segunda-feira, 9 de julho de 2012

E viveram felizes para sempre...


Nos afectos de uma relação, entre homem e mulher, é sempre procurada a noção de felicidade e de encontro de alma gémea, muitas vezes sem o entendimento de que as pessoas todas podem ser almas gémeas, desde que o devido esforço seja colocado nessa mesma relação. Existem diferenças essenciais de género, que bem vistas, não seriam razão para que nos afastássemos e não entendêssemos a dita cara-metade, mas sim, bem exploradas a chave crucial para um relacionamento intenso e desafiante, com o potencial de se tornar a concretização do  “...felizes para sempre”.
As mulheres crescem, ainda hoje, num mundo onde a ideia romantizada do casamento com uma entidade perfeita, tal cavaleiro na sua armadura reluzente, montado num cavalo, a caminho da torre do castelo, para nos salvar de todos os males do mundo, incluindo dragões, já era…e provavelmente sempre deveria não ter sido, pois coloca a figura masculina no papel de ser perfeito, que tem o poder de nos salvar de tudo o que não é bom, e mais, tem os poderes de adivinhar o que nos fará felizes…tal feito parece-me quase que impossível, quando nós mesmas padecemos do mal de não o sabermos muitas das vezes.
A relação de casal depende essencialmente da capacidade de comunicar, pedir, aceitar e perdoar…parece simples, e é simples…no entanto cumprir estes princípios básicos pode ser um grande desafio, pois depende muito do que entendemos de cada um. Muitas vezes para nós comunicar, não passa pela etapa do ouvir…na maioria dos casos passa apenas pelo conceito de falar com o outro, muito sobre nós próprios, e nessa troca de informação, termos constantemente um diálogo interno sobre o que vamos dizer a seguir…tornando-nos surdos ao que o outro realmente nos está a tentar dizer. Comunicar com o parceiro passa muito pelo processo de ouvir o outro, querer conhecer as suas visões, desafiar a nossa pessoa para que nos apaixonemos várias vezes pelo mesmo ser, neste processo de descoberta em que o outro se abre a nós e revela o seu íntimo neste processo de troca de informações, que só funciona perante a minha capacidade de me calar e ouvir…
O segredo passa por saber pedir ao outro o que quero, o que me faz feliz (se eu souber)…e pedir pensando que o que recebo é tão ou mais intenso do que se eu não tivesse pedido, não há uma perca, há exclusivamente um ganho, pois de outra maneira, caso eu não pedisse, eu poderia sempre correr o risco de nunca receber, aceitar isto e aprender a pedir, sem vergonha e sem preconceito, faz com que o outro saiba como me agradar…mas, não nos podemos esquecer de que não há a regra de se pedir apenas uma vez…pede-se sempre que necessário, pois o outro não se esquece, na maioria das vezes, de propósito…esquece-se muitas vezes porque nele ou nela não é natural, mas, repetindo, ganha-se a experiência.
Aceitar…o outro por quem é e as situações pelo que são, dizer adeus à noção de que talvez, quem saiba, um dia eu vou conseguir mudar o outro…o outro por respeito a mim pode muitas vezes mudar, sim, sem dúvida, mas apenas nos comportamentos em que com intenção o outro me queira agradar, pois no seu intimo a mudança só ocorre naquilo em  que este não se perde como ser, não amamos ninguém a ponto de deixarmos de ser nós próprios de forma permanente…aceitar é a chave para entender e perdoar, ferramenta fenomenal para que não arrastemos nas nossas costas o peso da infelicidade de momentos que não se reparam se não os deixarmos ir, rio abaixo.
Perdoar intensamente e com disciplina, torna o afecto maior, livre de ressentimentos que agrilhoam qualquer hipótese de futuro. Vivo bem o momento, amo intensamente e entrego-me se sentir que não ressinto nada, se souber que o outro e eu temos uma real hipótese porque não somos iguais, não somo água e azeite, talvez mais azeite e vinagre, um complemento de cada um, um encontro de sabores necessários para que nos amemos perdidamente e dessa forma assumirmos que precisamos deles e eles de nós.

(Este artigo foi publicado na Lux em Março de 2012)

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