terça-feira, 12 de março de 2013

Dores de amor, dores de mãe...não a compreendo...

Corre um lágrima,
rosto abaixo...
sulcando de dor a minha pele.
Rasgada de dentro,
choro sangue de aflição...
...falho aqui e ali,
no que me fazia feliz.
Choro a dor que sentes, 
porque já não te embalo,
já não és minha...
solto-te todos os dias...
um pouco, pouquinho,
e, mesmo assim,
dói, dói demais...
sinto que te perco...
que não te tenho...
que não te conheço...
choro passados que foram, 
colos que dei.
Choro distâncias de agora,
recordo cheiros de bebé, noite fora...
Foste e estás...
não me afastes, defenderei-te...
de feras e dragões,
da Vida, das quedas e trambolhões.


A minha reflexão de hoje é um apoio às mães de hoje, mães de filhas no início da sua caminhada pela adolescência, mães capazes, heroínas e vitoriosas do seu trabalho e dedicação, mas envoltas num nevoeiro de dúvidas que as incapacita, entristece... paralisa. 

Algumas mães dedicam-se ao seu papel de tal forma, que não é só amor, é a sua auto-imagem, o seu valor, a sua dedicação em absoluto, e quando os jovens crescem, e no seu caminho de descobertas, se afastam, se distanciam de quem eram, quando dúvidas do seu bem-estar surgem, angústias começam...

Aqueles abraços, o adoro-te mãe, o deixa-me deitar contigo um pouco, o deixa-me contar-te um segredo...

Reduzem...cessam...ficamos no escuro, na distância de um braço, imposto por um crescimento, estamos ali ao lado, com muralhas de silêncio e distâncias intransponíveis  esticamos o braço, tocamos, e é como se não tocássemos de tão distantes estarmos...

É assim, faz parte, é difícil, e pode ser um pouco diferente, mas vão ter fases destas...mas uma coisa é certa, há aqui dois processos separados, um que é o da jovem, outro que é o da mãe. E depois, um em comum que é o da mãe com a filha.

A jovem vai ter de se descobrir, diferenciar da mãe, saber quem é, arranjar o seu lugar ao sol, com as suas seguranças e inseguranças, usando para isso o apoio do Grupo e dos pares (que por vezes pode não ser bom, pode não ser o melhor, senão até destrutivo...), usar a sociedade como modelo (que mais uma vez também pode não ser bom ou ideal, modelos de magreza, de idealismos e riquezas tontas...). Vai definir traços, desejos, projectos, vai desenvolver mais a sua personalidade, e viver consigo mesma, na descoberta de si...vai às vezes mentir, sofrer, esconder, desejar, ter medo do que não sabe, excitar-se com que não pode fazer, desejar o que não tem...

E durante este caminho, o papel da mãe é estar lá, ouvir, apoiar, amar...estar sempre lá...não forçar, cuidar, prevenir, educar...tentar caminhar dois passos à frente, daquela que nasceu ao mesmo tempo do que eu...os pais nascem com os filhos, sem dúvidas, mas com um caminho desafiante pela frente, porque uns desbravam por pura natureza, outros por pura protecção.

O caminho da mãe, não é o de por em causa tudo o que fez, porque a sua querida e amada filha não está bem, é aqui que nós temos um crescimento duro pela frente, é aqui que temos que entender que existe uma entidade (a nossa filha) exterior a nós, à qual nos dedicamos e entregamos dando tudo, e zelando por ela, mas que agora, temos de ver, não como uma "mini-nós", mas sim como uma Pessoa em todas as suas valências, inclusive o direito a errar, a sofrer...e com isso tudo, não assumirmos estas etapas, como incompetências nossas. São caminhos escuros, de desespero, de descoberta, de medo, mas em que a nossa presença segura, constante, lhes dá espaço para esse crescimento, nesta dor nossa.

E depois surge, ou existe, o caminho das duas, de mão dada, entrelaçadas para toda a Vida, mas em que tem de existir o entendimento, que a partir de agora existem duas mulheres, dois seres em relação, com espaços e distâncias próprias. Duas entidades que podem não se compreender, entender, aceitar, que podem ter de lutar por tudo e mais um "par de botas", um relação de amor, mas que vai ser conturbada e agitada por mares altos e revoltos, que vão balançar cordas e amarras, mas que na fé de que fazendo as caminhadas por amor, não estamos erradas, e que sentindo com o coração e a nossa alma, também não podemos estar mal guiadas...é caminhar em frente, um dia de cada vez, um passo de cada vez, na certeza única do afecto que une. Na disponibilidade infinita para estar lá, ao lado, no pior, no duro, no difícil...no melhor, na felicidade, no infinito.

Mães...não percam as esperanças e não se percam a vocês no processo, vejam este novo espaço de estar e de ser, como uma preparação, que vocês podem acompanhar, e para que elas possam crescer e ser...e serem alguém. Um alguém que elas desejam ardentemente que vocês venham a admirar, com trambolhão, refilando, questionando...alguém que elas querem ali, ao lado, em espera, em pause até que elas possam estar de novo.

Forca ai...vocês é que estão a tentar fazer delas alguém no seu melhor, dando o vosso melhor, e no fundo, elas sabem disso...estão é num processo próprio, que às vezes acarreta tanto sofrimento, que não há espaço, ou tempo, para vos conseguirem tranquilizar...

Agarrem nelas e num ambiente que não é vosso, que não é típico, que não é ninho, andem, caminhem, em silêncio, dando espaços mútuos...e depois, comecem a conversar, mas oiçam-nas como mulherzinhas, como jovens que vocês tentam entender no mundo delas e não no vosso. Percebam a importância que elas dão às coisas de que falam, percebam os medos e receios e não os desvalorizem...oiçam com atenção e retribuam com mais perguntas de curiosidade e não de sermão ou intenção, sejam da idade delas no vosso cérebro, mães no coração, e amigas na boca...não fechem o diálogo...


E um dia...somos verdadeiras amigas, mulheres, de histórias comuns...se conseguirmos caminhar estes caminhos em equilíbrio.


Vamos falando...o caminho não é fácil, mas faz-se...com muito amor e dedicação...e nisso, vocês já são prós...bora lá!

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