segunda-feira, 18 de março de 2013

DESEJO


Muitos casais chegam ao meu sofá...por diversos assuntos, mas é raro, que nas nossas conversas, ao fim de um tempo que varia, para se criar um ambiente de confiança..que não me venham falar da sua intimidade, da ausência dela, da pouca periodicidade com que se encontram, da falta de sexo, da falta de desejo...

É um tema difícil, pois põe em causa, a vergonha de abordar o assunto em frente a outros, quando muitas vezes o assunto já é por ele tabu para o casal, é difícil porque é raro encontrar um casal que esteja constantemente em sintonia no que retira, desta área da relação, e mais difícil às vezes pode ser, porque a vontade de investir nesta área, significa, muitas das vezes, ter de melhorar a relação num todo...e isso dá trabalho e implica mudança - palavra que é assustadora para a maior parte dos comuns mortais ;0) 

Ultrapassada a questão da vergonha, e o assunto posto na mesa, temos de tentar perceber o que afasta o casal? O que está a impedir o desejo? O que alterou o sentir pelo outro? O que se passa no próprio, que não está a alimentar este aspecto do relacionamento.

Perceber em que fase a pessoa se sente, muitas das vezes o elemento do casal, pode estar mais investido em ver o parceiro como amigo, confidente, companheiro, suporte, e em simultâneo estar num processo individual em que não se vê no seu auge, não gosta de si, não se sente amado, ou a sua sexualidade não é prioridade...Nestes momentos, o parceiro pode não criar paixão, arrebatamento ou vontade sexual, simplesmente porque o seu papel naquele momento não é esse.


Mais, muitas das vezes a quantidade e a frequência, são factores que podem não serem vistos da mesma forma pelos diferentes parceiros, já tive casais, a quem perguntei se estava bem a sua vida sexual e a intimidade, a responderem-me em polos opostos, por exemplo, a mulher a dizer que sim e que faziam o suficiente, e o homem a dizer que não, e que tinham feito amor a última vez há mais de um mês...tendo recebido uma reacção de negação e surpresa por parte da mulher, que no decorrer da conversa percebeu que realmente era verdade, e depois de discutirmos com pormenor e detalhe, alguns dos aspectos da relação, percebemos, que ela naquele momento sentia que não precisava, que tinha o companheiro da sua Vida ali ao lado, a apoiá-la, e que isso agora não lhe era importante naquele momento.

Ambos tiveram que ganhar consciência, que estavam ambos, em mundos diferentes, mas que se podia trabalhar a situação, se existisse diálogo. Os casais têm de abrir um canal de comunicação constante entre si, seja sobre que assunto for...pois assim conseguem sempre
encontrar soluções de compromisso.

Mas, às vezes, esta situação não resulta apenas do casal não estar em sintonia, mas é um sintoma do que não está bem, é a área de "penalização" escolhida, para chamar à atenção das carências de cada um, em substituição de pedidos verbais, ou de ter discussões até que se encontrem novos equilíbrios.

Temos de entender que a relação a dois tem ciclos, e que para manter a paixão, o desejo, a chama acesa, em algo que cada vez mais vai sendo menos novidade, requer trabalho, investimento, e vontade de no mínimo ter a certeza que através deste investimento, se assegura a Vida da relação.
  • É preciso estar a receber do outro o que preciso para estar bem, sentir-me feliz e amada(o).
  • É preciso confiar.
  • É preciso ter mistério, e desafio, tu conheces-me melhor do que ninguém, mas...nem tudo!
  • É preciso "tentar" o outro...
  • É preciso seduzir e adivinhar o outro.
  • É preciso namorar, beijar, lembrar os primeiros beijos...(eu não me esqueci do meu...).
  • É preciso "treinar", isto não é como andar de bicicleta, se não se fizer durante muito tempo, os corpos reagem como se fossem estranhos, como se não encaixassem.
  • É preciso variar, ir ao encontro de fantasias mútuas.
  • Para a mulher, é preciso namorar o seu cérebro, iludir, criar mundos que não existem, fantasias...flores, poesias...não ser óbvio (não querendo generalizar em excesso).
  • Para o homem, é preciso seduzir no sorrir, surpreender assumindo um papel mais descarado, tomar a iniciativa...(não querendo generalizar em excesso).
Ou seja, aquilo que vos estou a relembrar é que nesta área da vossa relação também tem de haver um trabalho intenso, pois tem a riqueza de ser o momento mais próximo, mais íntimo, de maior entrega que o casal pode ter, e se funcionar bem, é uma sinfonia, todas as outras áreas se ajustam, e se resolvem...e existe uma dança específica, se não funcionar alerta para a fragilidade que é a sensualidade, o desejo, como algo pode evaporar-se rapidamente, e não deixar funcionar tudo o resto, embora isto não seja de um todo verdade para o amor...

Experimentem, a vida sexual, a intimidade, necessita de oxigénio para queimar, necessita de chama, de intensidade, de entrega, de inovação, de querer - mesmo sem querer, de dar...e acima de tudo, desejar receber.

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