segunda-feira, 2 de abril de 2012

Conversas de Cama II: Eu, tu e os miúdos...

Estamos na cama...agora!
Mas, durante o dia, por insinuações, mensagens de texto, troca de olhares e um beijo demorado, sem diálogo, planeou-se o encontro de cama, aquele onde, mesmo que esgotados das energias dadas ao longo do dia aos credores da nossa vida, nós nos iríamos abraçar, beijar, murmurar histórias de amor, em que nos prometemos uma vez mais um ao outro...encontro, onde com rotina e novidade os nossos corpos reclamam a presença e a entrega um do outro...

Oh!Oh!


Vem um dos pimpolhos dizer que debaixo da cama está um monstro verde ou azul, e que está cheio de medo, fica aninhado nos braços, nos meio destes desejos por cumprir...adormece, e lentamente um de nós leva-o para o seu quarto, para a sua cama, onde o aconchega e o afaga, para assegurar que dorme, e que nenhum monstro, de nenhuma cor, o acordará.


Volto ao quarto, ou voltas tu, não importa, e assim que lá chego, vejo que o clima, as nuvens e o ar mudaram, mas mesmo assim, tentamos por o barco a velejar de novo, começando do zero, ou do um...e lá vem mais um tossir, agora é o outro que tem estado doentito, que tosse, e lá vamos nós de novo, quem vai? Tu ou eu, e assim se joga o jogo. Quando somos eu, tu e os miúdos, estes momentos de cama prometidos e desejados durante o dia, muitas das vezes são desafiados pelos jogos da noite, e quando tudo corre bem, há uma sensualidade que resiste às provas estóicas que a Vida impõe, e há um jogo de amor que acontece, e o casal, tu e eu, fazemos amor, e sabemos assim que nos braços um do outro tudo se resolve.


Mas, claro que vem um mas, às vezes quando eu volto tu dormes, ou quando voltas tu durmo eu, às vezes, um deles fica a dormir connosco, às vezes a febre não baixa e andamos os dois a pé, a ver se tudo corre bem.


E esta é a loucura de vida que escolhemos ao sermos eu, tu e os miúdos, é esta vida que por momentos leva casais a questionar que soluções encontrar para balançar estes dois mundos, que parecem não poder coexistir.

Mas podem, exigem é um desafio, às nossas forças, e às nossas formas de usar a criatividade, encontrando, momentos, que ninguém diria, onde ninguém acreditaria...Estes momentos desafiam sabermos que estes amores coexistem, e que estes desafios necessitam de intervenção, não caiam no erro crasso de dizerem a vocês mesmos: isto é uma fase, daqui a uns tempos tudo isto corre melhor. Não é que não seja verdade, e que muitas destas coisas não sejam realmente fases e que tudo, em última análise, na maioria das vezes, acaba por se resolver e arranjar uma maneira, mas deixar tudo entregue a estas forças divinas ou naturais, põe em risco os pilares daquilo em que toda a vossa família acenta, o casal, e acho eu, este é um jogo arriscado. Ainda que por vezes seja inteligente esperar um pouco, adequar ritmos e descobrir janelas de oportunidade, a Vida tem ensinado, muitos dos casais com quem trabalho, e tem-me ensinado a mim, que estes tempos  têm de ser criados, cuidados e preservados, de forma quasi religiosa, pois de outra forma, o relógio, ganha uma velocidade própria e quando se aperceberem, a fase, durou meses, e facilmente o amante é um estranho.


O desafio está então em vencer o ritmo da Vida...e que desafio este.

Pensem, que vão andar a defender que os vossos filhos tenham rotinas, que se disciplinem, para  seu bem, para que durmam, para que cresçam, etc, e é nessas rotinas deles, que podem surgir os vossos improvisos.

Pensem que ao final do dia, ao deitar há maiores probabilidades de eles acordarem, chorarem, chamarem por vós, pois ainda não estão num sono profundo e a agitação dos seus próprios dias, ainda está com eles e ainda não os abandonou por completo, o seu imaginário está em acção...mas, se ambos acordarem bem dispostos de manhã, a madrugada pode ser uma solução...

Podem combinar um dia, de vez em quando, ao vosso ritmo, em que antes de irem buscar os pimpolhos às suas escolas ou creches, pode haver uma paragem em casa, sem receios de interrupções, num clima mais de aventura vossa, e fuga às "responsabilidades", fenómeno que também sabe bem aos adultos...podem pedir (sem sentirem que abusam), que os filhotes jantem com os avós, para que vocês possam ir "jantar" sozinhos, e dessa forma sentirem que permitem o contacto entre avós e netos, e assim não se sentem culpados, pois não foram passar uma noite fora, e os deixaram para trás (que não deve ser motivo de culpa, mas muitas vezes é...), e conseguem ou jantar mesmo, a dois, com um pouco de romantismo, ou conseguem ficar em casa, umas horas sozinhos, durante as quais podem ter conversas de crescidos, fantasias de casais, momentos de silêncio e partilha, ou namoro de mão dada...o que importa é que vos pareça, que os vossos tempos não estão a desaparecer, e vocês não fazem nada para que assim não seja.

Estes tempos são muito necessários, pois para gozarem os momentos em que são eu, tu e os miúdos, o eu, ou o tu, não podem culpar os miúdos, por perdas de tempos, momentos, sensações, coisas, que só tem que ver com decisões vossas, ou uma má gestão do tempo de casal.

O fosso na cama, e nas vossas conversas de cama, só acontece se baixarem armas, pois eu não acredito, que nos vossos jovens anos, no início dos namoros, não existisse uma criatividade inesgotável para descobrir segundos, minutos, para estarem juntos, e por muito pouco tempo que existisse, tenho quase a certeza que posso afirmar que nenhum saía do pé do outro sem se sentir amado, sem sentir que tinha valido a pena o esforço de ir contra uma série de eventos por aqueles cinco minutos, e garanto também que o facto de não saírem saciados, vos aguçava o desejo para o reencontro.

Só porque somos crescidos e pais de família, e agora somos eu, tu e os miúdos, o nosso romance e amor físico, não tem de sofrer, só têm de continuar a insistir, não desistir até encontrar momentos, até assegurar que nas rotinas deles, asseguram as vossas.

Eu e tu, não podemos deixar de ser, pois muitas das vezes é o primeiro passo para a distância, para os mal-entendidos, para uma falta de segurança que se enraíza e me deixa em dúvida sobre o amor do outro, falta de certezas sobre o meu papel na tua vida, sobre o que significa esse teu olhar ou essa tua expressão...não deixem...nesta intimidade e nesta procura de alguma loucura e imaginação, está o segredo para que nos apaixonemos muitas vezes, ao longo da nossa vida, pela mesma pessoa, por aquele com quem partilhamos tudo. 
Sem, que surja o sentimento de que os nossos filhos se colocam entre nós, nos dividem e separam. 

Se se inspirarem com o que aqui lanço, como ideias e desafios, vão ver que há tempo para que vocês os coloquem no meio de vós, gozando esses momentos, sem sentirem que estão a perder nada, mas sim a ganhar uma proximidade junto deles que não terá preço, pois os vossos momentos são distintos e separados.

Nestes momentos vocês estabelecem as bases para a vossa relação com eles na adolescência, e as proximidades que vão ser possíveis, mas também é agora, nestes momentos vossos, que estão a construir a vossa relação no agora, e no amanhã.

Encontrem-se para um café furtivo a meio do dia; mandem uma mensagem como se namorassem de novo; tomem pequeno almoço às seis da manhã, enquanto eles dormem, para que esse tempo seja vosso; durmam a sesta enquanto eles dormem; tomem banho juntos; tomem um copo de vinho na cama, enquanto conversam sobre um sonho vosso; mandem uma carta por correio ao outro, onde se declaram ou mandam um beijo; dependendo das idades dos miúdos, deixem-nos ver um filme sozinhos enquanto vocês tentam ter um momento vosso; ponham o despertador para retomar o momento que foi interrompido pelo monstro azul (faziam-no pelo vosso patrão certo?!)...façam coisas, qualquer coisa, mas não desistam, ser uma família é dos fenómenos que mais contribui para a felicidade individual de um adulto...mas façam coisas por vocês também, nas conversas de cama, ou inspirem-se e "conversem" noutros sítios...

Façam coisas, não desistam!

5 comentários:

  1. Querida Rosa,
    Ler estes posts, ajuda a ver a vida de outra forma e como é bom! Pensa é em escrever um livro, tenho a certeza que ajudará muitos casais.
    beijinhos
    Bela

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    1. Obrigada, a nós que escrevemos também ajuda saber que chegamos aos outros e que lhes faz sentido esta partilha.

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  2. Mais uma lição extraordinária! Oh!Oh!

    Quanto ao livro, eu reservo já o meu : )

    Começo a acostumar-me a ler um post teu por dia eheheh que leitura tão boa ; )

    Bjs

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    1. Obrigada pelas tuas palavras. Gosto de saber dessa procura, mas cuidado com os hábitos, posso não conseguir corresponder..., e o livro já está a ser "fermentado"...vamos ver quando leveda.
      Beijinho

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    2. Expetativa Frustrada

      A expetativa só se torna frustrada,
      quando se espera mais do que nos é devido,
      quando se percorre uma estrada,
      à espera de algo imerecido.

      E não se pode nessa esperança sagrada,
      procurar a paz de um acreditar perdido.
      Alimento de uma expectativa penetrada,
      por um raio de tranquilidade comedido.

      Podes não corresponder! Acho que estás enganada.
      E não, não é a cantiga do bandido.
      São apenas palavras de uma alma lavada,
      de um ser outrora incompreendido.

      A expetativa só se torna frustrada,
      se a mergulhar numa aparência dissimulada.


      eheheh mais um para o meu Blog : )

      Keep inspiring my soul

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