segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Por vezes, não fazer uma coisa, é fazer uma coisa...


Por vezes desistir é mais "não desistir"... 


Comentário pertinente, pois faz-nos pensar que realmente às vezes não fazermos uma determinada coisa, é fazê-la...

O comentário que deixaram, dava a entender que este percurso se liga ao do abuso verbal e psicológico, embora muitas vezes estes sejam tão subtis, que a vitima, pode não se aperceber que assim é, pois o trabalho do abusador, por vezes é lento e corrosivo, a tal ponto, que a dúvida, a insegurança, a falta de certezas acaba por residir na vítima, assim como a culpa, sentido-se muitas vezes como a originadora do problema, da discussão, pois assim é treinada para se sentir.

Esta não é uma temática fácil, pois pode acontecer com diferentes intensidades, com diferentes propósitos, e às vezes em repetição até de ciclos familiares anteriores...não é num texto como este que posso partilhar convosco todos os aspectos que se ocultam por detrás do processo de abuso, vou apenas deixar algumas ideias, como ponto de reflexão, de deixar ao critério de quem lê, aprofundar mais o tema se sentir que lhe faz sentido.

A situação de abuso, utiliza os processos de culpa e de desculpa, para ir controlando a relação, e assim alimentando o ciclo vicioso que se vai criando. 

Sem dúvida que a relação se iniciou num processo normal, em que se gosta, mas na sua evolução as primeiras discussões, discordâncias, vão levando a uma avaliação de forças, e um dos elementos, ganha poder, ou até prazer, em ser o elemento mais forte, tornando-se no abusador, o outro elemento, para não perder a relação, porque gosta, porque tem os seus motivos vai desculpando as primeiras discussões/agressões, vai encontrando justificações para permanecer e desculpar, e vai dando assim mais poder ao outro, e perpetuando o ciclo, podendo este entrar, ou não, rapidamente numa espiral de aumento de gravidade ou intensidade.

É de salientar que nestas relações, esta progressão pode ser de tal maneira lenta que a vítima não se sinta nessa posição de um todo, e tenha sempre uma justificação plausível para as atitudes do abusador, chegando mesmo a pensar que ela sim provoca muitas das situações de agressão, ou abuso.

O abusador vive a sua culpa, mas expia-a através do pedido de desculpas, e por entregar parte das culpas à vitima, se ela ou ele, não me tivessem dito ou feito isto, ou aquilo, então eu não teria...

Mas essa culpa, não é suficiente para parar a espiral muito tempo, pois, existe uma necessidade do abusador, se livrar dela, passando-a para o exterior...


Este ciclo cria-se por palavras ditas, que magoam, atingem, o outro no seu intimo, fazendo-o inseguro e culpado, triste, e com a auto-estima sofrida, pois atribui-se alguma razão a quem agride. Depois pode se criar por aquilo que não é dito e pode ser apenas insinuado, ou como é dito...


A: "Vais sair agora?"
B: "Porquê? Importas-te?"
A: "Não (silêncio), tinha pensado...(silêncio)....deixa estar..."
B: "Diz...sério..., não tenho de ir, se quiseres..."
A: "Não, deixa, vai..."

Se for...não vai bem, vai triste, preocupado em ter desiludido, não goza o momento, não percebe...se não for, provavelmente nada acontece porque o outro lhe diz que só ficou por pena, que ficou mas ficou mal-disposto e pode gerar discussão acusando que a culpa é da má disposição por não ter tido, quando a escolha foi do próprio, "eu não obriguei a nada"...


Estes Ciclos tanto podem escalar rapidamente para ciclos muito agressivos e perigosos, como podem ser muito subtis até se tornarem manifestamente agressivos, mas, também, podem nunca passarem destes jogos de palavras e emoções que encurralam, o indivíduo, sem que este muitas das vezes tenha consciência que as suas escolhas estão totalmente controladas pelo outro.


Prevenção, todos nós temos o direito a gerir grande parte das nossas vidas em livre arbítrio, com o devido respeito pelos valores, regras sociais, punições,etc., se sentirmos que na vivência do nosso dia-a-dia, precisamos de esconder de um alguém, daquele(a) que é nosso companheiro, coisas que nos parecem banais e inocentes, que gostamos ou precisamos que façam parte do nosso dia-a-dia, como por exemplo, tomar um café numa esplanada, falar com uma amiga ao telefone ou pessoalmente, ir a um cabeleireiro, ir a um ginásio, trabalhar uma vez ou outra até mais tarde, vestir uma determinada peça de roupa, tomar um copo com um amigo, etc...


Então, provavelmente existe uma pressão psicológica por parte do outro para nos fazer sentir essa necessidade de ocultar, ou de não fazer, a relação encurralou-nos, e as pressões, abusos verbais, emocionais, psicológicos ou até físicos, já alteraram o nosso comportamento e o nosso julgamento dos mesmos, já somos vítimas no processo, e já não estamos livres de ser, na sua totalidade,e em plena liberdade...por isso temos de questionar.


Muitas vezes deixamos de fazer coisas pelos outros, em plena consciência e entrega, por amor, por sacrifício, por opção, pois queremos nesse gesto entregar algo de nosso ao outro, mas se fazemos isto, sistematicamente, sem consciência, sem questionamento ou pela exigência do outro, então o nosso próprio eu está em risco, e aí, não fazer uma coisa é fazer uma coisa. Atenção, se gostarem sempre de vós, e de vez em quando analisarem as vossas opções de vida, de momento, torna-se mais fácil saber se nos estamos a deixar abusar...

Ninguém se deve deixar encurralar a ponto de deixar de ser, seja pelo companheiro(a), pela Vida, pelo trabalho, Patrão, dinheiro...as fontes de abuso são imensas, só uma paragem aqui e ali, nos permite ir sabendo se as escolhas são realmente nossas...pensem nisso.

1 comentário:

  1. Muito bom! Era isto mesmo e penso que o tomar consciência deste processo pode "acordar" muita gente, agressores e agredidos. Parabéns. Beijinho!

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