, e a uma Vida colectiva que não facilita ou quase que não existe. 


A minha reflexão de hoje torna-se necessária, não só por nós adultos, em relação ou não, mas também por nós adultos pais, educadores, que temos o papel de incendiar os corações dos nossos filhos e ensiná-los a amar a sua Vida e a viverem em paixão, e intensamente os seus momentos.

No meio de uma conversa com uma amiga, ela dizia-me "quando falamos com os nossos filhos, muitas vezes falamos do nosso tempo...mas caramba, o nosso tempo é agora, porque é que falamos de um tempo que já foi, e um tempo em que tínhamos juventude?"...e esta questão/comentário dela, associado a esta sensação de amargura pela Vida dos outros, começou a pesar-me, e é verdade...estes conceitos estão todos ligados, e neste momento particular da nossa vida (FMI, crise, políticos de origem ou validade duvidosa, carência de emprego, miséria, empregos precários, filhos desorientados, futuros questionados, fome, entre tantos outros que nos preenchem a alma e o coração), se não reflectirmos um pouco sobre a nossa Vida, a paixão e entusiasmo que temos de ter, baseados numa esperança vinda de dentro, levamos-nos a um sentimento generalizado de impotência e tristeza, e connosco, arrastamos os que nos rodeiam, que embora quase que os amemos demais, egoisticamente, neste momento parecem não nos sobrarem forças para lhes mostrar, o que nós até podemos neste momento não ver.


O que é esta paixão? Não é só a paixão de amor pelos nossos companheiros, carregada de energia, que nos tira o ar dos pulmões, quando pensamos neles ou nos envisionámos num encontro de amor, não é a paixão que sentimos pelos nossos filhos, que ao saírem de dentro de nós, pela sua entrega em total dependência e amor cego, no apaixonam todos os dias, nas suas graças e desgraças, pois estamos sempre com eles, não é paixão por uma comida ou um cheiro, que nos faz lembrar coisas ou pessoas, não é paixão por uma paisagem, tão linda e profunda que nos causa prazer.

É Paixão por nós, por quem somos, por aquilo que representamos, em nós e dentro de nós, por aquilo que valemos e defendemos, é paixão por saber que podemos sempre ser melhores, podemos sempre surpreender o outro e nós próprios, acreditando que esta força que nos dá energia e brota dentro de nós, nos apaixona com força suficiente para acreditar que tudo isto, este turbilhão de cores e forças, se revolta no nosso interior, e encontra expressão no gesto que fazemos ao afagar o cabelo de uma criança, ao darmos um beijo na face do nosso pai e um abraço à nossa mãe. 

É uma paixão por quem somos neste momento das nossas vidas, com tudo o que é de bom e de mau, mas sem os quais eu não seria eu, e por isso, os outros também não poderiam ser os outros. É amar em mim o que existe, e numa entrega quase louca encontrar um propósito, que me dá um caminho e me indica o que quero ser, onde quero chegar, e tudo aquilo que represento e em que acredito, recusando-me a ser menos do que isso, só porque...(completem as causas, ultimamente tenho ouvido muito...este é o País que nós temos....).

É gostar de mim, aceitar-me, não querendo com isso estagnar, e reviver os ditos momentos de juventude já idos, em que fui isto ou aquilo, mais feliz do que agora (acho eu), e que me arrasta constantemente para um passado, não me permitindo viver o presente e assumir que a idade que tenho agora me permite aceitar em mim, coisas que levei uma vida a combater, que me permite batalhar agora por aquelas que faz sentido mudar, mudar por mim, mudar por amor, mudar porque sim, não mudar é que não. É encontrar um caminho, mesmo onde eu não o tenho desenhado, pois tenho paixão...paixão de dentro, paixão de viver, esta vida, pois é a que tenho. Deixemos-nos de não sentir, de fugir, de nos rodearmos de afazeres como formigas obreiras, que não param, e que se focam em construir algo, grande, talvez até com ostentação, mas que bem analisado, não nos faz falta, se bem calhar, nenhuma.

O que me faz sentir viva, não é comprar mais uma televisão, ou um par de sapatos - embora isso possa ajudar! ;0) , o que me faz sentir apaixonada, não é a conquista de mais alguma coisa material, numérica, contável, mas estamos todos a deixar que nos arrastem por caminhos como esses em que a comunidade, o valor de nos juntarmos por causas, e nos entregarmos de corpo e alma (apaixonadamente) a algo, vá perdendo o sentido, e passam a ser histórias que já nem do imaginário fazem parte, passam a ser histórias de outro tempo. E com isto as paixões morrem, afogam-se em lágrimas de desânimo, momentos de incerteza, e uma mudez que não nos permite dar voz, aquilo que brota dentro de nós e nos diz para fazermos diferente, para sermos diferentes. A chama apaga-se, e vamos dando lugar a um sentimento que nos prega, não a uma cruz de vida, mas um sofá em que nos encantamos com mundo fictícios, a um trabalho desmesurado que nos impede de gozar a família, aos bens materiais que temos de sustentar, e com mais uma ou menos uma lágrima, vamos culpando outras entidades, por esta morte lenta do sentir vivo.

Deixamos voar a nossa vida das nossas mãos, sem controlo, entregando e confiando, não sei muito bem em quê ou quem, e se por momentos temos rasgos de lucidez, acordamos e agarramos quem amamos para um beijo, um afago, mas ultimamente vejo poucas pessoas a agarrarem a Vida, e a não a deixarem ir.

E nestas discussões de eu achar que se está a perder a paixão de dentro e para fora, também se perde a esperança, o acreditar, em nós, nos outros, na Vida, no Mundo, e em tudo o que o ser humano é capaz de fazer se assim sonhar. Nós todos temos de acreditar, acreditar em nós, na mudança, nos outros e na paixão que é a energia que move este acreditar e esta mudança, dai a minha teoria de que estes sentimentos se extinguem, e com eles seguem-se anos de depressão, não financeira, mas de valores, de amor, de vida própria...de nascimentos.

Nascer, mas não apenas o nascer de outro humano, é o nascer do potencial, do sonho, do desejo, do querer, daquilo que uma vez mais nos caracteriza. A criatividade de dar a volta por cima, o desejo de resiliência, que nos impulsiona a levantar mesmo depois de cair...desejo esse que para ocorrer, eu tenho de me sentir vivo, dono de mim, e com forças para acreditar que ainda sou capaz.

Desejos para que do nada surja algo, um novo eu, que se encontra com outros e neles também renasce. Um eu, que quer ser diferente e arrastar atrás de si, uma multidão, uma comunidade, que quer fazer este mundo melhor para os nossos filhos, começando por lhes dar esperança, por lhes entregar as ferramentas que os deixem sonhar, por sonhar junto deles baixinho, na terra da fantasia, onde todos somos iguais.

Olhar à nossa volta e sentir que há algo belo, e que viver essa beleza, intensamente, no dia-a-dia, com os que me rodeiam, me responsabiliza, me obriga a respirar essa energia, positiva, que me permite analisar e dizer neste momento posso estar feliz.

Amanhã posso repetir, e acreditar que se eu não me deixar acomodar, não resolvo todas as dificuldades e não acabo com os problemas no mundo, mas minimizo, e muito, os meus e a forma como os carrego. Abrir os braços e respirar fundo, dando a mim mesmo momentos em que me encontro comigo sem reservas e jogos de escondidas e me prometo, a mim mesmo, me entrego a amores meus, para depois me entregar aos teus amores, com toda a força e energia, e nesse exemplo, sem palavras, dar esperança aos meus filhos, que não me vêem desistir, ou acomodar.

É respeitar a linha da minha Vida que carrego entre as minhas mãos nos meus actos de todos os dias, e respeitar essa oferta, fazendo o melhor uso dela. Claro que esta minha reflexão é suposto reforçar a inspiração para o sonho, e não ganhar aqui um peso negativo, mas eu sei, e não me estou a esquecer que todos nós temos e vivemos problemas, uns mais sérios, outros menos, e eles vão lá estar sempre, de uma forma ou de outra, pois essa é a natureza da "besta", a Vida assim é, e está constantemente a por à prova todos os nossos conceitos e forças.

No entanto, se todos os dias, eu  me esforçar por não me esquecer, por me dedicar, por me querer manter viva, e acima de tudo, aprender o que é que na realidade isso significa para mim, então, quase que de forma religiosa, como alguns cultivam o corpo, a mente, a fé, eu cultivarei esta minha vontade de estar viva, apaixonada, e cheia de esperança. E com  todas as forças que tenha naquele dia, naquele momento, agarrar-me ao que for preciso para acreditar que o amanhã pode sempre ser melhor, que eu posso sempre ser melhor, e que se eu me entregar, se eu der, se eu viver intensamente cada momento, bom e mau, não deixo que a esperança morra, não me deixo morrer de desgosto, sem paixão, e arrasto comigo quem quiser vir, pois assim eu consigo receber. Arrasto comigo os meus filhos e estas novas gerações, que mais perdidas estão, do que nós nos tempos deles...

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