sábado, 14 de abril de 2012

Pijamas de flanela e algodão, com ursinhos e patinhos...

Nas conversas de sofá, surgem divergências entre os seres masculinos que atendo e os seres femininos...e o mais engraçado, é que estas duas entidades, num assunto tão simples quanto este, não se estão a conseguir entender. E é deste exemplo que eu vou fazer a minha reflexão de hoje, esperando com isso, conseguir agradar a ambos os géneros de leitores.

A ida para a cama é sem dúvida um dos rituais mais importantes para uma pessoa, assim como o é para um casal, e aqui acho que estamos todos em acordo, homens e mulheres.
No entanto, estes rituais divergem, e às vezes podem ser divergências que não se tocam ou sequer cruzam, outras vezes são divergências nos rituais, que podemos chamar comuns, ou de partilha. Vou pedir-vos que pensem nas sensações que têm quando ao final do dia se deitam na cama. Imagino convosco que haja uma sensação de conforto, bem-estar, chegar ao ninho, de descanso, de sentir o cheirinho da roupa de cama lavada, do acolhimento dos lençóis e colchão, tudo isto uma experiência sensorial, de entrega ao descanso, e muito simbólica de recolha ao poiso. Mas, aqui, tive o cuidado de descrever a experiência individual...como é a de casal? Se o casal se der bem, continua sensorial e pode melhorar ou aumentar as sensações de que já falei, pois podemos fazê-lo, abraçando-nos ao outro, sentindo que o outro também nos acolhe, e se pensarmos em intimidade/sexo, podemos sentir que é o espaço onde nos vamos entregar e descobrir nesses sentidos também.

Muito bem, então porque é que eu estou a falar de pijamas de flanela no título?
Ou em rituais que colidem?

Porque nesse momento de rituais comuns, podem surgir braços de ferro, relativos a preferências, pois podemos não querer ceder no nosso conforto pessoal. Muitos dos homens com quem falo apresentam queixas relativamente à escolha de roupagem, escolhida para ir para a cama, pela maior parte das mulheres, principalmente se estiverem a comunicar por códigos secretos a sua vontade do "chega-te para lá, que eu estou a dormir", ou "hoje quero dormir em conforto, quanto muito abraçados", e este código aparentemente manifesta-se na escolha de pijamas de flanela, inegavelmente muito confortáveis, mas muito pouco apelativos à imaginação libidinosa...será esta uma escolha consciente de afastamento?
Será esta apenas uma escolha feminina?

Será esta uma escolha de conforto acima de tudo, pois quero recolher ao ninho e não estou a pensar em sensualidade, ou será este um braço de ferro que eu começo, pois "tu"  pedes-me que me deite nua, ou vestida de determinada maneira, e eu decido, ou porque não quero intimidade, ou porque quero prezar mais o meu conforto, e assim decido que não farei a "tua" escolha...Ou podemos fazer destas escolhas aquilo que quisermos colocar no olhar do outro. Será que a flanela é assim tão pouco atraente, ou é a atitude que se esconde por detrás da escolha que passa a imagem?

Será que eu, querendo, estando em sintonia de vontades com o outro, torno assim tão importante o que visto? Ou podemos transformar o que nos é confortável, em algo de belo ao olhar de quem vê? A flanela, não pode é ser um motivo de luta, de intransigência...em que a escolha se faz, em função do outro ter pedido?

E será esta apenas uma discussão no feminino? Ou será uma discussão que se espalha aos dois géneros? Claro que sim! A flanela pode ser para ambos os lados o "duche de água fria", ou a sinalética adotada para resguardar que na "nossa" cama existe "hoje", ou quando queremos, um fosso de intimidade.

Um homem também pode ter uma aparência trabalhada, na sua escolha de roupagem, na hora do dormir, e também eles podem usar essa escolha, para em forma de batalha, retribuir as punições emocionais de que se possam julgar alvo, pela nossa escolha de traje nocturno.

O que é facto, e que é onde eu quero chegar, é que tudo é válido, neste jogo, desde que ambos encontrem satisfação no encontro.

Tudo pode ser sexy, tudo pode gerar intimidade, tudo pode deixar que ambos levem as suas fantasias à prática, se, o casal não se perder em batalhas de espaço pessoal, em que não se executam cedências, como se essas pudessem vir a simbolizar perda de território ou de identificação.

A noite pode começar nua, meia vestida, ou toda vestida, e depois de um encontro onde ambas as vontades e desejos se encontraram, podemos ceder aos desejos de conforto pessoal, e escolher a roupagem que iremos usar para executar a outra parte do projeto cama...dormir.

E se for muito difícil gerir as vontades de cada um, relativamente a este assunto, quando o objetivo é a intimidade e não o dormir, podem sempre recorrer a  outros locais da casa, que não impliquem a escolha de roupagens, e na cama, cada um escolhe o que quer...claro que este é o exemplo que pode ser usado muitas vezes, ainda que concordem no assunto da cama. Ou seja, podem utilizar outros espaços da casa para incentivar a vossa intimidade, ainda que consigam chegar a um acordo tácito relativamente ao que usam na cama, para estar e dormir, de forma a agradarem aos dois, e ao próprio.

Bons sonhos!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Provocações rápidas, numa conversa para homens...mensagens de descodificação.

Não me quero prolongar nesta reflexão, pois vou seguir um conselho/provocação masculina que me foi feita, deixando-me a dica de que nos textos demasiado longos se pode perder a vontade de reflectir. Sou um pouco contra receitas, ou generalizações selvagens, mas acredito que algumas dicas funcionam bem, pois são directas, e têm potencial para tocar maiorias....

Então cá vai, uma nova forma de vos provocar reflexões - desta vez mais para o sexo masculino:

Se queres, pede...
Se queres, dá...
Se gostas, ouve...
Se gostas, conta...
Se amas, diz...
Se queres sexo à noite, faz-te amigo, companheiro, durante o dia, não te insinues, entrega-te...toca, mas não abuses, toca, com carinho, e finge que é a última coisa que tens na tua mente...nós gostamos desses jogos.
Se abraças, não sintas o "traseiro", abraça a cintura...um abraço é um abraço...
Se queres saber, pergunta e ouve a resposta...
Se queres conhecer, ouve...está lá tudo...nós muitas vezes não nos calamos...
Se queres agradar, ouve os pormenores e memoriza alguns...
Se queres derreter, acarinha os filhos...
Se queres entrega, não tenhas medo, dá também...
Se queres surpreender, faz algo que "ela" conta que quer fazer a alguém de quem ela gosta...
Se queres dar, dá de surpresa, pode ter baixo valor, mas que seja a sua cara...pistas...vê as jóias dela, as encharpes, os perfumes, de que lojas fala...
Se queres rendição total, quando ela falar contigo, experimenta falar de volta...não custa assim tanto, e ela não se sente em monólogos de amargura...
Se queres para sempre, dá independência, confia, mas protege e defende...

Falamos daqui a uns tempos depois de experimentarem as dicas...quero reacções!!!
Senão (estou em tom de ameaça), volto aos meus textos mais reflexivos e prolongados, onde quero chegar a ambos os sexos, da mesma maneira e com a mesma mensagem...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Circos e malabaristas...círculos familiares...equilíbrios e desequilíbrios



Alguém entra...o ruido é intenso, música toca num local algures na casa, não consigo perceber de onde vem, água corre numa casa-de-banho, a mãe mexe em tachos, o pai chama pelo cão, duas crianças passam a correr e a rir, ouve-se alguém a falar baixo, no fundo de uma sala, ouve-se a televisão, e agora vejo que o rádio toca na cozinha em sintonia com os tacho que preparam a comida.  Naquilo que a mim de repente me pareceu uma confusão...como a entrada dos palhaços no circo, carregada de barulho e desorganização, com cada um a fazer mais barulho que o outro, surgiu-me a visão de uma melodia, em que cada instrumento está no seu próprio espaço, tocando parte essencial para a música que eu oiço, e que embora a princípio me tivesse soado a uma cacofonia, agora que presto atenção, oiço melodias, sinto os ritmos, e vejo como tudo decorre numa ordem específica, que não deixa de ter a sua beleza própria.

Não me posso confessar apreciadora de Jazz, mas sei que os princípios básicos são a improvisação, e às vezes os sons produzidos quase que nos podem parecer dissonantes, no entanto, há um ritmo próprio que assegura a ordem na produção da melodia. Nesta casa onde entrei e parei em observação, não ouvi Jazz, pois nada me parecia realmente improvisado, ainda que tudo parecesse acontecer, porque a pessoa, o acontecimento, as palavras, ou outros fenómenos, assim faziam acontecer as sequências de eventos, que a mim me chegavam, como a melodia desta família, neste momento da sua vida.

Momentos destes, nem sempre são melodia, é verdade, às vezes em determinados momentos, podem ser ruídos estridentes, que perfuram o cérebro dos progenitores, fazendo com que possa existir a sensação de que não se aguenta tal ruído, ou que não se vai sobreviver àquele jantar...pois parece que por momentos a loucura se aproxima demais, se avizinha de nós, e nos impede de ver, que no meio desta situação, a melodia não se perdeu, existem é muitos ruídos exteriores que nos impedem de ouvir a parte melódica. Deixamos que a música que vem a tocar dentro de nós, que por vezes nos ensurdece, se confunda com aquela que já estava a tocar em casa...e ai sim, torna-se tudo ensurdecedor, insuportável.

Na família, na vivência da família levamos o tempo todo (nós os educadores), com funções de malabaristas e tentar manter o caos em ordem, os "meninos" entretidos, as bolas todas no ar ao mesmo tempo, e por vezes ainda tentamos o truque de fazer algo mais enquanto as bolas estão no ar, e nós aguardamos a sua descida...e melhor do que toda esta descrição, a parte em que eu nos acho quase que cómicos e partilho da dor dos educadores, pois além de psicóloga também sou mãe, é que tentamos fazer tudo isto, pensando que nos vamos sentir bem, tudo vai correr bem, e no retrato de família, estaremos todos a sorrir, sem nódoas nas roupas e na posição correcta. O grau de exigência e expectativa é tão elevado que perdemos o norte, o horizonte, e passamos a navegar em águas estranhas, a guiarmos-nos por padrões externos a nós, à nossa entidade de família, e trazemos para dentro da nossa tenda de habilidades, a exigência da perfeição de quem não falha, de quem não ri, ou não tem a liberdade de quebrar regras que foram erigidas por uns alguém que não conseguimos nomear. 

Ser família, e viver num círculo familiar, o que não deixa de me lembrar, como comparação quase que directa, os desafios impostos a um circo. Se repararem, na maioria dos circos, os espectáculos são assegurados pela família, e é assim que vivem...a vivência de conjunto, a distribuição de funções, para que todos participem no espectáculo, a deixa de cada um, o fazer rir dos disparates dos palhaços, a dificuldade de equilíbrio ou de malabarismo, o ilusionismo, a flexibilidade para com o outro e para com as suas próprias actuações ou necessidades...mas para que este equilíbrio exista, tem de existir um treino, uma sintonia, tiveram de existir muitos desequilíbrios para que novos equilíbrios fossem encontrados, para que a arte de cada um se revelasse. Mas no circo, no meio de tal exigência, no fim de cada espectáculo há uma celebração, há a vitória de mais um feito conquistado, um publico que aplaudiu, uma plateia que os admirou, e não deixou essa admiração cair em silêncio.

E é aqui que muitas das vezes nós círculos familiares nos perdemos, e não conseguimos ser um circo completo...o que talvez também não seja totalmente mau.

Mas na família, nos nossos desequilíbrios, ou nas nossas melodias, às vezes perdemos-nos, e ficamos focados no que correu mal, no que não está bem, amarramos-nos às expectativas que temos, e voamos com elas, tendo a fasquia que impomos aos nossos artistas nesse nível, e tudo o que fique abaixo disso, não sendo satisfatório é causador de infelicidade, de desequilíbrio, de não compreensão, ou até aceitação. 

É desejar mais, deixando-nos cegos ao agora, aos momentos que passam de forma veloz, quase imperceptível por nós, de pura beleza e alegria, de entrega dos nossos filhos a nós, momentos em que o riso facilmente brotaria das nossas gargantas, se nos permitíssemos viver sem ser agrilhoados a estas definições impostas, ritmos loucos de exigência, que tornam os nossos desejos quase que incompatíveis. Os equilíbrios surgem, se por momentos permitirmos a análise do nosso círculo e espaço familiar, como se de um circo se tratasse, como se conseguíssemos ter momentos para tudo, mas não esquecendo que pelo meio das actuações mais arriscadas, surgem sempre uns palhaços, ou uns mágicos, que nos permitem ir para um outro espaço, imaginar, rir, fantasiar, e sentir a felicidade da magia, de não saber nada naquele momento, de se acreditar com a inocência das crianças.

Mais, acrescento, nas nossas famílias faltam-nos plateias, que nos aplaudam a todos, que nos digam quando algo está bem feito, fazendo-nos sentir que aquele momento que acabou de acontecer foi especial para todos, sem que de repente, só porque existe uma fasquia, que está lá no alto (sabemos lá nós bem porquê?!), me faça questionar o que não esteve bem, o que falhou, o que faltou, em vez de aplaudir de mãos bem abertas os feitos de quem amo. Em vez, de abrir a boca e dizer o que está bem, em plenos pulmões, e ir reflectir como partilhar o que quero ver mudar ou melhorar.

Os círculos familiares precisam cada vez mais, nos dias que correm, de união, de força, de se sentirem parte de uma equipa com papéis bem definidos, mas em que as linhas de respeito não se perderam, estes mini circos, precisam de muito afecto, de muita orientação, mas acima de muita coisa, precisam que não deixemos que dois momentos simplesmente incompatíveis sejam misturados por um defeito que se contagia, e que nos começa a atingir a todos, parecendo que somos os velhos do Restelo, a agoirar quem se atreve a ir à descoberta, contrariando tudo e todos pela vontade de viver e descobrir o além mar. A felicidade não é compatível em simultâneo com a infelicidade, se estamos felizes, estejamos! Se algo não está bem, vamos ver...

Sejamos pais, educadores de desafio, de papéis e valores bem definidos, mas sempre capazes de nos rirmos com os nossos filhos, e acima de tudo de nos rirmos de nós próprios, sempre capazes de mudar no dia-a-dia, por eles e por nós, para que nos reste alguma inocência infantil, que nos faça acreditar que se nos lançarmos nas caravelas nestas aventuras de hoje, de se ser família, e se viver nestes mares conturbados, havemos de encontrar terra, e o percurso contará sempre mais do que o destino.

Façamos um pacto...que as fasquias estejam onde nós as conseguimos por, e que sejam subidas por nós e mais ninguém, no nosso próprio ritmo, e que a cada subida e degrau, uma festa seja feita, a cada dificuldade e imprevisto, reuniões existam em que todos, como uma equipa, dão o seu melhor para resolver o problema, em que todos se entregam à solução e ao que há a ser feito, e juntos definam quem faz o quê?

E se na fotografia, todos vós estiverem como realmente são, não há fotografia mais bonita, pois além das nódoas, do cabelo desarranjado, ou das caretas do mais novo, vamos todos ver, a essência do vosso circo, e os papéis do vosso espectáculo...vamos todos rir do que nos faz rir, e unirmos-nos por isso, vamos construir no positivo, para criar forças para o desafio. Vamos caminhar..."por mares nunca dantes navegados", e levarmos os nossos desejos a bom porto.

Não oiçam ruído, não deixem! Não oiçam Jazz. Oiçam a melodia, as linhas invisíveis que unem os instrumentos e harmonizam a existência daquilo que é um lar, o Vosso lar!

Cheques sem cobertura...


Em todas as famílias há pelo menos sempre um elemento que é uma peça diferente, aquele, que em todos os momentos, está sempre atento ou até mesmo à procura do que o outro gosta, quer, e precisa. São os elementos que parecem constantemente estar atentos a diversas formas de mostrar o amor. Em entregas que às vezes aos olhos dos outros membros da família, não deixam de ser gestos invisíveis. 
Aquele gesto de se estar a conduzir a caminho de um compromisso pessoal qualquer, e o filho ou filha ligam, porque precisam que se vá à escola levar um trabalho que se esqueceram, e nós vamos. Estamos nas compras e decidimos o menu do jantar em favor das preferências de um dos elementos da família. Vemos uma promoção qualquer, que interessa a um dos nossos muitos amores e aproveitamos, deixando de comprar aquela outra coisa que queríamos muito para nós, pois o dinheiro não chega. Chegamos a casa, e perdemos 10 minutos a dar o nosso jeitinho à casa, que faz com que o ninho tenha sempre um ar organizado e limpo. Transformamos as refeições do dia, em mimos em forma de comida, escolhas cozinhadas às vezes com lágrimas e amor. Estes seres que pertencem à família fazem-no, na realidade sem esperar uma troca, uma paga, quer fosse em moeda igual, quer fosse numa nova moeda. Não à espera de retribuição real, porque para estes elementos este fenómeno é natural, e quase que impossível de ser travado, acontece naturalmente, numa reação de amor, às observações do quotidiano.

Mas, em conversa com uma amiga, naqueles desabafos de café, e de encontros com a Vida e os sentires, fiz este comentário, que me fez lembrar conversas que já tinha tido com outras mulheres, e até mesmo com alguns homens. Nós somos seres que no nosso dia-a-dia, emitimos cheques sem cobertura a toda a hora, e quanto mais amamos, às vezes mais em dívida ficamos. 

É certo que estes elementos familiares, donos de um quási altruísmo, não fazem, ou têm, estes gestos, na expectativa de uma retribuição, mas fazem-no por um amor profundo que resulta de se ser mãe ou pai, marido ou mulher, filho ou filha, e nesses papéis, entregam amor por gestos, de um banco só seu. Mas, o que faz reserva nesse banco, são também os gestos que os outros elementos da família ou das relações de amor, fazem através de - um sorriso, um abraço de reconhecimento, um obrigada, um piscar de olho, um olhar mais intenso que reconhece o esforço por detrás de uma casa limpa, um toque ao de leve no pescoço, um dar de mão apertado, um beijo de fugida ou mais prolongado, um olhar de entrega, ou um jantar especial. Se as retribuições não ocorrem, este banco fica sem reservas mais tarde ou mais cedo, e por muito que a pessoa não faça as coisas com a intenção de ter um retorno material, faz de certeza absoluta, pelo retorno emocional, o amor de entrega. 

O problema, é que muitas vezes estas pessoas, estão dadas como garantidas aos seus, e estes por vezes estes, no seu vórtex pessoal, esquecem-se de agradecer, ou de pelo menos reconhecer, e com esta ausência de reinvestimento, no banco, o crash acontece, e o resultado mais grave é que temporariamente este elemento familiar, sente-se como que destroçado, vazio, e a questionar-se porque é que faz o que faz...Pensa em mudar, zanga-se essencialmente consigo mesmo, pois sabe perfeitamente que fez tudo de vontade própria, sem pedidos, e isso, faz com que se sinta ainda mais culpado por sentir esta necessidade desesperada de receber de volta. Faço porque quero, não espero nada, mas em desespero, espero sempre um amor de entrega.  

Sente-se, muitas das vezes despedaçado, pois sente que a sua entrega voluntária não recebe de volta, nem sequer o reconhecimento de ser feita, e isso magoa profundamente, criando um vazio interior, fazendo com que o próprio se questione, se assim deve ser, se assim deve continuar, se faz sentido esta entrega sem dúvidas, mas que depois deixa tantas outras por resolver. 

No fim destas lutas internas, por norma esta pessoa continua a ser como é, ganha energias em si mesma, ou nuns outros com quem também partilha a Vida, e por vezes sem saber, dão de volta, em pequenos gestos, mas tudo isto não impede que uma certa zanga para com o outro, seja este o companheiro ou filho se instale, e depois, demora um certo tempo até que o equilíbrio interno permita que a entrega continue, e que este papel de agrado ao outro e de emissão de cheques sem balanço se perpetue... E isto é possível, porque a pessoa, dentro de si encontra as verdadeiras razões para estas entregas, e para as energias que se geram destes pensamentos, destas emoções se acumulem, e criem condições que a motivam para este percurso. 

Nós só somos capazes de ser esta peça diferente, se tivermos a característica dentro de nós, que nos permite, independentemente do que os outros façam para nos retribuir, ainda que seja nada, continuarmos, a retirarmos prazer do que fazemos e fazermos uma festa de tudo o que fazemos pelos outros. Mas para que esta entrega, que às vezes é desequilibrada, desigual, e muito sofrida, nos faça, equilibrados, felizes e preenchidos por sermos como somos, temos não só de ser um banco para poder então emitir os ditos cheques, mas temos também de ser um banco capaz de fazer investimentos, que no retorno, nos devolvam um juro que nos pague os vazios da entrega.

Temos de descobrir, de forma pessoal, e não dependente dos outros, onde encontrar pequenos investimentos, que ao serem depositados neste nosso banco, nos valorizem de tal modo, que nos permite as energias possíveis e necessárias, para que estas entregas continuem, no entanto cabe-nos a nós também educar, educar no amor...educar a quem nos entregamos destas formas, para que estes percebam que estas entregas por vezes codificadas, têm um simbolismo, carregam, doses infindáveis de afeto e carinho, e são demonstrações dá nossa entrega.

Ensinar o outro a participar de forma natural, entendendo que por momentos, precisamos da entrega deles, da sua própria maneira, nos seus próprios momentos e espaços, mas que precisamos, e que sem ela, nos é muito difícil continuar nesta dádiva vazia. Às vezes precisamos tanto que até temos ciúme de coisas ridículas...há muitos anos atrás, lembro-me de ter ciúme do tempo em que o meu "não marido ainda" , tocava guitarra, pois pareciam ser tempos em que ele não estava comigo, ainda que estivéssemos ali, lado a lado, durante os seus concertos individuais; não percebi o simbolismo, a entrega e a coragem de se revelar em frente a mim, a fã que ele ao fim ao cabo mais receava...travei uma luta, a pedir, que ele parasse para estar comigo, para que se entregasse mais (dizia/pensava eu), com o tempo eu ganhei, ele dedicou-se muito a mim, hoje sou eu que às vezes lhe peço, ou o lembro, para que toque guitarra, para que esse seu amor não morra, mas hoje é raro, e eu arrependo-me, hoje nesse campo sofremos os dois...eu acho que ele sofre, pois perdeu a vontade de o fazer de forma espontânea como fazia, e deixou de ter na guitarra um hobby, um escape, mas vive um certo saudosismo por isso; eu, porque me sinto responsável, porque hoje sei, que na vida há tempo para tudo, e na altura a minha imaturidade me impediu de aceitar os seus símbolos de amor, através de algo que era dele, e especial para ele.

Amar é dar, é receber, é esperar, mas acima de tudo é aprender com o outro, é aprender a viver e conhecer tudo o que o outro nos dá, é aprender a pedir as retribuições, ainda que apenas queiramos "trocados", no entanto, sempre com o cuidado de não estarmos a exigir ao outro, que este se dilua, nos nossos sonhos e expectativas.

Amar é criar um espaço para os dois, um espaço para cada um, e um espaço, onde podem existir os outros, e nenhum pode desaparecer, nenhum pode sofrer, ficando sem lugar para si próprio. E nestes espaços, têm de existir tempos, da mesma maneira, o meu tempo, o teu tempo, o nosso tempo...e se existirem criaturas pequenitas ou granditas, o tempo deles e com eles também.

Quem ganha e adquire esta sapiência, passa cheques, entrega-se, pede, tem tempo para si, ama os outros, dá espaço para que os outros amem de volta...exige se assim tiver de ser, mas não desiste, e pode chegar aqui, àquele momento da Vida, em que a sintonia existe e permite, amar com tranquilidade...

Como diria Florbela Espanca...

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Conversas de corredor...labirintos da mente.

Quantas vezes damos por nós descontentes de alguma coisa na nossa vida, e nesses momentos, em pequenas conversas, em corredores de passagem, parece que queremos abrir a alma, em cinco segundo, na vã esperança de conseguir que o outro porque nos ouve, nos dê de volta uma tranquilidade e resolução, que não é capaz, simplesmente porque não....

Quantas vezes nestas conversas nos expomos, e gastamos energia, com a crença de que assim é mais fácil...fica tudo de permeio, não sou ouvido com atenção, e não há tempo para reflexão, fujo de mim e dos outros, no desejo profundo de que alguém me pare e me diga, o que fazer. Nestes corredores que me parecem escuros, ouvem-se os murmúrios de todos nós que por lá andamos, repletos de mêdos e receios, que a nossa voz dá forma, mas rapidamente esquece, ou põe para trás. Nestes corredores sabem-se segredos, mas não existe coragem, nestes corredores há partilha, ou entrega, mas não há dádiva, retorno e atenção. Nestes corredores não se faz nada, contempla-se o infortúnio, comunham-se dores de alma, no vazio da inacção. 


Estas não são as conversas de mudança, estas são as conversas de labirinto, que nos fazem percorrer caminhos que nos levam e trazem sempre aos pontos de partida, mas, que são pontos de partida de quem está perdido, e nas conversas tenta dar voz aos seus valores, aos seus desejos, mas nestas subidas e descidas, nestes espaços de encontro furtivo, o conselho dado é gratuito, mas às vezes é mais pensado para o próprio, para quem o dá, do que para quem o recebe. 

Aqui na ausência de quem não está, ganhamos coragem de deixar recados no ar, pedidos falados, na esperança que de alguma forma estes sejam entregues e entendidos, ganhamos a sensação que estamos a caminhar para algum lado, e estas reclamações ou desabafos ao ar iludem-nos que somos agentes de mudança, mas na minha opinião, estes momentos que considero perfeitamente normais e saudáveis, são completamente insuficientes e muitas das vezes, se forem os únicos espaços de abertura, de desabafo, nunca deixaram de ser corredores escuros, labirínticos, onde mais facilmente nos perdemos do que nos achamos.

O processo de mudança, de agir sobre mim mesma, na procura de ser melhor, de mudar, de reflectir sobre o que não está bem, sobre o que tenho de fazer, sobre quem preciso ou quero ser, tem de partir de momentos prolongados, de viagens ao meu íntimo, ao meu cerne, que levam tempo, que doem, e que por si só não chegam, tenho de me fazer viajar acima das situações que vivo, e colocando-me numa perspectiva de quem vê de fora, analisar, com seriedade e coragem, em que posso ser eu o agente de mudança. Acredito vivamente, que mudar é dos processos mais difíceis e aos quais nós acabamos por ter mais aversão ou receio, mas se damos inicio a esse encontro, com estas novas partes de nós, que podemos alimentar e fazer crescer, e se entendermos, que temos sempre um papel na atitude do outro e na sua própria mudança, então sim, tornamos-nos capazes de ser agentes de mudança nossa, profunda, voluntária, e assim sendo, mudaremos os outros sempre, que mais não seja no seu contacto com a nossa própria mudança.

Muitas das vezes os casais discutem, sentem-se magoados pelas expressões ou partilhas do outro, pois nesses momentos, estamos como que no nosso corredor escuro, onde tudo é vivido no meu cerne, e a linguagem do outro na realidade não é ouvida é sentida como um ataque, sendo assim, perco-me em sensações momentâneas, fico surdo, rígido, magoado, preso em desabafos que não são, e nas tais conversas que também não são de agir ou reflectir. O outro, faz o mesmo, perdendo-se também nestes corredores, e embora às vezes estejam a discutir juntos, os corredores não são os mesmos, ou o momento não é o mesmo, como se pudessem estar em diferentes momentos do tempo, separados por cortinas de desfasamento, que complicam o entendimento e a aceitação. A minha sugestão é que tentem ganhar, uma distância, tentem ouvir estes desabafos ou discussões do vosso cerne, mas com disponibilidade para ver o corredor do outro, a escuridão contra a qual também luta, e se dediquem a serem agentes de mudança, às vezes o outro está a gritar que precisa de um abraço, com gestos de recusa, ou palavras de afastamento, e eu só consigo ouvir estas palavras não ditas, se vir o corredor, o labirinto, onde o outro está, e saindo do meu cerne, me arrisque a responder ao que não foi dito, mas eu ouvi, em vez de responder ao que foi dito, mas eu não sinto.
O corredor da luz, que não é escuro, é o do entendimento, da entrega, e de uma profunda reflexão sobre quem somos nós, como funcionamos, que botões nos pressionam, o que nos motiva, e em cada pequena acção nossa, agirmos de acordo com a mudança que queremos efectuar, não só em nós, mas naqueles que nos tocam.

Um exemplo tonto, mas que pode ilustrar de forma muito simples o que estou a dizer, imaginem que: eu tornei-me vegetariana, mas não forço ninguém na minha família a fazê-lo, no entanto ao cozinhar as refeições faço tudo como era hábito, mas passei a fazer mais vegetais, pois é o que eu quero comer, esta minha alteração, faz com que todos os elementos da minha família sejam expostos a mais vegetais, e com o tempo, provavelmente todos comerão mais vegetais do que comiam antes de eu ser vegetariana. Não são vegetarianos, não os mudei profundamente, mas, o seu comportamento mudou por contacto com a minha acção para a mudança.

As conversas de corredor, se iluminadas, se forem ouvidas com atenção, e partilhadas com a vontade de entender, de ouvir, de retomar, resultam em ideias, resultam em diálogos que ocorrem mais tarde, que aprofundam o que já se sabia, que ajudam a termos uma vontade de agir para a mudança, acreditando que um faz diferença.

Na mudança, um faz a diferença. E nós somos capazes de mudar, se assim o quisermos e a essa demanda nos dedicarmos. Missão, ser feliz, e fazer feliz quem amamos!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Conversas de Cama II: Eu, tu e os miúdos...

Estamos na cama...agora!
Mas, durante o dia, por insinuações, mensagens de texto, troca de olhares e um beijo demorado, sem diálogo, planeou-se o encontro de cama, aquele onde, mesmo que esgotados das energias dadas ao longo do dia aos credores da nossa vida, nós nos iríamos abraçar, beijar, murmurar histórias de amor, em que nos prometemos uma vez mais um ao outro...encontro, onde com rotina e novidade os nossos corpos reclamam a presença e a entrega um do outro...

Oh!Oh!


Vem um dos pimpolhos dizer que debaixo da cama está um monstro verde ou azul, e que está cheio de medo, fica aninhado nos braços, nos meio destes desejos por cumprir...adormece, e lentamente um de nós leva-o para o seu quarto, para a sua cama, onde o aconchega e o afaga, para assegurar que dorme, e que nenhum monstro, de nenhuma cor, o acordará.


Volto ao quarto, ou voltas tu, não importa, e assim que lá chego, vejo que o clima, as nuvens e o ar mudaram, mas mesmo assim, tentamos por o barco a velejar de novo, começando do zero, ou do um...e lá vem mais um tossir, agora é o outro que tem estado doentito, que tosse, e lá vamos nós de novo, quem vai? Tu ou eu, e assim se joga o jogo. Quando somos eu, tu e os miúdos, estes momentos de cama prometidos e desejados durante o dia, muitas das vezes são desafiados pelos jogos da noite, e quando tudo corre bem, há uma sensualidade que resiste às provas estóicas que a Vida impõe, e há um jogo de amor que acontece, e o casal, tu e eu, fazemos amor, e sabemos assim que nos braços um do outro tudo se resolve.


Mas, claro que vem um mas, às vezes quando eu volto tu dormes, ou quando voltas tu durmo eu, às vezes, um deles fica a dormir connosco, às vezes a febre não baixa e andamos os dois a pé, a ver se tudo corre bem.


E esta é a loucura de vida que escolhemos ao sermos eu, tu e os miúdos, é esta vida que por momentos leva casais a questionar que soluções encontrar para balançar estes dois mundos, que parecem não poder coexistir.

Mas podem, exigem é um desafio, às nossas forças, e às nossas formas de usar a criatividade, encontrando, momentos, que ninguém diria, onde ninguém acreditaria...Estes momentos desafiam sabermos que estes amores coexistem, e que estes desafios necessitam de intervenção, não caiam no erro crasso de dizerem a vocês mesmos: isto é uma fase, daqui a uns tempos tudo isto corre melhor. Não é que não seja verdade, e que muitas destas coisas não sejam realmente fases e que tudo, em última análise, na maioria das vezes, acaba por se resolver e arranjar uma maneira, mas deixar tudo entregue a estas forças divinas ou naturais, põe em risco os pilares daquilo em que toda a vossa família acenta, o casal, e acho eu, este é um jogo arriscado. Ainda que por vezes seja inteligente esperar um pouco, adequar ritmos e descobrir janelas de oportunidade, a Vida tem ensinado, muitos dos casais com quem trabalho, e tem-me ensinado a mim, que estes tempos  têm de ser criados, cuidados e preservados, de forma quasi religiosa, pois de outra forma, o relógio, ganha uma velocidade própria e quando se aperceberem, a fase, durou meses, e facilmente o amante é um estranho.


O desafio está então em vencer o ritmo da Vida...e que desafio este.

Pensem, que vão andar a defender que os vossos filhos tenham rotinas, que se disciplinem, para  seu bem, para que durmam, para que cresçam, etc, e é nessas rotinas deles, que podem surgir os vossos improvisos.

Pensem que ao final do dia, ao deitar há maiores probabilidades de eles acordarem, chorarem, chamarem por vós, pois ainda não estão num sono profundo e a agitação dos seus próprios dias, ainda está com eles e ainda não os abandonou por completo, o seu imaginário está em acção...mas, se ambos acordarem bem dispostos de manhã, a madrugada pode ser uma solução...

Podem combinar um dia, de vez em quando, ao vosso ritmo, em que antes de irem buscar os pimpolhos às suas escolas ou creches, pode haver uma paragem em casa, sem receios de interrupções, num clima mais de aventura vossa, e fuga às "responsabilidades", fenómeno que também sabe bem aos adultos...podem pedir (sem sentirem que abusam), que os filhotes jantem com os avós, para que vocês possam ir "jantar" sozinhos, e dessa forma sentirem que permitem o contacto entre avós e netos, e assim não se sentem culpados, pois não foram passar uma noite fora, e os deixaram para trás (que não deve ser motivo de culpa, mas muitas vezes é...), e conseguem ou jantar mesmo, a dois, com um pouco de romantismo, ou conseguem ficar em casa, umas horas sozinhos, durante as quais podem ter conversas de crescidos, fantasias de casais, momentos de silêncio e partilha, ou namoro de mão dada...o que importa é que vos pareça, que os vossos tempos não estão a desaparecer, e vocês não fazem nada para que assim não seja.

Estes tempos são muito necessários, pois para gozarem os momentos em que são eu, tu e os miúdos, o eu, ou o tu, não podem culpar os miúdos, por perdas de tempos, momentos, sensações, coisas, que só tem que ver com decisões vossas, ou uma má gestão do tempo de casal.

O fosso na cama, e nas vossas conversas de cama, só acontece se baixarem armas, pois eu não acredito, que nos vossos jovens anos, no início dos namoros, não existisse uma criatividade inesgotável para descobrir segundos, minutos, para estarem juntos, e por muito pouco tempo que existisse, tenho quase a certeza que posso afirmar que nenhum saía do pé do outro sem se sentir amado, sem sentir que tinha valido a pena o esforço de ir contra uma série de eventos por aqueles cinco minutos, e garanto também que o facto de não saírem saciados, vos aguçava o desejo para o reencontro.

Só porque somos crescidos e pais de família, e agora somos eu, tu e os miúdos, o nosso romance e amor físico, não tem de sofrer, só têm de continuar a insistir, não desistir até encontrar momentos, até assegurar que nas rotinas deles, asseguram as vossas.

Eu e tu, não podemos deixar de ser, pois muitas das vezes é o primeiro passo para a distância, para os mal-entendidos, para uma falta de segurança que se enraíza e me deixa em dúvida sobre o amor do outro, falta de certezas sobre o meu papel na tua vida, sobre o que significa esse teu olhar ou essa tua expressão...não deixem...nesta intimidade e nesta procura de alguma loucura e imaginação, está o segredo para que nos apaixonemos muitas vezes, ao longo da nossa vida, pela mesma pessoa, por aquele com quem partilhamos tudo. 
Sem, que surja o sentimento de que os nossos filhos se colocam entre nós, nos dividem e separam. 

Se se inspirarem com o que aqui lanço, como ideias e desafios, vão ver que há tempo para que vocês os coloquem no meio de vós, gozando esses momentos, sem sentirem que estão a perder nada, mas sim a ganhar uma proximidade junto deles que não terá preço, pois os vossos momentos são distintos e separados.

Nestes momentos vocês estabelecem as bases para a vossa relação com eles na adolescência, e as proximidades que vão ser possíveis, mas também é agora, nestes momentos vossos, que estão a construir a vossa relação no agora, e no amanhã.

Encontrem-se para um café furtivo a meio do dia; mandem uma mensagem como se namorassem de novo; tomem pequeno almoço às seis da manhã, enquanto eles dormem, para que esse tempo seja vosso; durmam a sesta enquanto eles dormem; tomem banho juntos; tomem um copo de vinho na cama, enquanto conversam sobre um sonho vosso; mandem uma carta por correio ao outro, onde se declaram ou mandam um beijo; dependendo das idades dos miúdos, deixem-nos ver um filme sozinhos enquanto vocês tentam ter um momento vosso; ponham o despertador para retomar o momento que foi interrompido pelo monstro azul (faziam-no pelo vosso patrão certo?!)...façam coisas, qualquer coisa, mas não desistam, ser uma família é dos fenómenos que mais contribui para a felicidade individual de um adulto...mas façam coisas por vocês também, nas conversas de cama, ou inspirem-se e "conversem" noutros sítios...

Façam coisas, não desistam!

domingo, 1 de abril de 2012

Será que eles não dizem nada...e, nós não paramos de falar...?

Será possível alguém não dizer nada? 

Quando tudo em nós, muitas das vezes, fala nos silêncios que nos rodeiam. 

Será possível que nós mulheres estejamos sempre a falar, sem silêncios de reflexão, preparando as trocas que queremos fazer com quem nos escute?

Será que era positivo nós falarmos e eles também, ao mesmo tempo, em simultâneo, como se nos ultrapassássemos em estradas de sentido único.

Será que devíamos de algum modo ser iguais, num entendimento tão profundo, que estas diferenças que servem de humor ou crítica, deixassem de existir?

Vamos então às provocações! Acho que não...


Os silêncios masculinos são tão necessários como um intervalo num filme longo. Muitas das vezes nos nossos discursos, sérios, em que tentamos mostrar ao outro o que sentimos, de que forma o outro nos afecta, as preocupações que temos com a família, as injustiças que sentimos nos tratamentos do dia-a-dia, as faltas que temos, os desejos de amanhã, parece que muitas vezes as palavras se embrulham, em papéis do passado, rendilhados de mágoas, coisas não ditas, tons de voz alterados, energias trocadas, e o diálogo sai acelerado, com as palavras que não queríamos, com contextos pouco relevantes, e em que o esforço é todo colocado em esconder as verdadeiras emoções daquilo que queremos transmitir. Talvez seja verdade, que nestes momentos é bom, que um dos comunicadores, seja capaz de se silenciar, reflectir e talvez na sua não resposta, conseguir dar um tempo para que o outro se organize e pense se o que disse é o que queria dizer, se o que disse foi ouvido, ou ser capaz de parar, e agora sim, dizer em emoções as razões que dentro de si, gritam para ser partilhadas.



Verdade, que nas conversas femininas, de umas com as outras, no café, ou no sofá, na procura de apoio, as palavras são trocadas a alta velocidade, com interrupções constantes, trocas de direcção, em segredos meio ditos, que serão partilhados a mais umas quantas pessoas, com opiniões dadas sem ser escondidas, mas em que a linguagem e o não dito é captado pela sintonia de funcionamento entre o género, mas facto é, que estas conversas não nos resolvem as questões que se relacionam com os companheiros, pois com esses as estratégias têm de ser diferentes, mas com a regra de que ambos os lados têm de entender que as palavras são as mesmas, os gestos e as expressões são iguais, o que muda é a forma como as trocas são feitas.



Será que nós mulheres temos este papel de comunicar, de despoletar a conversa, o discurso, provocando no outro - o companheiro, a necessidade de pensar sobre o assunto e se organizar o suficiente para nos devolver o que precisamos para apaziguar esta fome, ou sede de confirmação, pelas palavras do que está em jogo na relação. Será que esta nossa necessidade existe pelos silêncios partilhados com aquele que nos acompanha? Será que quanto maior for o silêncio, mais eu, mulher, tenho de falar...pois preciso desse reforço?

Mas será que o homem, muitas vezes sabe falar de volta? Connosco?

Será que nós mulheres sabemos falar com os homens, nossos companheiros, e dizer-lhes o que realmente queremos ou precisamos?

Será que o homem aprecia ver-se embrulhado nesses rendilhados de discursos, muitas vezes apenas coerentes para nós, com um sentido que só nós desvendamos?
Não será que nesses silêncios está também a nossa paz, e nós não aprendemos a reconhecer esse efeito e teimamos, continuar a insistir num processo de mudança do outro, não entendendo que os diálogos podem parecer sinfonias, em que existem momentos em que todos tocam, em alto, e em sintonia, mas há momentos em que apenas uns fazem solos, e podem tocar tão baixo, que até se torna quase inaudível.

Será que por vezes a intensidade destes diálogos ou monólogos, é tanta, que quem ouve parece sentir-se agredido, e não tem outra saída, senão o silêncio, como se assim uma barreira invisível se erguesse e protegesse do que sinto ser uma invasão do meu estar e ser?


Quantas vezes estes discursos em que nós queremos muito falar, fazer-nos entendidas(os), passar a mensagem, e por simbologias secretas, pedir o que realmente queremos, fazendo quase que necessária a existência de um "tradutor", aquilo que acaba por passar são lutas invisíveis de poder, que não nos deixam dizer o que deve ou queremos dizer, mas vamos sim, jogar um jogo de poder, em que nos degladiamos até que um vencedor se erga, e no jogo de braço de ferro, que exige um perdedor, chegue ao fim, e nesta batalha linguística, surja como único resultado possível uma perda de entendimento.


Mas, também podemos ver isto de uma maneira diferente. Quase que humorosa...


É verdade que uma mulher (na sua maioria), quando relata um facto, ou conta uma história, se transforma em Almeida Garrett, conseguindo dar tantos detalhes e pormenores sobre o evento, que a outra pessoa só pode sentir que lá esteve. É verdade que uma mulher para dar direcções de um caminho qualquer que seja, não fala apenas nas estradas e caminhos,  mas descreve aqueles pontos de referência, essenciais ao funcionamento do nosso mapa mental. Quando falamos de um sítio, quase sempre dizemos que fica ao pé de outro. Assim não há dúvidas...


É também verdade que os homens (na sua maioria) quando relatam um facto ou evento que testemunharam, o fazem de forma telegráfica, assegurando que a informação mínima é transmitida (ou às vezes não, transmitem tão pouco que nem o mínimo fica assegurado), não sentem necessidade de contar todos os pormenores, nem de dar referências que consideram desnecessárias, pois assim não causam dúvidas...


E agora? Da maneira como me expressei, até parece que estes seres se devem complementar e não deveria ser causa de desconforto, pois um que fale mais é ouvido por aquele que fala menos...uphs, aí é que surge a confusão, um não fala muito, e muitas vezes não gosta de ouvir muito, e quem fala muito, não gosta de não ser ouvido...aqui está o embrulho, estas diferenças, que podem ser exploradas e ensinadas, e muitas das vezes traduzidas se o objectivo máximo (que não queremos, nunca, perder de vista) for o ser entendido e entender o outro, mas em vez de assim ser, são razão de mais uma disputa e discussões, em que não saem apenas duas verdades e duas realidades, saem dezenas delas, que vão ser vividas e revividas, interpretadas vezes sem conta, até que não nos lembramos do princípio de tudo, só nos lembramos que o sentir está no negativo, e ambos guardam a sensação de não serem ouvidos e entendidos.


Aprender a ouvir, activamente, questionando o outro até que saibamos realmente o que este quer dizer e o que quer pedir, é crucial, para que ambos, conquistem um espaço de verdadeiro diálogo, em que a riqueza de palavras e descrições da mulher assegure o homem do seu amor, e o silêncio deste revele a escuta activa que lhe dedica, para que depois lhe possa perguntar e oferecer frases de resposta, que aproximam e reforçam o amor e companheirismo, em vez de se perderem nos rendilhados de discursos vazios de intenção e emoção, escondidos em diálogos surdos internos, que nunca chegam a ser revelados.


Falem tudo o que precisam de falar, no mesmo dia em que as coisas vos fazem sofrer, não guardem, mas, aprendam também a ouvir, e lembrem-se que nenhuma destas acções pode ocorrer ao mesmo tempo, a estrada é sempre de sentido único, só assim evitamos o desastre de colidirmos informações que não foram partilhadas, mas sim, que vêm de dentro, de diálogos mantidos connosco mesmos.


Falem! Escutem! E no fim, ainda que se entendam, mas não concordem um com o outro, abracem-se e lembrem-se que estas conversas dão-se para que vocês se conheçam melhor. Para que as coisas se resolvam, e para vos lembrar que podem ter diferentes pontos de vista, mas isso não é razão para distâncias, mas sim para equilíbrios.